domingo, 31 de março de 2019

“Mayombe”, de Pepetela – por suas iniciativas disciplinares, Sem Medo causa boa impressão aos militantes de Dolisie; o Comissário insiste para que o comandante interceda por ele junto à noiva; Ondina esclarece ao Sem Medo a incompatibilidade do relacionamento com o João

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Sem Medo deu as costas e os comentários dos guerrilheiros não cessaram... A maioria sentiu-se incomodada pela presença do comandante, responsável provisório por Dolisie... Muitos reclamavam do autoritarismo de suas palavras... Talvez esperassem qualquer vacilo de sua parte para darem início a um incidente tribalista sem precedentes, mas todos viram que o homem era bem diferente do André... Hungo foi um dos que deixou escapar um elogio à sua conduta... Também o chefe do depósito foi da opinião de que o panorama estava mudando.


(...)

Dirigindo o jipe no caminho para Dolisie, o comandante pensava a respeito de como aqueles militantes já haviam se acostumado aos desmandos e aos inquéritos demorados que deixavam de ter qualquer eficácia. No caso da fuga do Ingratidão, pensavam que nenhuma apuração seria feita... Os tipos deviam entender que, pelo menos enquanto ele estivesse na área, as coisas seriam bem diferentes. Os tempos de desmandos do André ficariam para trás.
Ao chegar ao escritório político encontrou o Comissário... O camarada estava com a fisionomia bem abatida. Ele explicou que a Ondina já estava no quarto, que haviam discutido mais uma vez e que ela o rejeitava definitivamente.
O Comissário pediu ao Sem Medo que falasse com a mulher... Esperava que ele intercedesse em seu favor. Sem Medo nada disse, mas seguiu para o quarto bem de frente para o seu (que era ocupado pelo André) onde Ondina estava instalada.
Bateu à porta e teve autorização para entrar... Trocaram os bons-dias e Sem Medo foi dizendo que acabara de falar com o João, que lhe dissera que ela havia rompido o relacionamento de vez. Ondina deu de ombros e pediu um cigarro dizendo que ninguém mais se importaria se ela fumasse, pois a afastaram das aulas e das crianças por causa do flagrante com o André.
Sem Medo acendeu um cigarro e lhe deu... Via-se que ela estava decepcionada por ter perdido a confiança das famílias dos pequenos alunos. Disse que o João era muito complicado e parecia não querer compreender a situação entre ambos. Um dos problemas era que dava a entender que aceitava as coisas, mas no fundo ela sabia que não era bem assim. Além disso, ela via que não podia ceder e isso era-lhe bem difícil porque a delicadeza do companheiro quase sempre a fazia voltar atrás... Se tivesse de decifrá-lo diria que ele estava mais para uma criança. No momento aceitava a situação, mas era certo que futuramente a reprovaria. Tudo indicava que ela o dominaria no relacionamento. Ondina sabia disso e disparou que quando nova traição ocorresse provavelmente ele a perdoaria.
Sem Medo entendeu que Ondina não pretendia ser injusta com o noivo. Disse-lhe que podia notar que ela sabia que o desequilíbrio do relacionamento lhe era favorável, mas não podia aceitar essa condição.
Ondina disse que embora respeitasse o João, tinha certeza de que chegaria a abusar de sua fraqueza outras vezes. Isso a atormentaria demasiadamente. Neste ponto, Sem Medo pensou sem se pronunciar que talvez aquela mulher não fosse tão livre quanto ele imaginava. Resolveu dizer que o Comissário não era um fracote e que aquela situação poderia levá-lo a um amadurecimento. Ela concordou, mas acrescentou que o rompimento poderia trazer mais benefícios para ele.
Sem Medo observou que nesse caso o João poderia tentar reconquistá-la... Ela respondeu que não haveria tempo para isso porque em breve a tirariam de Dolisie. Ele tratou de dizer que o movimento poderia levar em consideração o caso dos dois... Poderiam mesmo encaminhar cada um para uma parte, mas sempre seriam consideradas todas as “possibilidades de reconciliação”.
De repente ela tocou o braço do comandante e pediu desculpa por isso... Na sequência solicitou que ele fosse sincero ao responder se de fato achava que ela era a mulher que o João merecia. Insistiu no questionamento porque ela mesma não pensava assim.
Sem Medo respondeu que discordava. Disse que se a questão fosse aquela, teria de admitir que sim, ela era mulher para o Comissário... Mas acrescentou que não se tratava do João a que ela se habituara, e sim o que estava saindo transformado da crise.
Ondina disse que teria de dedicar-lhe mais amor do que até então lhe dedicara... O caso é que parecia não haver cura para a situação... Não fosse a guerra e passariam mais tempo juntos.
Sem Medo fez essa última observação esperando que a outra manifestasse qualquer reação, mas ela nada disse. Então ele se retirou do quarto para encarar o camarada Comissário e seu desespero.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

