terça-feira, 28 de dezembro de 2010

"Racismo na obra de Lobato", uma polêmica "revisitada"

Todos aí sabem que há uma “revisitada” polêmica em torno do racismo na obra de Monteiro Lobato. Outros clássicos autores, de outros países, também são alvo de frequentes discussões. Isso ocorre de tempos em tempos... É como se as gerações mais novas fizessem uma revisão nos conceitos tidos como aceitos pelas anteriores... A obra de Mark Twain (representado abaixo com seus personagens e o Mississipi ao fundo, clássico norte-americano) é um desses exemplos.

Nesses casos há sempre os que se posicionam de modo mais radical e, de modo inflamado, pregam até mesmo o banimento dos escritores e seus textos. Outros são os que argumentam sobre as necessidades de contextualização dos autores e de suas obras...

É, porque nossa realidade é bem diferente daquela vivenciada por Lobato, nem é preciso insistir nisso. Você até pode dizer que (hoje) a cidadania ainda não é fato, que há muitos erros, sobretudo daqueles que deviam dar o exemplo a partir do poder que exercem. Mas há em nossa sociedade um desejo de que as atitudes de intolerância e outros abusos sejam cada vez mais repudiadas e punidas na forma da Lei.

O texto mais discutido tem sido o Caçadas de Pedrinho, que eu ainda não li, mas posso “mensurar” o debate com base nos conteúdos de outros livros do Lobato. Para quem tiver curiosidade, tempos atrás escrevi algo aqui mesmo (http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2010/10/sobre-chave-do-tamanho-de-monteiro.html).

Acabei de ler Viagem ao Céu, sobre o qual pretendo escrever aqui e no blog da Emef Teodomiro. É possível (se quisermos) tratar só dos aspectos preconceituosos neste e em qualquer outro texto, já que neles notamos inadmissíveis tratamentos dispensados à Tia Anastácia... Mas é claro que não teremos a menor possibilidade de um efetivo esclarecimento, já que não podemos debater com o autor em seu tempo e espaço.

Mas e então? Vamos defenestrar o Lobato, sua História e seus textos para o público infanto-juvenil? O Conselho Nacional de Educação, através do Parecer 152010 orienta os educadores do país em relação à contextualização que a obra e a nossa sociedade merecem. Mesmo essa atitude provoca a indignação de vários setores, que vêem nela autoritarismo e censura... Como se nota, a polêmica é pesada mesmo.

Há um abaixo-assinado em apoio a este perecer. O site da Apeoesp (apeoesp.org.br) está divulgando e se posicionando favoravelmente. Eu o assinei e deixo o link abaixo para quem se dispuser ao mesmo.


Um abraço,
Prof.Gilberto

domingo, 26 de dezembro de 2010

Felicitações à comunidade Teodomiro Toledo Piza

Ontem, dia 25/12, postei algumas considerações apenas no blog da Emef Teodomiro. Segue aqui o que lá foi publicado:
Hoje não é dia de ficar explicando as datas e tomando o tempo das pessoas com textos didáticos... Todos nós sabemos o que celebramos no Natal. Devemos aproveitar a ocasião para nos fortalecermos com os sentimentos de solidariedade, afeto e de desejo que a Paz reine em nossa família e comunidade.

Estamos de férias e curtindo as reuniões de família e os últimos dias de 2010. É tempo de descansar bastante, de viajar... De ajudar nos afazeres de casa...

Também é tempo de ler... Todos já receberam alguns livros interessantes que podem ser apreciados nessas férias. Ler um pouquinho por dia será muito bom.

É tempo de pensarmos sobre o último ano de estudos... O que foi positivo? Em quê devemos melhorar? Quanta coisa boa está acontecendo na escola! Há a reforma, os ventiladores... Até a mudança do sinal foi muito legal... O Grêmio estudantail que está vindo com tudo em 2011... Também tivemos os passeios e as competições...

Gostei muito de ter participado das publicações no blog da escola. Espero participar mais no ano que vem e que vocês também continuem curtindo as postagens, aprendendo com elas, comentando, sugerindo...

