terça-feira, 19 de agosto de 2014

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Josette e uma novidade que divulgara à revista “L’Eve Moderne”; o preço da liberdade; embriagando-se com champanha; fim do capítulo VII

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-na.html antes de ler esta postagem:

Henri demoraria a se embriagar se permanecessem bebericando champanha, mas não desconsiderou a sugestão... Josette pediu que ele não se zangasse com o que tinha a revelar...
Ela contou-lhe que tinha concedido uma entrevista à revista L’Eve Moderne e que insistiam em querer saber da constante proximidade entre ambos... Ela decidiu declarar que estavam noivos... E justificou dizendo que notícia lhe daria “mais importância”.
Josette abriu sua bolsa cheia de lantejoulas e retirou um exemplar do periódico... Enquanto Henri analisava as fotografias, ela deixava claro que não precisariam se casar, pois assim que ele julgasse propício poderiam anunciar o rompimento...
Henri sorriu... Viu que não estava mal numa das fotografias...
Por dentro pensava na sua condição de momento... Era demais estar ali entre aqueles tipos a bebericar champanha na companhia de sua atriz exposta pelo generoso decote de seu vestido verde.
Era demais... Só lhe faltava isso mesmo... Todos saberiam de seu “casamento para breve”... Arranjaram-lhe um casamento... Deviam mesmo comentar a respeito de seu cotidiano marcado pelas noitadas regadas a champanha; um tipo vendido à América; frequentador dos ambientes mais chiques...
Não havia como não assumir. Aquele era mesmo ele “bem situado” entre amigas e amigos de Lulu Belhomme.
(...)
Seu silêncio levou Josette a perguntar-lhe se estava zangado com sua iniciativa. Ele respondeu que não...
Estava pensando que não devia satisfação a ninguém... Atraía sobre si “todos os erros”... Mas e daí? “Essa era a verdadeira liberdade”.
(...)
Convidou Josette para a pista de dança... Ela quis saber se ele se aborrecia por vê-la triste... Henri bem sabia que ela não andava muito animada... Ela fez questão de garantir que ele não tinha nada a ver com o seu estado de espírito...
Henri não admitia ver a namorada desanimada... Explicou que não havia motivos, pois era certo que a peça tinha ótima repercussão... Ela destampou a falar que esperava que tudo fosse diferente depois da grande estreia... Isso incluía ser valorizada e respeitada por todos, inclusive pela mãe...
(...)
Josette falou sobre uma paixão que havia despertado nos tempos de pensionato, quando ainda era uma adolescente... Era algo que pertencia ao passado...
Henri perguntou se entre ele e ela havia um “sentimento mágico”... Em seus pensamentos queria entender o que representava para ela... Josette respondeu que ele era, de fato, gentil, dizia coisas agradáveis... Mas não era “para sempre”...
Ele insistiu ao querer saber mais a respeito do tipo que se apaixonara por ela no passado... Josette contou que ele partiu para a América, onde morreu... Teria morrido apaixonado?
(...)
O casal retornou à mesa... Henri dedicou-se à bebedeira e aos poucos se embriagou... Voltou-se à Josette e comentou alegremente sobre os personagens da mesa... Ele os via a todos como animais (chimpanzé, cão, avestruz, foca, girafa...)... Josette não o entendia... Então eles mesmos pertenciam a espécies diferentes?
Henri não se continha em suas “visões de bêbado”... E a vontade de esbofetear Dudule? E que tal lascar um beijo em Lucie Belhomme?
Josette admirou-se com a extravagância de Henri e tentava impedi-lo de fazer qualquer besteira... Nunca o vira naquele estado...
(...)
Henri arrastou-a novamente para a pista e dançaram o resto da noite... Certo Jean-Claude Sylvère chegou à boate... Josette comentou que aquilo era um sinal de que o lugar era de “alto nível”... É por isso que precisavam retornar outras vezes.
Henri estava com o físico esgotado... Não ouvia mais nada e o seu estômago estava embrulhado... Mesmo assim calculou que não teria dificuldade em continuar a frequentar o grupo... Não se bebia uísque entre eles... Todavia a champanha causava o seu efeito.
Sim... Ele respondeu que, de fato, a boate merecia ser visitada outras vezes... Fariam isso.
Fim do capítulo VII.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – na boate com o grupo de Lucie Belhomme; congratulações e sentimento de solidão

