domingo, 27 de fevereiro de 2011

Filme: Como Treinar o seu Dragão - algumas considerações

Indicação (livre)

Talvez seja interessante você acessar (http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2011/02/filme-como-treinar-o-seu-dragao.html) antes de ler esta postagem.

É claro que a animação Como treinar seu dragão proporciona a reflexão sobre a amizade. Mas neste texto vou tratar de outras situações. Acho que o grupo de formação do qual faço parte na EMEF Teodomiro deve analisar alguns outros filmes para decidir melhor os encaminhamentos.

Convenhamos que a amizade entre o garoto e o dragão é uma relação difícil de se transferir para as realidades sociais vivenciadas pelos nossos alunos. Além disso, Como treinar seu dragão nos remete muito mais (em minha opinião) a outras questões, notadamente às referentes à Identidade. Vejam só: tudo o que Soluço desejava era se sentir como membro de seu povo. Há uma frase sua que deixa isso claro, Só quero ser igual a um de vocês! Em conversa com o pai, descobre que este “é bem definido” em relação à própria identidade... Stoico diz que quando era menino o pai pediu-lhe para bater a cabeça em uma pedra e ela se quebrou... Desde então soube quem era. Mas o menino não herdou a força do pai, o nome Soluço revela-nos a sua estrutura física. Soluço reflete sobre sua identidade, percebe que não tem jeito para lidar (como os demais) nos enfrentamentos contra os dragões, além disso, ele é um tipo mais próximo da leitura, da reflexão e engenhosidade.

A animação também nos remete à discussão sobre o Preconceito. Soluço percebe em seus estudos sobre os dragões, no livro que a comunidade elaborou, que as criaturas são odiadas pelos vikings, e que no livro há definições detalhadas sobre cada uma das criaturas e os perigos que representam... Mas exatamente aquela que não conhecem (o Fúria da Noite) é a que mais desperta aversões e alertas sobre a necessidade de nunca enfrentá-la. A sequência da animação brinda-nos com a amizade entre Banguela e Soluço... Mas fica evidente que a confiança entre os dois só aumenta conforme o menino aceita conhecer o outro... Conhecendo, aprende a respeitar o modo de ser do outro. Vimos que, conhecer o outro, trouxe benefícios ao Soluço. E, claro, também para o Banguela.

Mas os demais vikings de sua comunidade não estavam preparados para mudar os procedimentos em relação ao diferente e (historicamente) perseguido por eles. Ao final vemos que a amizade sincera, aquela que não tem preconceitos, pode transformar o mundo.

Um abraço,
Prof.Gilberto

Filme: Como Treinar o seu Dragão

Indicação (livre)
Eu já havia assistido a Como treinar o seu dragão no ano passado. É claro que não é o tipo de produção que me atrai a ponto de sair de casa, enfrentar fila e sala lotada de meninada com sacos enormes de pipoca... Mas para atender aos pedidos da criança do lar devemos fazer alguns sacrifícios... No final das contas sempre aproveitamos alguma coisa. Confesso mesmo que ultimamente tenho aproveitado muito do que vimos.

Foi a primeira produção que assisti em 3D e achei bem legal... Depois li alguma coisa sobre como esse tipo de filme é feito... De modo bem simples, podemos dizer que uma mesma cena é focalizada simultaneamente por duas câmeras, é como se ocorresse uma filmagem “propositadamente vesga”. É por isso que, sem os óculos, torna-se tudo desfocado... O objetivo dos óculos é fazer a correção e, nisso, temos a impressão de vermos “imagens saltadas” da tela.

Há algumas semanas o grupo de estudos do qual faço parte na EMEF Teodomiro assistiu e discutiu sobre a possibilidade de utilizarmos o filme em trabalhos com os alunos. O foco sugerido foi o da amizade. Alguns se empolgaram com a ideia porque a animação é uma aventura que resulta na amizade entre um garoto e um dragão, do tipo mais temido e perseguido por seu povo.
A história se passa numa comunidade viking, Berk, que vive enfrentando dragões ameaçadores e devoradores de criações e gente... É por isso que eles se especializaram em enfrentar aquelas criaturas que detestam...
O garoto protagonista da história é conhecido como Soluço. Ele não consegue se destacar como os demais, que se aplicam em exercícios preparatórios que os farão se tornar vikings adultos e matadores de dragões. A decepção de todos fica por conta de ele ser o filho do maior matador de dragões, Stoico, um tipo grandalhão, líder da comunidade... Todos esperam que o garoto mude o seu jeitão para, no futuro, substituir o pai.