Um abraço,

Prof.Gilberto

Mais limitações deste blog

Talvez seja interessante acessar este link antes de ler a postagem de hoje: http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2010/10/este-blog-possui-muitas-limitacoes.html

As postagens aqui têm esse caráter de apresentar memórias de atividades e trabalhos na Educação Pública em São Paulo. Muitas vezes queremos compartilhar as experiências que deram certo ou proporcionaram debates interessantes... Na maioria das vezes elas são resultado do exercício de autonomia na elaboração de projetos e planos de aulas. A busca de textos, documentários e materiais diversos impulsionou esse trabalho todo. Nem tudo está documentado, então, às vezes temos de recorrer a certa elaboração para sugerir aqui... O desejo é o de partilhar com colegas, ao mesmo tempo receber contribuições deles. Tudo o que está aqui é passível de ser aproveitado, criticado ou rejeitado por outros.

Mas recentemente deparei-me com algumas dúvidas. E tive de pesquisar um pouco para não incorrer em erros. Um dos exemplos é publicar fragmentos de textos que não são meus. Ora, embora eu os tenha selecionado e gostasse que outros pudessem apreciar, fica sempre uma incerteza em relação à autorização de quem escreveu o texto original. Uma coisa é você expressar o seu entendimento, sua interpretação em relação a determinado material... Outra é reproduzi-lo mesmo que parcialmente. É por isso que andei alterando algumas postagens anteriores. Se por acaso alguém quiser maiores detalhes de materiais que divulgo aqui, pode solicitar por e-mail.

Todos devem saber que esse ambiente de Rede Virtual proporciona livre circulação de conteúdos. Eu tenho essa consciência de que o que é tornado público aqui vai deixando de ser exclusivamente meu... Mas temos limites em relação ao que é dos outros. Sempre registrei meu apreço aos materiais e autores que escolhi. Penso que, longe de polemizar, a intenção aqui sempre foi a de aglutinar e disseminar bons materiais e ideias didático-pedagógicas.


Um abraço,

Prof.Gilberto

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Questão sobre fragmentos de O Pequeno Príncipe - O quinto planeta

Conforme havia afirmado na última postagem (http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2010/12/o-pequeno-principe-fragmentos.html), por hoje estou deixando aqui a questão que a professora Mariana Sales propôs para a reflexão de O quinto planeta, fragmentos de O Pequeno Príncipe. Segue, ainda, a reposta que formulei para aquela ocasião...

É claro que os fragmentos sugeridos podem nos levar a várias interpretações, inclusive aquelas sobre o difícil convívio com os demais, os egoísmos, as vaidades... Aqui, o foco é o do trabalho e a submissão da pessoa à produção. Veremos que minha redação de outubro de 2007 pode ser relacionada a outros textos tratados neste blog (notadamente em http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2010/12/questoes-para-reflexao-sobre-os.html)... A resposta para a questão é muito maior do que aqui aparece. Em primeiro lugar porque a leitura da íntegra seria enfadonha... Depois porque a parte que destaquei é de mais fácil análise...

Segue a questão formulada pela professora Mariana:
Faça uma análise do fragmento de texto do Pequeno Príncipe com uma breve reflexão sobre o tema do trabalho.

A resposta:
(...)

O fragmento de “O Pequeno Príncipe” mostra-nos o seu contato com uma espécie homo faber alienado. Temos uma “alegoria do trabalhador condicionado”, que dia após dia repete os seus movimentos sem maiores indagações. As atividades que desenvolve (acender e apagar o lampião) são tão repetidas e determinadas por certos estímulos que ele mal percebe... Sequer descansa!

Os estímulos recebidos são o alvorecer e o por do Sol. Ao por do Sol ele acende o lampião e, ao alvorecer, deve apagá-lo. O seu drama tem a ver com a “breve” órbita regular que o seu planeta desenvolve, de modo que, quando o Pequeno Príncipe o encontra, os dias e noites são muito curtos e sucedem-se tão rapidamente que durante poucos minutos de conversa ele teve de acender e apagar o lampião por diversas vezes.

A “alegoria” do acendedor de lampião lembra-nos a figura do Charles Chaplin na fábrica de Tempos Modernos. Tão condicionado tornou-se às atividades, que o seu corpo e seus gestos eram quase uma extensão da própria máquina. No limite, o trabalhador “desumaniza-se”, enlouquece, não mais se relaciona. Aquele que quer encontrar um amigo, um alguém com quem possa compartilhar a existência, as alegrias e fardos (o Pequeno Príncipe) não consegue entender por que o tipo só dá atenção às suas atividades tão reguladas pelos estímulos condicionadores.

