Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/o-estrangeiro-de-albert-camus.html antes
de ler esta postagem:
Após
ouvir as badaladas do sino, Meursault viu pelas janelas que o interior do prédio
esteve em intensa movimentação. Mas logo “tudo se acalmou”. O dia já ia
consideravelmente adiantado e ele sentiu os pés aquecidos pelo calor solar.
O porteiro cruzou o pátio e chegou até ele para comunicar que o diretor
o aguardava no escritório. Enquanto assinava alguns documentos, notou que o
homem trajava preto e tratava por telefone com o pessoal da agência funerária.
O diretor disse-lhe que os
empregados da agência já estavam no asilo e lhes pediria que fechassem o
caixão. Acaso queria ver a mãe uma última vez? Meursault respondeu que não.
Ainda ao telefone, o diretor pronunciou uma ordem a
certo Bigeac, “diga aos homens que podem ir”... Depois, voltando-se ao rapaz,
disse que assistiria ao sepultamento.
(...)
Meursault agradeceu. O tipo sentou-se à escrivaninha e informou que normalmente
apenas os dois e a enfermeira de serviço estariam presentes. Disse que os velhos
pensionistas “não deviam assistir aos enterros” e que tinham sua autorização
apenas para participar do velório. Disse ainda que se tratava de “uma questão
de humanidade”. Ia finalizar, mas acrescentou que, excepcionalmente, autorizara
um velho amigo da mãe, certo Tomás Perez a participar do sepultamento.
O diretor sorriu neste ponto e observou ao Meursault
que talvez ele não compreendesse... O caso é que se tratava de “um sentimento
um pouco infantil” e que o velho Perez e a mãe “andavam sempre juntos”. E de tal
modo acostumaram-se um ao outro que os demais diziam a ele que ela era “a sua
noiva”. Essas brincadeiras agradavam ao velho, que costumava rir quando lhe
falavam... Então estava claro que a morte da companheira o afetara e é por isso
que o diretor não lhe recusou a autorização, embora, por aconselhamento médico,
ele o proibira de participar do velório.
(...)
Meursault manteve-se calado. O outro resolveu parar de falar e os dois permaneceram-se
em silêncio até que o diretor notou pela janela que o padre de Marengo havia
chegado.
O padre estava adiantado... O diretor lembrou que eram necessários pelo
menos quarenta e cinco minutos para se chegar à igreja. Os dois desceram...
O padre vinha acompanhado
de dois acólitos. Estavam diante do prédio e um dos ajudantes “segurava um
turíbulo de incenso” que estava sendo ajustado pelo sacerdote... Assim que o
religioso percebeu a chegada de Meursault, tratou-o por “meu filho” e disse-lhe
algumas palavras.
Depois o padre entrou na
morgue com seus ajudantes e foi seguido pelo diretor e por Meursault... Este
logo notou “que os parafusos do caixão estavam apertados” e que quatro homens
que trajavam preto estavam na sala. O diretor falou-lhe que o veículo funerário
já estava estacionado na estrada e pronto para o translado.
Não
demorou e o padre deu início às orações conforme o costume.
(...)
Depois tudo se deu muito rapidamente... Os homens de preto se
aproximaram do caixão enquanto o padre, seus dois acólitos, o diretor e Meursault
se retiraram.
Junto à porta estava uma
mulher que o rapaz ainda não conhecera... O diretor o mostrou a ela anunciando “o
Sr, Meursault”. Este não ouviu o nome da mulher, mas entendeu que se tratava da
“enfermeira delegada”, que não sorriu no momento da apresentação e que tinha
uma “cara ossuda e comprida”.
Os empregados da funerária passaram com o caixão e foram
seguidos pelos demais que participavam da celebração fúnebre. Logo saíram do
asilo e chegaram no ponto onde estava o carro funerário “comprido e reluzente”.
Junto ao veículo estava, além do mestre de cerimônias, que se vestia de modo ridículo,
um velho de “ares embaraçados”.
Meursault entendeu que o velho só podia ser o Sr. Perez. Viu que o homem
“tinha um chapéu mole, de copa arredondada e abas largas” e o tirou da cabeça
tão logo o caixão havia passado pela porta. Suas roupas pareciam ser de um
número maior do que o que devia usar, pois as “calças caíam sobre os sapatos”...
Sua gravata preta, em contraste, era pequena “para a sua camisa com um grande
colarinho branco”.
Ainda a respeito do Sr. Perez, Meursault ressalta que
ele tinha os beiços tremendo... Seu nariz era repleto de “pontos negros” e seus
“cabelos brancos, bastante finos, deixavam-lhe passar umas curiosas orelhas
balançantes e mal acabadas”.
As orelhas eram muito avermelhadas, um “vermelho
sanguíneo” que impressionaram o rapaz ainda mais porque as faces do velho eram
bem pálidas.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/o-estrangeiro-de-albert-camus-o-cortejo.html
Leia: “O
Estrangeiro”. Editora Abril.
Um
abraço,
Prof.Gilberto