O que Soluço mais quer é fazer parte da comunidade viking, ser como os demais. Por isso não mede esforços para fazer parte dos grupos de ataque aos dragões... Em uma ocasião ele atira um instrumento que criou, algo como uma boleadeira, e percebe que atingiu um dos seres voadores. Ele quer contar aos demais sobre a sua façanha, mas seu pai o retira de cena... Soluço acaba fazendo parte da turma de garotos a serem treinados pelo experiente Bocão. Entre os recrutas está a atraente Astrid. Enquanto os demais se mostravam entendedores e mais preparados que Soluço, embora também cometessem erros nos treinos com os dragões aprisionados, o nosso rapaz demonstrou mais interesse em conhecer os dragões que caçavam a partir da leitura de um material que os vikings haviam produzido.  
É dessa maneira que Soluço fica conhecendo o que o seu povo sabe sobre os dragões... Impressiona-se com o “Pesadelo Monstruoso”, um tipo de dragão que se incendeia antes de atacar suas vítimas... Acha estranho que o livro sobre os dragões não apresenta nada sobre o “Fúria da Noite”, a página está em branco, mas as anotações dos vikings mais experientes alertam sobre a necessidade de não se aproximarem de tamanho perigo...


Mais tarde Soluço acabou descobrindo que sua máquina atingira exatamente um “Fúria da Noite”. Ele poderia matar o bicho, mas decidiu libertá-lo... Por sua vez, o dragão também não o devorou, mas não podia mais voar porque sua cauda debilitou-se durante a caçada que sofreu... Soluço conseguiu reabilitar a cauda do dragão, que passou a ser chamado de Banguela pelo garoto. Aos poucos criou-se um vínculo entre os dois... E isso proporcionou a Soluço um notável aprendizado sobre os principais inimigos de seu povo. Assim, conhecendo mais sobre os dragões, Soluço começou a se destacar entre os recrutas... E sem precisar maltratar os bichos... Todos passaram a se espantar porque o menino se tornara uma espécie de encantador de dragões.


Astrid foi quem descobriu o segredo de Soluço. Ela demonstrou indignação, mas também percebeu que o “bicho não era tão feio”. Graças aos dispositivos que Soluço implementava em Banguela, seus vôos ficavam cada vez melhores e garantiam a ele, inclusive, uma certa dirigibilidade... A garota participou de uns passeios aéreos. Muita adrenalina... Tudo perfeito. Até que encontraram uma espécie de “ninho dos dragões”, onde havia a maior e mais monstruosa criatura que era alimentada pelos outros dragões menores (algo como uma colméia, mal comparando). A comunidade de Soluço e Astrid sempre quiseram descobrir a principal morada dos dragões para eliminá-los de vez... Estava tudo ali, bem à frente dos dois, porém, sem vacilar, Soluço conduz o vôo de Banguela para o mais longe possível.



Na aldeia todos esperam o momento em que o recruta de maior destaque nos treinamentos entre em ação na arena onde eliminará o seu primeiro dragão. O pai de Soluço está orgulhoso, porém o que todos vêem é a atitude pacificadora de Soluço... Uma decepção... O garoto fica numa situação de risco, mas Banguela aparece para socorrê-lo... Mas Stoico decide que o dragão deve ser aprisionado... Ao saber que o bicho conhece o ninho dos dragões, Stoico parte imediatamente com uma esquadra enorme. Eles não sabem do grande perigo lá existente. A expedição tornou-se trágica. Em Berk, Soluço e Astrid convenceram e ensinaram os outros garotos a voarem ao encontro dos demais. A parte final fica por conta do heroísmo de Soluço e de seu fiel amigo Banguela. Todos se convencem de que o menino estava certo. O monstro do ninho é destruído e, a partir de então, uma nova convivência entre os habitantes de Berk e os dragões tem início.

Escrevei sobre algumas considerações em relação ao trabalho que será desenvolvido.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2011/02/filme-como-treinar-o-seu-dragao-algumas.html

Um abraço,
Prof.Gilberto

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Adolfo Casais Monteiro - algumas considerações

Adolfo Casais Monteiro.              

Saibam que este que oferece o seu nome à nossa escola tem uma história que transborda paixão pelas letras e pela existência humana em sua plenitude. Escritor e educador, Adolfo Casais nasceu em Portugal (1908), mas passou uma boa parte da vida entre os brasileiros. Faleceu no ano de 1972, em São Paulo. Sua vinda para o Brasil relaciona-se às perseguições que sofreu ao tempo do Salazarismo em seu país. Foi um interlocutor de Fernando Pessoa, com quem trocou cartas. Alguns de seus poemas revelam-nos a empatia com Pessoa. Esclarecedores são os diálogos que mantiveram sobre os heterônomos pessoanos.