sexta-feira, 29 de março de 2019

“Mayombe”, de Pepetela – mais sobre a fuga do Ingratidão; Sem Medo e as primeiras providências como responsável provisório por Dolisie; murmúrios tribalistas; deixando claro o rigor disciplinar

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Na manhã seguinte, foi confirmado que Sem Medo ficaria provisoriamente responsável por Dolisie. Ele acompanhou o dirigente e o comboio que conduzia André para Brazzaville. Na estação ficaram sabendo da fuga do Ingratidão do Tuga. E como se tratava de um guerrilheiro que atuara na Base, o dirigente deixou claro que esperava que o comandante resolvesse o quanto antes a situação. Outra orientação deixada por ele era sobre a Ondina, que deveria se transferir para o escritório político enquanto não se chegasse a uma decisão sobre o caso.
(...)
O Comissário Político tratou de ajudar Ondina a transferir suas coisas para o bureau...
Após despedir-se do dirigente, Sem Medo assumiu o jipe. Ao seu lado sentou-se Hungo, que era um quadro atuante em Dolisie. Sua vontade era a de ir para o bar tomar uma cerveja, mas tomou a direção da cadeia... Perguntou ao camarada como é que o Ingratidão havia escapado.
Hungo não tinha ideia... Disse que quando o foram ver pela manhã, já não estava em sua cela. O tipo também não sabia informar a respeito de quem fazia a guarda. Com certa dificuldade, Sem Medo acendeu um cigarro e pensou em passar pela escola para trocar umas ideias com o Comissário. Este sem dúvida seria um excelente conselheiro, mas estava claro que sua ocupação no momento era outra, e bem pessoal.
(...)
Ao chegar à cadeia, o comandante foi logo mostrando a credencial que fazia dele o responsável pelo posto que era ocupado pelo André.
A cadeia era basicamente um depósito. O chefe local quis saber em que poderia ajuda-lo e Sem Medo foi direto ao ponto... Quis saber quem era que fazia a guarda no momento em que o Ingratidão fugiu. O chefe respondeu que durante a noite dois guerrilheiros serviram no local, um deles era o Mata-Tudo e o outro era o Katanga. Já o portão havia ficado sob a responsabilidade de Tranquilo e de Ângelo, um tipo que havia desertado das tropas tugas há pouco tempo.
Sem Medo não deixou de observar a imprudência ao confiarem em alguém que acabara de passar para o lado do movimento... O caso bem podia ser de uma sabotagem. O chefe do depósito concordou, mas acrescentou que a falta de pessoal os levava às medidas temerárias como aquela. Sem Medo pensou sem se manifestar que, à exceção do desertor, todos os citados era kimbundos. Mandou chamar os guardas.
Interrogou os homens e as respostas foram as mesmas... Disseram que não ouviram nada de anormal, que não adormeceram e nem perceberam nenhuma movimentação diferente. Para Sem Medo, um dos dois estava implicado, pois o Ingratidão não teria como escapar se não lhe abrissem a porta. Já os que cuidaram do portão podiam não ter nada a ver com a fuga porque o prisioneiro poderia ter fugido pelo mato junto ao depósito.
O comandante Sem Medo entendeu que talvez os dois guardas nem tivessem agido juntos, todavia ordenou que se apresentassem alinhados e sentenciou que o Mata-Tudo e o Katanga iriam para a cela imediatamente. Deixou claro que pelo menos um dos dois havia ajudado na fuga do Ingratidão e que cumpririam a pena dele enquanto os fatos não fossem esclarecidos.
Na sequência ordenou que o chefe escolhesse outros dois guerrilheiros para conduzir os prisioneiros. Deixou claro que se nova fuga ocorresse a punição recairia sobre o próprio chefe do depósito.
Houve murmúrio e os dois escolhidos cumpriram a ordem de má vontade. No mesmo instante, Sem Medo advertiu a todos que o caso seria solucionado de uma forma ou de outra. Ele mesmo estava ali provisoriamente e quando o responsável enviado por Brazzaville chegasse tudo se resolveria a partir de suas ordens. Deixou claro ainda que tinha de proceder daquela maneira porque pelo menos um dos dois se comprometera com o Ingratidão do Tuga.
Ainda mais murmúrios foram ouvidos, e Sem Medo disse que esperava por isso. Disse que imaginava que atribuíssem ao André mais essa confusão. Mas fez questão de concluir dizendo que todos sabiam que o antigo responsável não tinha nada a ver com a fuga e a indisciplina dos guardas. A questão era que o prisioneiro era um kimbundo como a maioria dos que ali estavam. Alguém aproveitou a ocorrência do André para facilitar a fuga do prisioneiro. Talvez pensassem que ninguém tomaria medidas contra um kimbundo por causa do mal feito do responsável por Dolisie, que era Kikongo.
Todos ali tinham de saber, e Sem Medo deixou isso claro, que com ele era diferente, pois não se importava com as questões de tribalismos. Era um tipo justo e ninguém podia dizer que ele mesmo não criticava o André, kikongo como ele e um parente distante. Ninguém poderia afirmar que ele fizesse tribalismo ou ainda que ele se sujeitasse às chantagens tribalistas.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

sábado, 23 de março de 2019

“Mayombe”, de Pepetela – a trama contra André segundo ele mesmo; desqualificando Ondina, Sem Medo e o Comissário; a fuga do Ingratidão e as consequências para o novo responsável; autocrítica e estratégia de defesa

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André revela que o Ingratidão do Tuga conseguiu escapar da prisão graças aos kimbundos. A situação se configurava em problema dos mais graves e em sua opinião tudo teria de ser resolvido pelo Sem Medo, visto por ele como tipo que tudo fizera para obter o seu posto em Dolisie.
Para o André, Sem Medo estava por trás de toda agitação dos kimbundos. Só ele poderia tê-los incentivado ao enfrentamento! Quando o dirigente de Brazzaville ficou sabendo da fuga do Ingratidão mostrou-se profundamente decepcionado. Será que ele não desconfiava que por causa de Sem Medo o Ingratidão não havia sido fuzilado na Base? Se havia um culpado por aquele desastre, esse era o próprio comandante, que conseguiu agradar aos kimbundos ao preservar o Ingratidão... Mas o caso é que após mais essa confusão da fuga teria de puni-los. Sua medida conservadora por ocasião da discussão do Comando sobre o destino do larápio da carteira do trabalhador (da região de exploração de madeira; ver https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2018/07/mayombe-de-pepetela-o-julgamento-de.html e https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2018/07/mayombe-de-pepetela-sem-medo-faz-relato.html) só podia ser explicada pelo seu temor em relação às agitações tribalistas.
(...)
Então André estava achando que no final das contas ainda tinha motivos para rir das “trapalhadas do Sem Medo”. Certamente o comandante da Base conseguiria o que vinha pretendendo, mas, por fim, bem cedo diga-se de passagem, experimentaria os espinhos que o posto de responsável em Dolisie lhe reservava.
De acordo com o seu raciocínio, Sem Medo e seus comparsas tinham usado Ondina como isca. Ele revela que sempre sentira atração por ela... Suas formas o impressionavam, seu olhar cheio de mistério o seduzia, então não foi necessário planejar qualquer grande estratégia para ludibriá-lo... Bastou posicioná-la bem no seu caminho. Evidentemente sentiu-se tentado a lhe oferecer a carona.
Para ele, estava claro que a mulher sabia o que fazer e é por isso que começou a abrir as pernas e a encostar as volumosas coxas nele logo que entrou no veículo. No momento mesmo em que seguia escoltado para Brazzaville podia afirmar que havia sido imprudente, mas tinha de admitir que não conseguiu resistir aos ataques da Ondina... Quanto mais o jipe chacoalhava, mais ela fazia o contato físico. A parada no bar foi fatal, pois foi ali que o desejo se tornou insuportável... Depois tudo se completaria... Ela aceitou prontamente ir para o capim, onde se revelou uma amante ardente.
(...)
Os militantes que estavam na estrada haviam sido posicionados estrategicamente. Uma armação! Ondina só podia ser mulher da mais baixa reputação! O comandante Sem Medo assumiria a direção em Dolisie e o noivo dela passaria a comandar a Base.
Esse era o raciocínio do André... Um complô o havia derrubado! Mas, depois de tudo, podia concluir que tinha valido a pena perder o cargo... Ondina se prestara às manobras mais baixas, todavia teve a oportunidade de conhecer um “homem de verdade”, que podia proporcionar-lhe prazer.
(...)
Pensando na defesa que apresentaria em Brazzaville, entendeu que dificilmente dariam crédito à suspeita da trama... Diriam que ele havia arranjado uma desculpa esfarrapada.
Apesar disso, nem tudo estava perdido. Pelo contrário! Em sua opinião o pior já havia sido superado e sentia que não se sairia liquidado do processo. Apesar de toda oposição, haveria sempre alguns entre os mais graduados que o apoiassem. Bastaria apresentar a sua autocrítica e os inimigos seriam desmantelados.
Neste ponto do relato, André cita Lenin e a prerrogativa da autocrítica, que não era aceita por todos... Em síntese, quando o militante se visse em apuros devia fazer a autocrítica para que os ataques políticos parassem imediatamente. A isso se podia comparar a “teoria da ação e da reação”... Então, em seu entendimento, bastaria “eliminar a reação” para que a ação se anulasse por si mesma.
A tática de André seria apresentar sua autocrítica logo no início dos debates... Todos o veriam como um quadro político consciente e sem a arrogância da autodefesa. No máximo o mandariam a outra região e tudo se resolveria.
Definitivamente não se considerava um tipo teimoso... Bastaria mostrar que sabia que havia cometido erros.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