O que está condicionado ao “acender e apagar” lampião só pode mesmo viver no isolamento de um “planetinha”, do qual ele parece ser a extensão, já que limitado está às obrigações do "regulamento" que deve obedecer. E é isso o que faz há muito tempo e o que continuará a fazer.

Um abraço,

Prof.Gilberto

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O Pequeno Príncipe - fragmentos selecionados - Antoine de Saint-Exupéry


Por hoje estou deixando esses fragmentos de O Pequeno Príncipe. Eles foram selecionados pela professora Mariana Sales, por ocasião do Módulo “Trabalho e Cidadania”, em curso da Unicamp, que ministrou... Depois vou destacar uma questão que ela elaborou e a resposta que formulei àquela época (outubro de 2007).


Seguem os fragmentos:

O quinto planeta era muito curioso. Era o menor de todos. Mal dava para um lampião e o acendedor de lampiões... O principezinho não podia atinar para que pudessem servir, no céu, num planeta sem casa e sem gente, um lampião e o acendedor de lampiões. No entanto, disse consigo mesmo:

– Talvez esse homem seja mesmo absurdo. No entanto, é menos absurdo que o rei, que o vaidoso, que o homem de negócios, que o beberrão. Seu trabalho ao menos tem um sentido. Quando acende o lampião, é como se fizesse nascer mais uma estrela, mais uma flor. Quando o apaga, porém, é estrela ou flor que adormecem. É uma ocupação bonita. E é útil, porque é bonita.

Quando abordou o planeta, saudou respeitosamente o acendedor:

– Bom dia. Por que acabas de apagar teu lampião?

– É o regulamento, respondeu o acendedor. Bom dia.

– Que é o regulamento ?
– É apagar meu lampião. Boa noite. E tornou a acender.

– Mas por que acabas de o acender de novo?

– É o regulamento, respondeu o acendedor.

– Eu não compreendo, disse o principezinho.

– Não é para compreender, disse o acendedor. Regulamento é regulamento. Bom dia.

E apagou o lampião.

Em seguida enxugou a fronte num lenço de quadrinhos vermelhos.

– Eu executo uma tarefa terrível. Antigamente era razoável. Apagava de manhã e acendia à noite. Tinha o resto do dia para descansar e o resto da noite para dormir...

– E depois disso, mudou o regulamento?

– O regulamento não mudou, disse o acendedor. Aí é que está o drama! O planeta de ano em ano gira mais depressa, e o regulamento não muda!

– E então? disse o principezinho.

– Agora, que ele dá uma volta por minuto, não tenho mais um segundo de repouso. Acendo e apago uma vez por minuto!

– Ah! que engraçado! Os dias aqui duram um minuto!

– Não é nada engraçado, disse o acendedor. Já faz um mês que estamos conversando.

– Um mês ?

– Sim. Trinta minutos. Trinta dias. Boa noite. E acendeu o lampião.

O principezinho considerou–o, e amou aquele acendedor tão fiel ao regulamento. Lembrou–se dos pores–do–sol que ele mesmo produzia, recuando um pouco a cadeira. Quis ajudar o amigo.

– Sabes ? Eu sei de um modo de descansar quando quiseres...

– Eu sempre quero, disse o acendedor.

Pois a gente pode ser, ao mesmo tempo, fiel e preguiçoso.

E o principezinho prosseguiu:

– Teu planeta é tão pequeno, que podes, com três passos, dar–lhe a volta. Basta andares lentamente, bem lentamente, de modo a ficares sempre ao sol. Quando quiseres descansar, caminharás... e o dia durará quanto queiras.

– Isso não adianta muito, disse o acendedor. O que eu gosto mais na vida é de dormir.

– Então não há remédio, disse o principezinho.

– Não há remédio, disse o acendedor. Bom dia. E apagou seu lampião.

Esse aí, disse para si o principezinho, ao prosseguir a viagem para mais longe, esse aí seria desprezado por todos os outros, o rei, o vaidoso, o beberrão, o homem de negócios. No entanto, é o único que não me parece ridículo. Talvez porque é o único que se ocupa de outra coisa que não seja ele próprio.

Suspirou de pesar e disse ainda:

– Era o único que eu podia ter feito meu amigo. Mas seu planeta é mesmo pequeno demais. Não há lugar para dois...


Um abraço,
Prof.Gilberto
Leia: O Pequeno Príncipe. Editora Agir.

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