domingo, 9 de maio de 2021

“A Ópera de Três Vinténs” – peça de Bertold Brecht musicada por Kurt Weill – o fim; é chegada a hora do enforcamento, o Navalha segue para a morte e os demais são tomados por certa brandura; o homem já está no patíbulo quando Peachum faz novo discurso que anuncia mudança radical no fim da história; o chefe Brown reaparece como real arauto e anuncia muitas boas novas da rainha para o Navalha; o “coral dos mais pobres deste mundo”, que não conhecem clemência em sua vida de padecimentos


O policial Smith voltou à cena pedindo ao senhor Macheath que, por favor, se preparasse...
Todos sabiam o que o tira informava. Era chegada a “hora última” do Mac Navalha... A Senhora Célia Peachum gritou por Polly e por Luccy dizendo-lhes que deviam amparar o marido no momento derradeiro.
O bandido quis dizer qualquer coisa dirigindo-se às duas desafortunadas... “Minhas senhoras, seja lá o que for entre nós...”. Mas não concluiu a mensagem que pretendia deixar porque Smith o levou. Vamos!
(...)
Na sequência temos a “marcha para a forca” e todos os que estiveram à direita e à frente do condenado se puseram a sair por portas à esquerda*...
                   *Obviamente caminham por trás do palco, pois ressurgem do outro lado com lanternas na mão.

O Navalha chegou ao patíbulo.
(...)
O velho Peachum deu início a um novo discurso:

“Prezado público, lá vem o fim:
O senhor Macheath será enforcado,
Pois toda a cristandade age assim –
Cada qual paga pelo seu pecado.
Porém não pensem como aprovado
Por nós o que pratica tanta gente.
O senhor Macheath não será enforcado:
Nós temos um desfecho diferente.
Na ópera, a injustiça que nos laça
Fica vencida, pela graça.
Eis um arauto com a boa nova,
Que salva o herói da escura cova.

(...)

Terceiro final de três vinténs.

O arauto anunciado entra a cavalo...
O coro canta – Escuta quem vem ai!
                       O real arauto a cavalo vem aí!

O arauto, briosamente montado, não é outro senão o chefe Brown! Ele chegou anunciando que: “Por motivo de sua coroação, Sua Majestade a Rainha ordena que o Capitão Macheath seja imediatamente libertado”.
Todos aplaudiram entusiasticamente... Brown tinha mais a dizer: “Ao mesmo tempo, ele será elevado à categoria de nobre hereditário”...
A euforia tomou conta dos que acompanhavam o que era para ser a execução... Então Brown prosseguiu: “e receberá o castelo de Marmarel, bem como uma pensão de dez mil libras até o fim de sua vida. Aos casais de noivos aqui presentes, Sua Majestade transmite seus régios votos de felicidades”.
(...)
Obviamente o Navalha não cabia em si de tanta felicidade... “Salvo, salvo”! Emendou que sabia que “quando o Diabo fecha a porta, Deus abre uma janela”.
Polly também vibrava de felicidade ao saber do perdão ao seu “querido Mac”... A Senhora Peachum mostrou toda sua satisfação ao dizer que “afinal, tudo acaba bem”... A vida assim é realmente boa... E assim devia ser, e tranquila também “se os reais arautos chegassem sempre a galope”.
O “rei dos mendigos”, Peachum, pai de Polly e sogro do Navalha, concluiu que todos deviam permanecer em seus lugares* “para cantar o coral dos mais pobres deste mundo”...
                   *Neste ponto devemos entender que ele se dirige também à plateia.

Peachum diz que todos os presentes representam a “vida dura” dos “mais pobres deste mundo”, cujo fim é dos piores, “é péssimo”, diferentemente do final do criminoso Navalha que todos acabavam de presenciar. Aos pobres, os “reais arautos” não aparecem “depois de os pisados desta vida terem se levantado. Por isso a iniquidade não deveria ser por demais perseguida”.
Todos cantam:
         “Jamais persigam tanto a iniquidade,
         Pois ela mesma exaure seu alento.
         Pensem na noite fria que invade
         O nosso vale, cheio de lamento”.

Fim.
Leia: “A ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um abraço,
Prof.Gilberto

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