sexta-feira, 22 de março de 2019

“Mayombe”, de Pepetela – o comandante não dá mostras de que pretende interferir nas decisões do Comissário, que se sentia abandonado também pelo camarada; início do relato pessoal do André; convicções sobre o caso em que se tornara réu

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Sem medo quis saber como o Comissário havia conseguido convencer Ondina a mudar de ideia... Ele respondeu que a forçara a isso, e que no final das contas quase a violara para lhe mostrar que ainda se amavam.
Essa revelação levou Sem Medo a outra lamentável reflexão. Obviamente não disse nada a respeito ao camarada, mas talvez achasse importante pensar também que o amor não se resume ao ato sexual... Talvez pudesse pensar no amor como numa relação cíclica na qual essa afetividade estivesse no início ou no fim... “Quem pode delimitar o amor, quem o pode geometrizar?”
Por fim Sem Medo sugeriu que o Comissário se abrisse com a Ondina... Neste ponto refletiu mais uma vez sobre o caso sem se manifestar ao camarada... Concluiu que a pior coisa que poderia fazer era se intrometer na vida dos dois. Em vez de ajudá-los, podia complicá-los ainda mais... Em vez de uni-los, podia se tornar o elemento que definiria a separação derradeira. Não era certo se intrometer, pensou... Os dois é que deviam se entender... Sua interferência apenas complicaria ainda mais a situação. Estava claro que os alicerces daquela relação estavam ruídos... Então era melhor que desmoronasse de vez para que partissem para uma completa restauração... Ou não.
(...)
Sem Medo disse mais uma vez que o melhor seria o entendimento do casal em conversa franca. Ao não se sentir apoiado, o Comissário entendeu que o amigo o estava abandonando.
Neste ponto, o comandante sentenciou que, pelo visto, o problema já havia sido resolvido... A questão era saber se a saída encontrada havia sido a melhor. Isso só o casal podia saber, então não poderia haver mal-entendido em suas palavras.
Para Sem Medo ficou claro de uma vez por todas que o camarada Comissário não tinha maturidade para encarar a realidade. Ondina não o queria mais! Aceitou a última relação marcada pelo ataque violento do parceiro, mas era certo que o descartara de vez... De sua parte, talvez fosse importante enfrentar os fatos e digerir a crise existencial... Mas era claro que ele não tinha condições de fazer isso.
(...)
Nenhum dos dois proferiu mais qualquer palavra... Retiraram-se para suas camas... Passaram a noite em claro.

(...)