Casais Monteiro também era “antenado” nas produções literárias brasileiras e manteve parceria com o também modernista Rui Ribeiro Couto (este também citado neste blog em http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2010/10/poema-de-rui-ribeiro-couto.html) em Correspondência em Família (1933). Adolfo Casais dedicou-se à obra de Fernando Pessoa, escreveu sobre ele, colaborou com diversos periódicos e escreveu ainda sobre a produção de vários autores nacionais e estrangeiros.    
Dedicou sua maturidade às aulas em universidades brasileiras, sobretudo na cidade de Araraquara, onde lecionou Teoria Literária na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (UNESP). Teve importante participação no Primeiro Congresso Brasileiro de Crítica e História Literária, realizado em Recife no ano de 1960, que contou com a presença de Jean Paul Sartre. O filósofo existencialista francês realizou conferência (muito concorrida pelos intelectuais do país, entre eles Jorge Amado, Ruth e Fernando Henrique Cardoso, Antonio Candido, entre outros) naquele mesmo ano em Araraquara. Casais Monteiro produziu vários artigos acerca das palestras e sobre a passagem de Sartre e de Simone de Beauvoir.

Nesta postagem deixo a reprodução de um exemplar de Nossos Clássicos, uma publicação (década de 1950) da Livraria e Editora Agir, sob a direção de Alceu Amoroso Lima, Roberto Alvim Correa e Jorge de Sena. Tenho alguns volumes da coleção e este Antero de Quental foi de responsabilidade de Adolfo Casais Monteiro.













Um abraço,
Prof.Gilberto





quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Poesia de Adolfo Casais Monteiro, "Eu Falo das Casas e dos Homens"

Por hoje estou deixando este poema de Adolfo Casais Monteiro. A imagem ao lado é de uma fotografia do escritor português. Para as próximas postagens devo deixar alguns registros sobre sua poesia e história.

Eu Falo das Casas e dos Homens

Eu falo das casas e dos homens,
dos vivos e dos mortos:
do que passa e não volta nunca mais.. .
Não me venham dizer que estava materialmente
previsto,
ah, não me venham com teorias!
Eu vejo a desolação e a fome,
as angústias sem nome,
os pavores marcados para sempre nas faces trágicas
das vítimas.

E sei que vejo, sei que imagino apenas uma ínfima,
uma insignificante parcela da tragédia.
Eu, se visse, não acreditava.
Se visse, dava em louco ou em profeta,
dava em chefe de bandidos, em salteador de estrada,
- mas não acreditava!

Olho os homens, as casas e os bichos.
Olho num pasmo sem limites,
e fico sem palavras,
na dor de serem homens que fizeram tudo isto:
esta pasta ensanguentada a que reduziram a terra inteira,
esta lama de sangue e alma,
de coisa a ser,
e pergunto numa angústia se ainda haverá alguma esperança,
se o ódio sequer servirá para alguma coisa...

Deixai-me chorar - e chorai!
As lágrimas lavarão ao menos a vergonha de estarmos vivos,
de termos sancionado com o nosso silêncio o crime feito instituição,
e enquanto chorarmos talvez julguemos nosso o drama,
por momentos será nosso um pouco do sofrimento alheio,
por um segundo seremos os mortos e os torturados,
os aleijados para toda a vida, os loucos e os encarcerados,
seremos a terra podre de tanto cadáver,
seremos o sangue das árvores,
o ventre doloroso das casas saqueadas,
sim, por um momento seremos a dor de tudo isto. . .

Eu não sei porque me caem as lágrimas,
porque tremo e que arrepio corre dentro de mim,
eu que não tenho parentes nem amigos na guerra,
eu que sou estrangeiro diante de tudo isto,
eu que estou na minha casa sossegada,
eu que não tenho guerra à porta,
- eu porque tremo e soluço?
Quem chora em mim, dizei - quem chora em nós?

Tudo aqui vai como um rio farto de conhecer os seus meandros:
as ruas são ruas com gente e automóveis,
não há sereias a gritar pavores irreprimíveis,
e a miséria é a mesma miséria que já havia...
E se tudo é igual aos dias antigos,
apesar da Europa à nossa volta, exangüe e mártir,
eu pergunto se não estaremos a sonhar que somos gente,
sem irmãos nem consciência, aqui enterrados vivos,
sem nada senão lágrimas que vêm tarde, e uma noite à volta,
uma noite em que nunca chega o alvor da madrugada...



Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas