sábado, 15 de maio de 2021

“O Estrangeiro”, de Albert Camus – o Celeste; almoço regado a vinho, cochilo e pressa para voltar ao trabalho; dois vizinhos de Meursault, Salamano e seu pobre cão, uma relação difícil; Raimundo Sintès, um tipo de poucos amigos e aparência de pugilista; o quarto do Sintès

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/o-estrangeiro-de-albert-camus_13.html antes de ler esta postagem:

Quando Meursault e o amigo Manuel chegaram ao restaurante estavam bem suados. O Celeste, dono do estabelecimento, era um tipo de bigodes brancos, barriga avantajada e que andava sempre com o seu avental... Logo que os viu, foi perguntando ao Meursault se estava tudo bem, se se sentia bem...
A resposta foi afirmativa e o rapaz emendou que sentia fome... O prato foi acompanhado de vinho e devorado rapidamente. Ao fim da refeição, tomaram café. Meursault ainda teve tempo para passar em casa para breve cochilo. Fumou logo que despertou e em pouco chegou o horário de retornar para o escritório. Por isso teve de se apressar para alcançar a condução.
A tarde de calor foi de muito trabalho... Assim que o expediente foi encerrado, achou por bem caminhar pelo cais. Pode-se dizer que se sentia satisfeito e contente pelo retorno às atividades cotidianas. Seguiu para casa onde preparou umas batatas.
(...)
Ao chegar às escadas do prédio, deparou-se com o velho Salamano, um vizinho que morava no mesmo andar. O tipo estava saindo para passear com seu cão de estimação...
Meursault pensou sobre o velho e sua labuta com o animal com qual vivia há oito anos. Os dois não se largavam! O “cão rafeiro” era adoentado e tinha a pele coberta “de manchas e crostas”. Por conta disso, o cachorro perdia os pelos.
Para o rapaz, cão e dono tornaram-se parecidos por viverem tão próximos no pequeno quarto. O velho parecia-se com o cachorro e este tornou-se tão curvado quanto o dono. Podia-se dizer que os dois pertenciam à “mesma raça”, mas se destetavam... Há oito anos percorriam o mesmo trajeto em passeios às onze da manhã e às seis da tarde.
A respeito do percurso, o rapaz sabia que seguiam pela Rua de Lyon,,, O cachorro ia à frente puxando o velho... Ao tropeçar, o Salamano batia no pobre animal e o insultava. Então o cachorro se submetia e deixava-se arrastar... Como consequência, o velho tinha de puxá-lo para adiante. Parece que o bicho acabava se distraindo e voltava a tomar à frente e a puxar o Salamano. Assim a surra e os xingamentos voltavam a ser aplicados.
E isso se repetia todos os dias, e há oito anos! De repente paravam e permaneciam a se encarar, o cão aterrorizado e o velho carregado de ódio. Acontecia também de o animal querer parar para fazer as necessidades, então o impaciente Salamano o arrastava pela calçada. Muitas vezes o pobre cão as fazia no quarto e, como consequência, o velho dava-lhe umas bordoadas.
O Celeste sempre comentava que era “uma pena”... Mas quem poderia saber o que seria ideal para os dois “companheiros”?
(...)
Ao passar pelo velho e o cachorro na escada, Meursault ouviu os insultos do dono, “Bandido! Cão nojento!” O homem sequer o ouviu cumprimentar com um “boas noites”, pois seguiu agredindo o animal.
O que o cão tinha feito? Salamano não respondeu e prosseguiu com suas injúrias... “Bandido! Cão nojento!”, e manipulava a coleira tentando corrigir algo. Meursault falou mais alto, mas o velho respondeu com raiva e sem se voltar para trás falou que “está sempre aqui” e se retirou puxando o cachorro choroso e submisso aos violentos puxões.
(...)
Meursault topou ainda com um outro vizinho de andar... Um tipo que, diziam, vivia “à custa de mulheres”. Quando lhe perguntavam sobre o trabalho, sempre dizia que era “lojista”.
O homem se chamava Raimundo Sintès... Apesar de ser mal falado e de não contar com a simpatia da maioria, às vezes frequentava a casa do Meursault, pois era dos poucos que lhe dava ouvidos... O rapaz achava mesmo que o Sintès tinha coisas interessantes a dizer. Por isso não via qualquer senão em falar-lhe.
Esse Sintès era um tipo baixo e de “ombros largos”... Tinha um “nariz de pugilista” e andava sempre vestido “corretamente”. Sobre o Salamano e o cachorro, concordava com o Celeste e dizia “uma pena!”... Perguntou se os procedimentos do vizinho não o incomodava e Meursault respondeu que não.
Subiram os degraus e o vizinho disse que tinha vinho e chouriço em casa... Quis saber se Meursault não gostaria de um petisco. O rapaz levou em consideração que assim se livraria de ter de preparar seu jantar e acabou aceitando.
(...)
A casa do Sintès era o quarto e a “cozinha sem janela”. Logo acima da cama tinha um “anjo de estuque, branco e cor-de-rosa”, na paredes havia fotos de “campeões e duas ou três de mulheres nuas”... O quarto estava com a cama por fazer e pelo visto fazia algum tempo que não passava por uma faxina.
A primeira providência do anfitrião foi acender uma lamparina... Depois enrolou uma faixa de atadura “pouco limpa” em sua mão direita. Curioso, Meursault quis saber do problema na mão. Sintès respondeu que tivera um entrevero com outro tipo na rua...
Leia: “O Estrangeiro”. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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