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O que diriam Lambert, Vincent, Volange, Lachaume, Paule, Anne, Dubreuilh, Samazelle e Luc? Por dentro, Henri sentia-se envergonhado... Sabia que não tinha razão... Mas estava brigado com Dubreuilh, desautorizado pelo SRL, considerado traidor por L’Enclume e por todos os comunistas...
(...)
Qual o remédio? Pensando em Scriassine, deu-lhe razão... Henri encheu o copo e decidiu embriagar-se... Divertir-se...
A mãe de Josette disse-lhe que ele havia sido muito corajoso por “denunciar todos aqueles horrores”... Ele respondeu que “atacar a URSS” não proporcionava nenhuma reação terrorista contrária, assim não era digno de tantos elogios... Belhomme completou seu pensamento ressaltando que Henri tinha lugar certo entre os esquerdistas, mas com aquela denúncia acabaria vivenciando muitos problemas.
Talvez ironizando, Henri respondeu que poderia pensar que o episódio ainda lhe proporcionaria “arranjos” com o pessoal da direita... Dudule se intrometeu dizendo que “esquerda” e “direita” eram noções superadas, que só atrapalhavam o processo político... Para ele, o país devia compreender que a “colaboração entre capital e trabalho” era necessária... Parabenizou Henri pela “reconciliação” entre aqueles dois fatores.
(...)
Ser felicitado por “gente daquela qualidade” era o “pior tipo de solidão”... Claudie emendou com satisfação que Dubreuilh “devia estar espumando”; Lulu Belhomme quis também gozar da figura de Anne ao perguntar a todos com quem ela dormiria, pois “Dubreuilh era quase um velho”...
É claro que Henri não tinha como responder àquela curiosidade...
Lucie prosseguiu destilando o seu veneno e fez referência à ocasião em que Anne apareceu em uma das reuniões das amigas... Relatou que se tratava de “uma bela convencida”, que fazia questão de se apresentar com trajes que tinham a única intenção de revelar a sua identidade socialista...
Era na qualidade de quem “viajou por todo o mundo” que Dudule se manifestava... Para ele, “Portugal era um paraíso”. O que Henri poderia dizer? Ele mesmo escolhera estar naquele meio... Concluía apenas que aqueles tipos consideravam a riqueza um mérito e que mereciam o que possuíam.
(...)
Josette se acomodou ao seu lado. A moça trajava um “vestido verde, generosamente decotado”.
Henri pensou que, para alguém que pretendia evitar os olhares e assédios masculinos, ela expunha muito de si... É certo que não apreciava aquela atitude...
Conversaram sobre a peça e a apresentação daquela noite... Tudo correra bem mais uma vez e a carreira de Josette tinha tudo para despontar.
Ela comentou sobre certa Felícia Lopez, que estava numa mesa mais ao fundo... Comentou que a outra estava muito bem arrumada e que era mesmo muito bonita. Neste ponto, Lucie Belhomme chamou-lhe a atenção ao dizer que ela não devia dar a sua opinião a respeito da beleza de outra mulher na presença de um homem porque este poderia considerá-la menos interessante...
Henri respondeu que Josette não tinha por que temer.
Lulu sugeriu que ele oferecesse bebida à filha... Talvez ela se animasse mais.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

domingo, 17 de agosto de 2014

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – não há como se defender da desconfiança e da repulsa dos Dubreuilh; Henri se vê entre os amigos de Belhomme; depravação e conservadorismo extremado

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_35.html antes de ler esta postagem:

Henri retornou para casa e o seu pensamento voltou-se completamente para as palavras que Nadine havia lhe dito...
(...)
Era melhor que procedessem como Lachaume, cujo texto o “arrastava para a lama”... Pelo menos o rapaz tinha sido mais sincero... Henri pensou em Dubreuilh, Anne e Nadine no seu cotidiano a falarem a seu respeito... Como se defender de tipos que desconfiam de você? Henri sentia-se um tipo a quem censuravam por “ter uma vida particular”...
Que situação! Até um criminoso podia tentar se defender, apresentar desculpas... Mas ele...
Ele não podia esconder que gostava da vida, “de sua vida particular”. Ao mesmo tempo percebia-se “farto de política”... Estava farto de, “a cada sacrifício” que fazia, exigirem-lhe novos deveres...
Exigiram-lhe L’Espoir, e agora implicavam com os “seus prazeres e desejos”.
(...)
“Em nome de quê”? Já que tinha de tomar uma decisão, achou por bem “deixar de inibições” para agir como lhe aprouvesse... Bateram-lhe tanto que não ligava mais nenhuma importância.
(...)
À noite, ele reuniu-se a Lucie Belhomme, Claudie de Belzunce e os tipos que faziam parte daquela roda social tão criticada pela esquerda... Ele mesmo se perguntou sobre o que fazia ali a bebericar daquela “bebida muito doce”... Não havia nada ali que ele pudesse dizer que gostava (champanha, lustres, espelhos, veludos das banquetas, mulheres com suas “peles gastas”...). E aqueles tipos? Lucie e seu “amante oficial” Dudule, Claudie, Vernon... Nenhum vínculo! E o atorzinho, Ruéri, identificado como amante de Vernon... Definitivamente nenhuma conexão!
A conversa girava em torno das aventuras sexuais das amigas de Claudie, que não se importava de falar dos detalhes de situações que faziam rir homens e mulheres... Claudie sabia ser grosseira... Até Lulu se sentia constrangida com a sua ousadia ao querer mostrar-se depravada.
(...)
Lulu Belhomme perguntou a Henri sobre o que ele pensava a respeito da participação de Ruéri em sua peça... Segundo ela, o mocinho ficaria muito bem no “papel de marido”... Henri ficou sem entender a sugestão... Lulu insistiu que ele faria o papel de “marido de Josette”...
Henri quis demonstrar que aquilo era ridículo, já que o “marido de Josette” morria logo no começo da peça... Surpreendentemente, a mulher ousou disparar que a história narrada por ele era muito triste... O enredo seria alterado para o cinema, e Brieux (o diretor) daria um jeito de o personagem escapar, fugir para o maqui e, no final, voltar aos braços de Josette, que seria perdoada por ele.
É claro que Henri protestou. Disse que Brieux filmaria exatamente o seu texto, e não uma adaptação... Lulu demonstrou-se indignada com a sua teimosia... Quis saber se ele teria coragem de desprezar os dois milhões que podiam ser faturados com a produção... Claudie se intrometeu dizendo que Henri apenas fingia desprezo pelo dinheiro, já que todos conheciam as dificuldades econômicas... O tipo ainda emendou que, “no tempo dos Fritz”, a manteiga era mais barata.
Henri merecia ouvir aquilo! Claudie fazendo apologia da ocupação alemã! Era o fim...
Lucie advertiu em tom de divertimento que a outra não podia pronunciar aqueles juízos “diante de um resistente”...
Todos riram a valer...
Henri também sorriu...
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Nadine não esconde suas diferenças em relação a Henri; desconfiança e novo rompimento

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Henri ficou angustiado ao saber que Scriassine havia mentido a respeito da inscrição de Dubreuilh no PC... Sem dúvida uma armação que, de certa forma, contribuiu para que ocorresse o rompimento entre ambos. Ele quis que Vincent lhe desse informações sobre o local onde poderia encontrar Nadine.
É por isso que ele acabou chegando ao café que ela costumava frequentar. Henri precisava conversar sobre o que sentia e ouvir a opinião da filha de Dubreuilh.
Vimos que ele foi friamente recebido.
(...)
Nadine disparou que Vincent não havia escrito nada parecido com os artigos de Henri... Ele devolveu que também Dubreuilh não havia sido amável em seu texto... A moça redarguiu. Então Henri falou sobre o golpe que lhe aplicaram ao garantirem que Robert havia se filiado ao PC.
Ela se mantinha insensível às suas palavras. Por isso ele quis saber se seus “amigos comunistas” a tinham convencido de que ele se tratava de um traidor... Nadine respondeu que não tinha companheiros comunistas, no entanto concordava que ele já não era o mesmo de outrora.
(...)
Henri perguntou em quê ele havia mudado... Nadine foi direto ao assunto e falou sobre a “sociedade imunda” que ele estava frequentando... Arrematou dizendo que o comportamento dele contrariava a mensagem de sua peça... Disse também que Sézenac havia contado a respeito de sua relação com Josette...
Como que a justificar-se, Henri respondeu que sua vida particular só importava a ele mesmo e que, como já conhecia Josette há um ano, considerava aquelas críticas muito injustas... Ele não estava mudado, fazia questão de garantir isso...
Nadine não gostou de ouvir que, na opinião dele, ela é quem tinha mudado... Disparou que “agora sabia de coisas” que a fizeram perder a confiança nele.
Ele quis que ela falasse mais a respeito daquele juízo... Mas Nadine nada respondeu e apenas baixou a cabeça...
(...)
Henri sentenciou que aceitava o repúdio ao seu texto, mas considerá-lo um “salafrário”! A opinião de Nadine só podia ser inspirada nas palavras do próprio pai... Henri lamentava principalmente porque todos sabiam que ela não tinha os conceitos de Dubreuilh como os de um Evangelho.
Ela explicou que em sua opinião o modo como ele se posicionou em relação aos campos não fazia dele um salafrário... A questão era saber por que ele decidiu publicar a denúncia... Henri deixou claro que o próprio artigo esclarecia seus motivos... Ela concordou que em seu texto ele havia tratado das “razões públicas”, no entanto esperavam também suas “razões pessoais”...
(...)
A direita o “cobria de flores”... Nadine não podia deixar de considerar tudo aquilo muito embaraçoso.
Henri quis que ela respondesse se tudo não passara de uma “manobra” para aproximá-lo da direita... Ela não soube responder, mas garantiu que a direita se aproximara escancaradamente dele.
(...)
Ele protestou... Falou sobre L’Espoir e sua orientação, que permanecia a mesma. Ela bem devia saber, já que era amiga de Vincent.
Nadine respondeu que Vincent não podia ser tomado como referência, pois ele sempre defendia os amigos, tratava-se de um tipo de coração puro...
(...)
Então Nadine podia provar mesmo que Henri fosse um salafrário?
Ela respondeu que apenas desconfiava... Isso o deixou ofendido.
Ele sentenciou que havia errado ao comparecer para aquela conversa...
Se a outra não lhe dava crédito era porque não lhe tinha amizade sincera.
Despediram-se.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – a mentira a respeito da inscrição de Robert no PC; as frustrações crescem; Henri tem necessidade de dialogar com Nadine

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_14.html antes de ler esta postagem:

Desde a publicação das denúncias contra os campos soviéticos de trabalho forçado e suas péssimas condições, Henri não teve mais sossego... A direita o assediava e os antigos companheiros o defenestravam... O comitê do SRL, evidentemente influenciado por Dubreuilh, decidiu expulsá-lo... O PC incumbiu Lachaume da produção de um texto agressivo a Henri e à sua obra... Vimos que sua primeira reação foi a de partir para a agressão física, e acabou desistindo desse expediente graças a Vincent.
As reflexões de Henri eram a respeito dos sentimentos de ódio que passaram a alimentar contra ele...
(...)
O pessoal da direita esperava um alinhamento concreto. Scriassine o visitou depois de ler o “Abaixo as máscaras”, o texto de Lachaume... O tipo apareceu com fortes dores de cabeça e esperava que os últimos episódios dessem em reação favorável à aliança com Bennet.
Mas Henri respondeu que também não estava disponível aos parceiros de Scriassine... Disse isso manifestando que Scriassine podia ter certeza de que seus amigos não precisavam dele.
De modo confuso, Scriassine manifestou desolação... Reclamou que “a esquerda perdeu seu calor e que a direita não havia aprendido nada”... Cogitou que talvez o melhor a fazer fosse se mudar para o campo, mas ao mesmo tempo “não se sentia nesse direito”...
Henri ofereceu-lhe um comprimido de ortedrina, mas ele garantiu que não pretendia recuperar a total lucidez, pois teria de falar com “velhos companheiros”... Scriassine quis saber se Henri responderia o artigo de Lachaume... A resposta foi um “certamente não”... Scriassine disse que ele estava perdendo uma boa oportunidade, principalmente porque sua “resposta a Dubreuilh” havia sido “bem dada”.
Henri perguntou se a “resposta bem dada a Dubreuilh” havia sido justa, e quis saber do informante que Scriassine garantia poder confirmar a inscrição de Robert no PC... Para sua decepção, o outro respondeu que não havia nenhum informante e que, na verdade, ele havia inventado o artifício para convencê-lo a enfrentar Dubreuilh e a publicar os artigos sobre os campos soviéticos...
Scriassine se justificou dizendo que agiu com a “trampolinagem” porque estava convicto de que “Dubreuilh é mesmo comunista”... Ele tinha certeza que Henri não insistiria para falar com a “testemunha” (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_5.html).
Era certo que Henri jamais imaginaria que pudessem empregar aquele tipo de expediente... Podemos imaginar o quanto aquela revelação o decepcionou.
Victor Scriassine completou dizendo que, mentindo, fizera-lhe um “grande favor”.
Despediram-se... Henri ficou à vontade para não agradecer o “favor”.
(...)
Depois que Scriassine se retirou, Henri continuou a pensar... E dessa vez era a respeito da situação mentirosa armada pelo reacionário... Talvez, apesar daquela invenção, tudo ocorresse da mesma forma... Mas é claro que pensar que “jogou com cartas falsas” era muito deprimente.
De repente Henri sentiu a necessidade de conversar com Nadine e de se explicar para ela... Perguntou a Vincent quando a viria novamente.
(...)
Na quinta-feira, Henri dirigiu-se ao café para encontrar-se com a filha de Robert Dubreuilh.
Logo que chegou cumprimentou-a efusivamente... Não foi correspondido com a mesma energia... Disse que Vincent se atrasaria e na sequência esclareceu que gostaria de saber a opinião da moça em relação ao estremecimento entre ele e Dubreuilh...
Como que a justificar a sua frieza, Nadine respondeu que, entre ela e ele, a relação se limitava às suas esporádicas aparições na Vigilance... Henri quis saber se, apesar daquela constatação, podiam tomar algo juntos... Estavam brigados? Ele mesmo concluiu que não teria nenhuma importância... Até porque ela sempre se encontrava com Vincent, um do mesmo “naipe” do qual ele fazia parte.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – graças à ponderação de Vincent, Henri controla os nervos; o texto original de Lachaume continha agressões contra Josette; reflexões sobre o ódio; Scriassine com fortes dores de cabeça faz nova visita após a publicação de L’Enclume

