segunda-feira, 3 de maio de 2021

“O Estrangeiro”, de Albert Camus – as horas se passaram e no interior do prédio notou-se breve agitação; assinando os últimos papéis na sala do diretor; o velho Sr. Perez foi autorizado a participar da cerimônia de sepultamento; o padre e seus acólitos; a “enfermeira delegada” e sua pouca receptividade; os funcionários da funerária e seus trajes insuspeitos; caracterizando o Sr. Perez

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/o-estrangeiro-de-albert-camus.html antes de ler esta postagem:

Após ouvir as badaladas do sino, Meursault viu pelas janelas que o interior do prédio esteve em intensa movimentação. Mas logo “tudo se acalmou”. O dia já ia consideravelmente adiantado e ele sentiu os pés aquecidos pelo calor solar.
O porteiro cruzou o pátio e chegou até ele para comunicar que o diretor o aguardava no escritório. Enquanto assinava alguns documentos, notou que o homem trajava preto e tratava por telefone com o pessoal da agência funerária.
O diretor disse-lhe que os empregados da agência já estavam no asilo e lhes pediria que fechassem o caixão. Acaso queria ver a mãe uma última vez? Meursault respondeu que não.
Ainda ao telefone, o diretor pronunciou uma ordem a certo Bigeac, “diga aos homens que podem ir”... Depois, voltando-se ao rapaz, disse que assistiria ao sepultamento.
(...)
Meursault agradeceu. O tipo sentou-se à escrivaninha e informou que normalmente apenas os dois e a enfermeira de serviço estariam presentes. Disse que os velhos pensionistas “não deviam assistir aos enterros” e que tinham sua autorização apenas para participar do velório. Disse ainda que se tratava de “uma questão de humanidade”. Ia finalizar, mas acrescentou que, excepcionalmente, autorizara um velho amigo da mãe, certo Tomás Perez a participar do sepultamento.
O diretor sorriu neste ponto e observou ao Meursault que talvez ele não compreendesse... O caso é que se tratava de “um sentimento um pouco infantil” e que o velho Perez e a mãe “andavam sempre juntos”. E de tal modo acostumaram-se um ao outro que os demais diziam a ele que ela era “a sua noiva”. Essas brincadeiras agradavam ao velho, que costumava rir quando lhe falavam... Então estava claro que a morte da companheira o afetara e é por isso que o diretor não lhe recusou a autorização, embora, por aconselhamento médico, ele o proibira de participar do velório.
(...)
Meursault manteve-se calado. O outro resolveu parar de falar e os dois permaneceram-se em silêncio até que o diretor notou pela janela que o padre de Marengo havia chegado.
O padre estava adiantado... O diretor lembrou que eram necessários pelo menos quarenta e cinco minutos para se chegar à igreja. Os dois desceram...
O padre vinha acompanhado de dois acólitos. Estavam diante do prédio e um dos ajudantes “segurava um turíbulo de incenso” que estava sendo ajustado pelo sacerdote... Assim que o religioso percebeu a chegada de Meursault, tratou-o por “meu filho” e disse-lhe algumas palavras.
Depois o padre entrou na morgue com seus ajudantes e foi seguido pelo diretor e por Meursault... Este logo notou “que os parafusos do caixão estavam apertados” e que quatro homens que trajavam preto estavam na sala. O diretor falou-lhe que o veículo funerário já estava estacionado na estrada e pronto para o translado.
Não demorou e o padre deu início às orações conforme o costume.
(...)
Depois tudo se deu muito rapidamente... Os homens de preto se aproximaram do caixão enquanto o padre, seus dois acólitos, o diretor e Meursault se retiraram.
Junto à porta estava uma mulher que o rapaz ainda não conhecera... O diretor o mostrou a ela anunciando “o Sr, Meursault”. Este não ouviu o nome da mulher, mas entendeu que se tratava da “enfermeira delegada”, que não sorriu no momento da apresentação e que tinha uma “cara ossuda e comprida”.
Os empregados da funerária passaram com o caixão e foram seguidos pelos demais que participavam da celebração fúnebre. Logo saíram do asilo e chegaram no ponto onde estava o carro funerário “comprido e reluzente”. Junto ao veículo estava, além do mestre de cerimônias, que se vestia de modo ridículo, um velho de “ares embaraçados”.
Meursault entendeu que o velho só podia ser o Sr. Perez. Viu que o homem “tinha um chapéu mole, de copa arredondada e abas largas” e o tirou da cabeça tão logo o caixão havia passado pela porta. Suas roupas pareciam ser de um número maior do que o que devia usar, pois as “calças caíam sobre os sapatos”... Sua gravata preta, em contraste, era pequena “para a sua camisa com um grande colarinho branco”.
Ainda a respeito do Sr. Perez, Meursault ressalta que ele tinha os beiços tremendo... Seu nariz era repleto de “pontos negros” e seus “cabelos brancos, bastante finos, deixavam-lhe passar umas curiosas orelhas balançantes e mal acabadas”.
As orelhas eram muito avermelhadas, um “vermelho sanguíneo” que impressionaram o rapaz ainda mais porque as faces do velho eram bem pálidas.
Leia: “O Estrangeiro”. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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