Os dois anos marcados pelo isolamento de Psique no misterioso palácio de Eros coincidiram com a recuperação do prestígio de Afrodite... De fato, Psique havia sido esquecida pelos demais mortais, que voltaram a cultuar apenas a deusa da Beleza... Aos poucos o seu altar encheu-se de oferendas que vinham de todas as partes do mundo. Ela estava muito satisfeita, pois nenhuma outra mulher podia fazer-lhe concorrência.
Podemos dizer que os planos de Eros estavam dando certo... Se não fosse a intromissão de Téssora e Magnetes, era certo que logo ele apresentaria Psique a Zeus e solicitaria o perdão divino.
Mas vimos que a bela Psique foi iludida pelas irmãs e passou a desconfiar do marido... Eros concluiu que a esposa não o amava sinceramente e a mandou embora... Arrependida e adoentada, Psique retornou ao seu país... Já as malvadas Téssora e Magnetes tiveram um amargo fim.
(...)
Então Afrodite estava exultante... Já o seu filho
amargava profunda tristeza.
É claro que os dois tinham se visto bem pouco durante os dois anos em
que ele se manteve casado com Psique. Podemos concluir que, para Afrodite,
dessa vez, Eros não havia falhado em sua tarefa (fazer sua rival mortal
desaparecer de cena casando-se com um monstro banido de Céu e Terra). Sabemos
bem como foi que o deus do Amor resolveu a situação...
Foi Afrodite quem tomou a iniciativa de falar ao filho
que estranhava a sua ausência e melancolia... Ele justificou-se de modo
enigmático dizendo que procurara inutilmente disseminar um amor em distante
paragem... A deusa era só contentamento e disse-lhe que estava muito satisfeita
por ser novamente admirada... Todos a veneravam e isso só podia ser resultado
do plano que, dessa vez, havia sido bem executado pelo filho.
(...)
Eros resolveu revelar à mãe o que estava acontecendo... Ele disse que
não havia compatibilidade entre ter de disseminar o amor e, ao mesmo tempo,
promover atos que traziam infelicidade àqueles que ela considerava inimigos. O
jovem lamentou não conseguir mudar o coração rancoroso e invejoso da própria
mãe.
Afrodite respondeu que ele não conseguia enxergar o bem que ela
procurava promover... Disse que ele parecia preferir Psique a ela. Sobre isso,
Eros deixou claro que em nada ela lembrava uma mãe... Por tratar-se de uma
imortal, era evidente que ele não havia nascido de seu ventre, mas de seus “pensamentos
mesquinhos”... Ela nunca o amamentou e seu alimento sempre foi o mesmo dos
deuses (néctar e ambrosia)... Em vez de filho, ele se sentia um escravo da
própria mãe, que sequer notara a sua falta nos dois últimos anos. E completou
garantindo que sua presença só interessava a ela se fosse para contemplar o seu
sucesso.
É claro que Afrodite não concordou com a opinião de Eros e perguntou se
ele esperava que ela se subjugasse como fazem os mortais. O jovem sintetizou
que o problema todo se concentrava exatamente neste ponto... Não sendo mortais,
os deuses não se preocupam em evoluir... Se temessem a morte procurariam
reparar os erros que cometeram ao longo da vida para chegar a um final “sem
arrependimentos”.
A deusa da Beleza entendeu que o filho estava protestando contra o que
de melhor a condição divina lhe oferecia (“visão plena dos fatos, poder inesgotável
sobre os homens”...).
Na sequência ele gritou que
queria morrer de tristeza como paga por todo o mal que causara a quem amava...
Afrodite entendeu que ele só podia ter chegado àquelas conclusões devido à
convivência com mortais... Então Eros esclareceu que nos dois últimos anos
vivera como o monstruoso marido de Psique (por isso os mortais voltaram a fazer-lhe
oferendas), mas, como tudo estava acabado, desejava a morte.
(...)
Afrodite não se conteve e disse que ele se
arrependeria pela mentira e traição ao ter amado aquela que era sua inimiga. Eros
seria julgado pelo tribunal dos deuses no Olimpo, onde certamente não teria
como escapar da condenação.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/02/eros-e-psique-partir-de-texto-de-joao.html
Leia: Eros e Psique. Coleção Mitológica. Editora Paulus.
Um abraço,
Prof.Gilberto