sábado, 8 de maio de 2021

“O Estrangeiro”, de Albert Camus – fim do dia do sepultamento, vagas lembranças e retorno a Argel; o “acaso emendou quatro dias de folga”; um banho de mar depois de dias estafantes; encontro com Maria Cardona, antiga “paquera do escritório”; a gravata de enlutado; diversão e encontro marcado para a sessão noturna de cinema; carícias e prolongamento do encontro promissor

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/o-estrangeiro-de-albert-camus-o-cortejo.html antes de ler esta postagem:

A respeito da consideração da enfermeira sobre a dificuldade do cortejo fúnebre durante os dias mais quentes, Meursault pensou que se tratava de “um beco sem saída”.
Dos eventos que marcaram o enterro de sua mãe, o rapaz ainda se lembrava do velho Perez, quando este conseguiu finalmente alcançar o cortejo já nas proximidades da aldeia... Seu rosto estava lavado de “grossas lágrimas” que podiam ser de nervosismo e de tristeza. As rugas do homem impediam que elas escorressem e davam-lhe um aspecto de “cara arruinada”.
Além dessa dramática visão do amigo de sua falecida mãe, Meursault lembrava-se da igreja, dos aldeões em seus afazeres, “os gerânios vermelhos nos jazigos do cemitério”... Perez desmaiou, talvez por não suportar o momento em que atiravam “a terra vermelha para cima do caixão”... E lembrava-se de outros tantos pequenos detalhes: mais e mais pessoas em seus caminhos, “vozes, a aldeia, a espera diante de um café, o incessante roncar do motor”...
(...)
O motor anteriormente citado é o do ônibus que o levou de volta a Argel... Recordava-se da alegria de retornar ao “ninho de luzes da cidade” e de ter a impressão de que cairia num profundo sono de umas doze horas seguidas.
Só quando despertou no dia seguinte é que atinou para o fato de ser um sábado. Talvez pelo fato de o subordinado emendar quatro dias de folga, o chefe tivesse se aborrecido ao conceder-lhe os dois dias de licença. Isso fez Meursault pensar novamente que “não tinha culpa” de o enterro ter ocorrido na sexta-feira.
Como o dia anterior havia sido muito cansativo, teve dificuldade para levantar-se da cama... Enquanto fazia a barba pensou no que faria assim que se arrumasse. Decidiu que iria à praia para um bom banho de mar.
(...)
E foi isso o que acabou acontecendo...
Tomou uma condução que o levou ao “estabelecimento de banhos do porto”. Logo atirou-se ao mar e notou grande quantidade de rapazes e moças se divertindo.
Para sua surpresa, entre um e outro mergulho encontrou uma antiga colega de escritório na água, a datilógrafa Maria Cardona... Uma surpresa agradável, pois Meursault havia gostado da moça tempos atrás, e desconfiava mesmo que ela nutrisse por ele algum interesse também. Naquela época nada demais aconteceu entre os dois porque logo a Cardona deixou o trabalho.
A moça brincava com uma boia e o rapaz ajudou-a a subir. Com a movimentação acabou tocando-lhe os seios. Ela sorriu e ele decidiu deitar-se ao seu lado no acessório. Meursault experimentou deixar a cabeça acomodada sobre a amiga, e como ela não manifestou nenhuma contrariedade permitiu-se descansar.
O dia estava muito bonito e desde a posição que ocupava, podia contemplar o lindo e imenso céu “azul e dourado”. Logo abaixo da cabeça podia sentir o “suave latejar” do corpo da Maria... Tão preguiçosamente se acomodaram que em pouco ficaram “meio adormecidos”.
O dia tornou-se ainda mais quente... Maria mergulhou e Meursault a seguiu. Alcançou-a, abraçou-a na cintura e nadaram juntos. Ela não escondeu que estava gostando e ria-se a valer.
(...)
Os jovens deixaram o mar.
Enquanto se secavam, Maria observou que havia se queimado mais do que ele... Meursault quis saber se ela gostaria de ir ao cinema à noite. Ela sorriu e afirmou que gostaria de “ver um filme com o Fernandel”.
Depois de vestidos, Maria observou que o colega tinha uma gravata preta e, admirada, quis saber se ele estava enlutado. Meursault respondeu que a mãe havia morrido. Ela perguntou há quanto tempo... “Morreu ontem”.
Ao ouvir a resposta, a moça fez rápido movimento de recuo, mas não disse mais nada a respeito... Meursault teve vontade de dizer-lhe que “não era culpado”, mas desistiu ao lembrar-se de ter dito o mesmo ao chefe e de não ter se sentido muito bem por isso. O fato é que a conversa gerava uma atmosfera em que se sentia com ares de quem tem “um pouco de culpa”.
(...)
A noite chegou e Maria parecia não se lembrar da conversa que tiveram após o banho de mar... Sobre o filme que assistiram, Meursault achou algumas cenas engraçadas e outras bem “idiotas”.
Durante a sessão, o rapaz aproveitou para encostar a perna à dela e acariciou os seios da moça...
Beijou-a antes de as luzes se acenderem novamente.
Por fim, Maria aceitou ir à sua casa.
Leia: “O Estrangeiro”. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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