Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/o-estrangeiro-de-albert-camus_13.html antes
de ler esta postagem:
Quando Meursault e o amigo Manuel chegaram ao
restaurante estavam bem suados. O Celeste, dono do estabelecimento, era um tipo
de bigodes brancos, barriga avantajada e que andava sempre com o seu avental...
Logo que os viu, foi perguntando ao Meursault se estava tudo bem, se se sentia
bem...
A resposta foi
afirmativa e o rapaz emendou que sentia fome... O prato foi acompanhado de
vinho e devorado rapidamente. Ao fim da refeição, tomaram café. Meursault ainda
teve tempo para passar em casa para breve cochilo. Fumou logo que despertou e
em pouco chegou o horário de retornar para o escritório. Por isso teve de se
apressar para alcançar a condução.
A tarde de calor foi de muito trabalho... Assim que o expediente foi
encerrado, achou por bem caminhar pelo cais. Pode-se dizer que se sentia
satisfeito e contente pelo retorno às atividades cotidianas. Seguiu para casa onde
preparou umas batatas.
(...)
Ao
chegar às escadas do prédio, deparou-se com o velho Salamano, um vizinho que
morava no mesmo andar. O tipo estava saindo para passear com seu cão de
estimação...
Meursault pensou
sobre o velho e sua labuta com o animal com qual vivia há oito anos. Os dois
não se largavam! O “cão rafeiro” era adoentado e tinha a pele coberta “de
manchas e crostas”. Por conta disso, o cachorro perdia os pelos.
Para
o rapaz, cão e dono tornaram-se parecidos por viverem tão próximos no pequeno
quarto. O velho parecia-se com o cachorro e este tornou-se tão curvado quanto o
dono. Podia-se dizer que os dois pertenciam à “mesma raça”, mas se
destetavam... Há oito anos percorriam o mesmo trajeto em passeios às onze da
manhã e às seis da tarde.
A respeito do percurso,
o rapaz sabia que seguiam pela Rua de Lyon,,, O cachorro ia à frente puxando o
velho... Ao tropeçar, o Salamano batia no pobre animal e o insultava. Então o
cachorro se submetia e deixava-se arrastar... Como consequência, o velho tinha
de puxá-lo para adiante. Parece que o bicho acabava se distraindo e voltava a
tomar à frente e a puxar o Salamano. Assim a surra e os xingamentos voltavam a
ser aplicados.
E isso se repetia todos
os dias, e há oito anos! De repente paravam e permaneciam a se encarar, o cão
aterrorizado e o velho carregado de ódio. Acontecia também de o animal querer
parar para fazer as necessidades, então o impaciente Salamano o arrastava pela
calçada. Muitas vezes o pobre cão as fazia no quarto e, como consequência, o
velho dava-lhe umas bordoadas.
O Celeste sempre comentava que era “uma pena”... Mas quem poderia saber
o que seria ideal para os dois “companheiros”?
(...)
Ao passar pelo velho e o cachorro na escada, Meursault ouviu os insultos
do dono, “Bandido! Cão nojento!” O homem sequer o ouviu cumprimentar com um “boas
noites”, pois seguiu agredindo o animal.
O que o cão tinha feito? Salamano não respondeu
e prosseguiu com suas injúrias... “Bandido! Cão nojento!”, e manipulava a
coleira tentando corrigir algo. Meursault falou mais alto, mas o velho
respondeu com raiva e sem se voltar para trás falou que “está sempre aqui” e se
retirou puxando o cachorro choroso e submisso aos violentos puxões.
(...)
Meursault topou ainda
com um outro vizinho de andar... Um tipo que, diziam, vivia “à custa de
mulheres”. Quando lhe perguntavam sobre o trabalho, sempre dizia que era “lojista”.
O homem se chamava Raimundo Sintès... Apesar de ser mal falado e de não
contar com a simpatia da maioria, às vezes frequentava a casa do Meursault,
pois era dos poucos que lhe dava ouvidos... O rapaz achava mesmo que o Sintès
tinha coisas interessantes a dizer. Por isso não via qualquer senão em
falar-lhe.
Esse
Sintès era um tipo baixo e de “ombros largos”... Tinha um “nariz de pugilista”
e andava sempre vestido “corretamente”. Sobre o Salamano e o cachorro,
concordava com o Celeste e dizia “uma pena!”... Perguntou se os procedimentos
do vizinho não o incomodava e Meursault respondeu que não.
Subiram os degraus e
o vizinho disse que tinha vinho e chouriço em casa... Quis saber se Meursault
não gostaria de um petisco. O rapaz levou em consideração que assim se livraria
de ter de preparar seu jantar e acabou aceitando.
(...)
A
casa do Sintès era o quarto e a “cozinha sem janela”. Logo acima da cama tinha
um “anjo de estuque, branco e cor-de-rosa”, na paredes havia fotos de “campeões
e duas ou três de mulheres nuas”... O quarto estava com a cama por fazer e pelo
visto fazia algum tempo que não passava por uma faxina.
A
primeira providência do anfitrião foi acender uma lamparina... Depois enrolou
uma faixa de atadura “pouco limpa” em sua mão direita. Curioso, Meursault quis
saber do problema na mão. Sintès respondeu que tivera um entrevero com outro
tipo na rua...
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/o-estrangeiro-de-albert-camus-raimundo.html
Leia: “O
Estrangeiro”. Editora Abril.
Um
abraço,
Prof.Gilberto