Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_22.html antes
de ler esta postagem:
Conforme
salientamos ao final da última postagem, os negros cristianizados do Congo
levados para Portugal somaram grande contingente.
Informações coletadas por Antônio Luís Ferronha em “As cartas do ‘rei’
do Congo D. Afonso”, a partir de carta “do corregedor português no Congo,
Manuel Pacheco, ao rei D. João III datada de 26 de março de 1536”, dão conta de
que o número de africanos capturados do reino cristão permaneceu entre 4 e 5
mil ao ano (de 1530 a março de 1536).
(...)
Uma vez que obtiveram a
permissão da Coroa para participar de “atividades pastorais” através da
Confraria de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, colocaram “a
instituição da igreja a seu serviço”.
Os congoleses criaram uma “caixa de socorro” para o
recolhimento de fundos destinados à “ajuda aos irmãos desamparados” e para
comprar alforrias daqueles que consideravam merecedores.
De tal modo os membros da confraria se empenharam em seus objetivos que
extrapolaram alguns limites... O livro cita trecho de documento (do livro IX de
“Legitimações de D. João III”, selecionados por Pedro de Azevedo em “Os
escravos”; “Arquivo Histórico Português, volume I, nº 9) a respeito da prisão,
em 1533, de um “mordomo da confraria” por encaminhar-se a cavalo “a serviço de
Nossa Senhora para forrar um escravo dez léguas fora da cidade”...
Apesar das advertências e reprimendas do começo, a
partir de 1540 a Confraria dos Homens Pretos foi agraciada com uma série de autorizações
da Coroa, principalmente as que diziam respeito à coleta de “esmolas aos
domingos pelas ruas” com o objetivo de “celebrar os cultos divinos”.
O livro destaca que a alegação descrita no parágrafo anterior foi
invocada em fevereiro de 1688 “pela Confraria de Nossa Senhora do Rosário dos
Homens Pretos de São Salvador, de Lisboa, (...) na forma dos alvarás que para
esse efeito lhes foram concedidos”.
(...)
Muitas outras concessões reais à Confraria dos Homens Pretos foram
firmadas... Em 1550, por exemplo, D. João III a dispensou “da obrigação de
prestação de contas ao Hospital Real de Lisboa das esmolas arrecadadas”. Essa
dispensa foi reafirmada por D. Sebastião em 1574.
O padre Antonio Brásio
teceu considerações a respeito em “Confraria para pretos em Lisboa” no seu ”Os
pretos em Portugal” e destacou que, quatro anos mais tarde, o mesmo D.
Sebastião deu permissão à Confraria “para recrutar por toda Lisboa negros forros
vadios e sem ofícios, e obrigá-los à prestação de serviços à Associação em
troca de assistência social”.
(...)
Os congoleses
cristianizados reafirmaram sua identidade religiosa e cultural conforme se
organizaram em torno da Confraria de Nossa senhora do Rosário dos Homens Pretos
na Igreja de São Domingos e de outras consagradas à mesma devoção.
Tinhorão
informa que nos anos 1600 os congoleses deram início à “festiva teatralidade
destinada à recuperação simbólica de sua grandeza perdida: a criação de um Reinado
do Congo”.
Desse modo, os negros devotos de Nossa Senhora do Rosário organizaram
encenações que remetiam ao remoto reino africano do Congo, à coroação do rei e
da rainha, além da nomeação de nobres...
Referências evidentes de sua
memória desde as “instruções de 1512” enviadas por D. Manuel ao “mani Mbemba a
Nzinga, D. Afonso I” através de seu representante Simão da Silveira, a tais
encenações eram incorporadas uma série de coreografias que lembravam “embaixadas
e exercícios guerreiros africanos”.
A festividade tinha o momento específico da coroação
dos reis, que se dava no interior da igreja... A “coroa real de cartão dourado”
imitava as coroas das realezas europeias, bem diferentes do “impu”, barrete
que, no Congo, representava o “poder temporal e espiritual” do mani.
A parte festiva e marcada por desfiles, simulações de batalhas e danças
ficava para o exterior da igreja.
(...)
A festividade da coroação do rei e da rainha que
ocorria em Portugal foi trazida ao Brasil pelos escravizados utilizados pela
metrópole no processo de colonização... Por aqui, as alegres cerimônias transformaram-se
“em fenômeno folclórico sob os nomes de congadas, congos ou congados”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_43.html
Leia: Rei
do Congo. Editora 34.
Um
abraço,
Prof.Gilberto