Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/o-estrangeiro-de-albert-camus-o-celeste.html antes
de ler esta postagem:
Mas o tipo insistiu um
manter a afronta e não lhe restou alternativa a não ser descer do coletivo e
enfrentá-lo no braço. Advertiu que era melhor o oponente se calar porque senão
quebraria a sua cara. Mas não é que o camarada continuou com sua impertinência?
Falou que duvidava... E foi então que o Raimundo Sintès lhe aplicou um soco bem
dado. O outro caiu e não quis ser ajudado pelo pugilista... Pelo contrário!
Mesmo no chão, começou a dar-lhe pontapés.
Sintès contou que na sequência deu uma joelhada e “dois bicanços”...
Esses golpes provocaram cortes profundos no oponente, que ficou com a cara
ensanguentada. Por fim perguntou-lhe se “queria mais”... A resposta foi
negativa.
(...)
O vizinho enrolou a atadura
na mão dolorida e disse ao Meursault que não tinha começado a confusão... Sua
narrativa comprovava isso. O outro quis o que procurou com as provocações.
Meursault concordou...
Sintès gostou de ouvir o julgamento do vizinho e foi lhe dizendo que queria
pedir-lhe um conselho. Acrescentou que o considerava alguém que “conhece a
vida” e, por isso, podia ajudá-lo... Disse ainda que se tornaria um amigo com
quem podia contar.
Meursault não fez nenhum
comentário e Sintès perguntou-lhe se gostaria de ser seu amigo... A resposta
foi um “tanto faz” e o pugilista mostrou-se contente por isso.
(...)
Sintès parou de falar,
pegou o chouriço e o assou... Depois organizou pratos, talheres, copos e a garrafa de vinho.
Quando começaram a comer
principiou a contar o caso para o qual queira um conselho... Disse que havia
conhecido uma mulher que acabou se tornando sua amante... Acrescentou que o
tipo com o qual havia lutado era irmão dela, que não aprovava a relação e dizia
que sabia dos boatos a respeito de sua índole de aproveitador de mulheres...
Sintès contou que respondia ao irmão da amante que tinha a consciência
tranquila, que era lojista e que essa era a sua profissão.
Sempre se dirigindo ao Meursault, esclareceu que em determinado momento
percebeu que algo estava errado na relação com a amante. É que entregava
dinheiro suficiente à mulher para que ela tivesse uma boa vida. Ele pagava o
quarto que ela usava e lhe entregava vinte francos diariamente para que se
alimentasse. De acordo com suas palavras: “trezentos francos para o quarto,
seiscentos francos para a comida, um par de meias de vez em quando, eram bem
uns mil francos por mês”... E ela nem precisava trabalhar!
O caso é que ela passou a dizer-lhe que era
insuficiente. Em resposta, ele sugeriu-lhe que arranjasse um trabalho, nem que
fosse por meio período. Isso traria um alívio às contas.
Reclamou que estava
demais... Havia comprado um vestido para ela e pagava suas despesas, no entanto
a mulher passava as tardes a tomar café com as amigas. Por isso também
falou-lhe que havia se portado bem com ela, mas “não recebia na mesma moeda”...
Ela alegava que não tinha capacidade para trabalhar. Então Sintès entendeu que
estava sendo enganado.
Ele falou ao Meursault que
certo dia encontrara um bilhete de loteria em sua bolsa... Mas ela não soube
explicar como havia conseguido dinheiro para adquiri-lo... Depois encontrou
“uma senha de casa de penhores”, o que confirmava que havia penhorado duas
pulseiras. E ele nem sabia de tais joias! Concluiu que o quarto vinha sendo
frequentado por mais alguém e por isso decidiu abandoná-la.
(...)
Sintès acrescentou que
antes de largá-la, disse-lhe umas verdades. E contou ao Meursaul exatamente o
que havia dito a ela: “Não vês que todos têm inveja da felicidade que te dou?
Ainda acabarás por ter saudades da felicidade que tinhas...”. Depois do
vaticínio espancou-a até fazê-la sangrar aos borbotões.
O tipo seguiu desabafando e
contando sobre situações bem pessoais... Falou que não era de bater na mulher,
que o fazia apenas eventualmente e “ternamente” provocando-lhe um pouco de
choro. Mas ele fechava as persianas e tudo acabava “como sempre”.
Dessa última vez havia sido
demais e, em sua opinião, ainda não a castigara como merecia.
Chegou
a este ponto da narrativa e disse que “era por isso que precisava de um
conselho”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/o-estrangeiro-de-albert-camus-vinhos.html
Leia: “O
Estrangeiro”. Editora Abril.
Um
abraço,
Prof.Gilberto