domingo, 16 de maio de 2021

“A Invenção dos Direitos Humanos – uma história”, de Lynn Hunt – evidências da necessidade de se discutir os direitos humanos por ocasião da fundação da ONU; empecilhos colocados por Grã-Bretanha e União Soviética e intriga norte-americana com exigências chinesas; atuação de associações civis pelos direitos e negociações com Departamento de Estado dos EUA; Eleanor Roosevelt e o árduo trabalho da Comissão dos Direitos Humanos; rascunho do professor John Humphrey e a difícil tramitação até a aprovação da Declaração a 10 de dezembro de 1948

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma.html antes de ler esta postagem:

Apesar de todas as evidências de crimes praticados pelos nazistas contra “os judeus, ciganos, eslavos e outros”, os diplomatas das diversas nações reunidos em São Francisco pareciam reticentes sobre discussões a respeito da questão dos direitos... Não fosse a atuação de organizações civis, incitando-os à reflexão sobre a necessidade de pautar os direitos humanos, o tema podia mesmo ser esquecido ou relegado em detrimento de outras discussões.
(...)
O texto esclarece que ainda em 1944 a Grã-Bretanha e a União Soviética rejeitaram “propostas de incluir os direitos humanos na Carta das Nações Unidas”. Representantes ingleses acreditavam que a temática acabaria incentivando lutas por independência em territórios coloniais britânicos, já os soviéticos queriam evitar que a questão se tornasse demais evidente e, desse modo, passasse a ser “inconvenientemente utilizada” em “sua esfera de influência, então em expansão”.
E não é só isso... Também os Estados Unidos se posicionaram contra os chineses que defendiam a inclusão da “afirmação sobre a igualdade de todas as raças” na Carta da ONU.
Como se vê, havia alguns obstáculos para o entendimento necessário à inclusão dos direitos humanos no documento. E isso era protagonizado por países poderosos... Já os representantes de países da América Latina e da Ásia, pequenos ou de média extensão territorial, exigiam maior atenção à questão dos direitos humanos, entre outros motivos, porque traziam um histórico de exploração que sofreram dos países colonialistas e o faziam como que a reivindicar uma reparação.
(...)
Em coro pela defesa dos direitos humanos, conforme o salientado no primeiro parágrafo dessa postagem, estavam associações “religiosas, trabalhistas, femininas e cívicas” que, com seus movimentos, pressionavam os delegados que participavam da conferência.
A maior parte dessas associações tinha sede nos Estados Unidos e contribuíram significativamente para que os funcionários do Departamento de Estado norte-americano se sensibilizassem e colocassem os direitos humanos na Carta... Entre os movimentos que mais atuaram junto aos delegados destacaram-se “o Comitê Judaico Americano, o Comitê Conjunto pela Liberdade Religiosa, o Congresso das Organizações Industriais (CIO), e a Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor (NAACP)”.
Depois que ficou patente que a Carta garantiria “que as Nações Unidas nunca interviriam nos assuntos internos de um país”, União Soviética e Grã-Bretanha também consentiram em discutir os direitos humanos.
(...)
Apesar desses avanços, não havia garantia de que a conferência assegurasse os direitos humanos e sua urgência... O caso é que o documento de 1945 deu ênfase à temática da “segurança internacional” e poucas linhas ao:

                   “respeito e cumprimento universal dos direitos humanos e das liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião”.

Há que se considerar que o documento (a Carta da ONU) criava uma Comissão dos Direitos Humanos, que imediatamente determinou a necessidade de se esboçar “uma carta dos direitos humanos”. A comissão foi presidida por Eleanor Roosevelt, que se destacou na defesa de um projeto que seria levado ao “complexo processo de aprovação”.
Para termos ideia do “complexo processo de aprovação”, “A Invenção dos Direitos Humanos” destaca que um texto preliminar foi elaborado por John Humphrey, professor de Direito da Universidade McGill, do Canadá... A comissão revisaria o rascunho elaborado pelo acadêmico. Após a aprovação, o texto seguiria para a Assembleia Geral, onde devia passar pelo “Terceiro Comitê sobre Assuntos Sociais, Humanitários e Culturais”, composto por representantes de todos os Estados-membros.
Aconteceu que quando a redação sugerida para debate chegou aos representantes soviéticos, estes apresentaram “emendas para quase todos os artigos”. As propostas foram discutidas, e há que se considerar outras de delegados dos demais países, durante oitenta e três reuniões do “Terceiro Comitê”...
Quase 170 emendas foram exaustivamente debatidas e, por fim, “um rascunho foi sancionado para ser votado”.
Enfim, a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi aprovada no dia 10 de dezembro de 1948. A apuração dava conta de que “quarenta e oito países votaram a favor, oito países do bloco soviético abstiveram-se e nenhum votou contra”.
Leia: A Invenção dos Direitos Humanos. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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