Na sequência temos nova narrativa pessoal.
Dessa vez é do André.
Vemos que ele está sendo conduzido para Brazzaville...
As suas considerações nos dão conta da certeza que ele tem a respeito da condenação que sofrerá. Pensa que acabou caindo numa trama da qual a própria Ondina topou participar... Faz acusações contra ela, Sem Medo e todos os que davam a entender que o apoiavam. Por fim mostra-se convencido de que conseguiria se livrar da condição de desterrado.
(...)
O comboio que o levava para Brazzaville era chefiado pelo dirigente, que seguia em silêncio e com ares carrancudos. André tinha certeza de que a pasta que ele levava só podia estar carregada de acusações.
De acordo com sua interpretação, os que o apoiavam se esconderam por medo dos kimbundos. Concluiu que o laço que os unia era frágil demais... Esperavam dele apenas as “migalhas” que recebiam. O pior de tudo era saber que os kimbundos dominavam...
(...)
Bem neste ponto do relato que ficamos sabendo da fuga do guerrilheiro Ingratidão do Tuga, mas o assunto fica para a próxima postagem.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

“Mayombe”, de Pepetela – a desastrosa iniciativa do Comissário para convencer Ondina; pessimismo de Sem Medo sobre o futuro do relacionamento do camarada

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Ao ouvir de Ondina que ela já não nutria nenhum sentimento de afeição por ele, o Comissário ficou muito nervoso e vociferou que não acreditava em suas palavras.
Na sequência, completamente desequilibrado emocionalmente, ele a abraçou com violência, forçou o beijo e a acariciou sem que ela se mostrasse disposta a isso. Quando teve chance, disse que era melhor não prosseguirem, mas ele ainda mais a atacou despindo-a e a atirando sobre a cama.
Seu raciocínio era simplista... Conseguiria à força a relação que mostraria a ela que ainda havia paixão entre eles. Mas o resultado não poderia ter sido pior, pois Ondina manteve-se tensa durante a ação desesperada do Comissário... Este logo se levantou e atirou-se aos pés dela.
Ela afagou-lhe os cabelos. Enquanto chorava sobre os seios da amada, João convenceu-se de que havia acertado em sua iniciativa e que teria nova chance... Os dois se deitaram novamente e dessa vez sem a brutalidade anterior.
(...)
Tudo o que ele queria era ouvir que permaneceriam juntos. Todavia, Ondina manteve sua conduta, disse-lhe que até poderia lhe declarar amor, ele sossegaria, mas o caso é que outros dias viriam em que ela lhe diria o contrário e o relacionamento seria tomado por novas tormentas.
Podemos notar que Ondina não via futuro para a união dos dois. Ela tinha certeza de que o trairia novamente. E como não queria magoá-lo ainda mais, gostaria de selar o fim. Todavia ele se mostrava satisfeito com o entrosamento do momento...
Voltaram a se abraçar.

(...)

Sem Medo fora à escola...
Esperava ver o Comissário, mas por motivos que bem conhecemos isso não foi possível, então retornou a Dolisie.
Já estava deitado há algum tempo, quando o João entrou no quarto.
O rapaz parecia bem animado e foi logo dizendo que tudo se arranjara, pois a noiva voltaria para ele.
(...)
O Comissário estava esperando uma opinião satisfatória de Sem Medo... Este respondeu que ficou contente por saber que tinham resolvido a situação, mas não podia dizer muito mais do que isso, afinal o casal é que tinha de se entender e buscar o melhor para o relacionamento.
O Comissário garantiu que o que havia se passado entre Ondina e o André não tinha a menor importância. Exclamou que já ficara para trás. O impulso a havia levado à traição, e isso devia ser perdoado por ele.
Sem Medo perguntou ao camarada se, de fato, ele não dava importância ao desliza da noiva... A fisionomia do Comissário se alterou e depois de um tempo ele respondeu que faria o possível para se habituar à ideia.
(...)
Sem Medo o observou com atenção ao mesmo tempo em que refletiu a respeito do que tinha acabado de ouvir. Não acreditava que o camarada conseguisse admitir o o “novo relacionamento” conhecendo tudo o que havia se passado. Lembrou-se de sua experiência com a Leli... Entendeu que Ondina era mulher do tipo dominadora, enquanto que a sua Leli havia se tornado submissa. O que podia fazer? A comparação não era das mais fáceis... Mas nos dois casos tinha a certeza de que não eram elas o problema.
O que João desejava era estar no controle da relação. O tempo mostraria a (in)consistência do relacionamento. É mais ou menos o que havia ocorrido com Leli, que tentou reconquistá-lo, mas nem se poderia afirmar que essa fosse mesmo a sua decisão. Talvez, se tivesse tempo, pudesse encontrar outro que a amasse de verdade.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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