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-fim.html antes de ler esta postagem:

Até mesmo Lachaume ousara publicar um texto ofensivo a Henri e a toda a sua produção intelectual... Evidentemente havia recebido a incumbência do PC... Era sem sucesso que Samazelle tentava atrair Henri para a causa dos gaullistas. Ele queria fazê-lo entender que, após as denúncias contra os campos soviéticos, não haveria alternativas a não ser o anticomunismo... Como vimos, foi Samazelle quem lhe apresentou a ofensiva edição de L’Enclume.
A indignação de Henri foi tal que a única resposta que ele considerou a altura do texto do moço foi partir para o enfrentamento físico.
(...)
Henri dirigiu-se ao Bar Rouge, que era onde esperava encontrar Lachaume... Encontrou apenas Vincent, que bebia com os amigos... O rapaz poderia estar na redação de L’Enclume, então Henri quis partir imediatamente para lá. Mas aconteceu que Vincent o acompanhou até a porta e o convenceu a largar mão daquela reação violenta. É claro que ele havia lido o artigo, pois conhecera o texto mesmo antes de sua publicação.
Vincent contou que discutiu com Lachaume a respeito de sua matéria ofensiva... Henri não conseguia se conter e revelou que pretendia, de fato, socar o rapaz.
Vincent lembrou que era isso mesmo o que os comunistas pretendiam, ou seja, um escândalo que proporcionasse novos e violentos ataques contra ele.
Henri imaginava que não poderiam atacá-lo ainda mais... Colocaram-no na condição de fascista!
Vincent queria que ele entendesse que as coisas podiam piorar... Lembrou-o das fofocas que envolviam o nome de Josette... Disse que o texto original de Lachaume continha umas dez linhas sobre a garota... Ele mesmo o havia persuadido a suprimi-las. Certamente não a poupariam nas próximas cartadas.
Depois Vincent argumentou que Henri não possuía mais uma “vida particular”, pois tudo o que ele viesse a fazer se tornaria “domínio público”...
Henri refletiu sobre a vulnerável condição de Josette... Atacá-la era algo lamentável e inaceitável... Haveria defesa contra calúnia? Os comunistas haviam sido perfeitos ao escolherem Lachaume... Certamente eles nutriam um verdadeiro ódio por Henri...
Vincent concordou.
(...)
Henri foi convencido a não procurar Lachaume na redação de L’Enclume. Vincent o acompanhou até L’Espoir.
Quando chegaram ao jornal, ele disse que precisava dar uma volta e que em cinco minutos se encontrariam novamente... Na verdade ele queria apenas ficar sozinho por alguns instantes para pensar a respeito da conversa que tivera com o amigo...
Como era pesado ter de considerar que não gostavam dele, que o odiavam...
Imaginou que alguns comunistas ainda conservariam a estima que nutriam por ele, mas as palavras de Vincent o convenceram do contrário. A partir de então, só uma certeza o dominava, a de que seria odiado por onde quer que andasse...
“A amizade é precária como a vida; mas o ódio não abandona o seu homem, e é tão seguro quanto a morte”.
(...)
De volta ao escritório, Henri encontrou Scriassine, que o aguardava. O tipo parecia bem abatido e com forte dor de cabeça, resultado da ingestão de muita vodca.
É claro que ele havia lido o artigo de Lachaume, e estava ali para saber se Henri tinha mudado a sua opinião... Ele deixou claro que não...
Scriassine se referia à conversa com Bennet e a aliança com os norte-americanos para impedir a influência soviética sobre a esquerda europeia.
Depois advertiu que o tratamento dispensado a ele pelos comunistas deveria levá-lo a uma reflexão melhor e ao rompimento definitivo...
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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