quinta-feira, 6 de maio de 2021

“A Ópera de Três Vinténs” – peça de Bertold Brecht musicada por Kurt Weill – acerto de contas entre o policial corrupto e Mac Navalha; denúncias e recompensas do governo no último semestre renderam trinta e oito libras ao chefe Brown; versos indignados do Navalha que acusam a traição; autorizados os ritos finais da execução; Smith sonda a respeito da quantia combinada para a fuga; entram na carceragem o senhor e a senhora Peachum, Polly, Lucy e as garotas de Turnbridge, um reverendo, além de Matthias e Jakob; Jenny mostra porque “é a espelunca”; enfim Peachum pôde fazer o discurso que há muito ensaiara


De fato, Smith comandava os homens na preparação do cadafalso... Tanto é que ao longe foi possível ouvi-lo dizer aos demais que “assim, agora está firme”.
Na cela, Mac Navalha exigia que o chefe Brown apresentasse “as contas”... O policial rendeu-se à tarefa, uma vez que o outro estava insistindo. Então falou sobre certa “quantia referente à captura de assassinos” que haviam sido denunciados pelo próprio Navalha ou pelos seus capangas. Em relação a esse item, o bandido havia recebido do Governo...
Brown não chegou a terminar a frase porque o próprio Navalha emendou que haviam sido três casos, “a quarenta libras cada”, portanto 120 libras... Do total, o chefe da polícia teria direito a vinte e cinco por cento, ou seja, o bando lhe devia trinta libras.
O tira mostrou-se desconfortável com a conversa, falou qualquer coisa em tom de aprovação sobre os cálculos e ia dizendo que não sabia a respeito dos últimos instantes... Novamente o Navalho o interrompeu, pediu para “deixar de baboseiras”... Eram trinta libras e fim de conversa. Depois acrescentou que lhe deviam mais oito libras por certo caso da região portuária de Dover.
A respeito deste item, Brown iniciou um protesto garantindo que oito libras eram pouco pelo que haviam combinado... Mac Navalha perguntou-lhe se não confiava nele. Se sim, devia aceitar que pelo último semestre receberia 38 libras.
Brown deixou escapar soluços de pranto e disse amarguradamente que se devotara “a vida inteira... realizando”. Os dois completaram: “todos os desejos”.
(...)
O Navalha começou a recitar algo sobre campanhas militares que ambos conheceram bem: “Três anos na Índia – John estava lá e Jim também -, cinco anos em Londres, e esta é a paga”. Essa última frase foi dita enquanto mostrava o aspecto que teria após ser enforcado:

“Mackie jamais a um piolho ofendeu
E pende por obra de um ser traiçoeiro.
No seu pescoço, que a corda torceu,
Sente o peso do próprio traseiro.”

O chefe Brown não gostou das palavras que lhe pareceram agressivas demais. Disse que se o outrora amigo apelava e o acusava, atacando sua honra, o agredia injustamente. Por isso começou a se retirar nervosamente da cela.
O Navalha ainda tentou falar algo a respeito da honra do policial, mas este já estava a falar com Smith e não lhe deu atenção.
(...)
Ao policial Smith, Brown deixou claro que sua honra havia sido atingida, e que naquele momento estava ordenando o início da execução, permitindo a entrada de algumas pessoas. Em tom desaforado voltou-se ao condenado a quem disse “com licença, por favor”.
Smith movimentou-se rapidamente e se aproximou do Navalha dizendo que ainda poderia tirá-lo da enrascada, mas o caso é que devia ser naquele momento mesmo porque em um minuto já não seria possível. Tinha de saber se conseguira o dinheiro.
Mac Navalha respondeu que sim, teria o dinheiro assim que Matthias e Jakob voltassem. Smith olhou para todos os cantos como a conferir se alguma boa novidade se confirmava. Logo arrematou que não via “nem sinal deles; portanto: fim de papo”.
As pessoas referidas pelo chefe Brown autorizadas a entrar eram Peachum e esposa, Polly, Lucy, as garotas de Turnbridge, o reverendo e, para a nossa surpresa, Matthias e Jakob...
Jenny, que liderava as prostitutas reclamou que a princípio não queriam que elas entrassem, e só foram autorizadas depois que ela gritou com os “cabeças de merda” para que saíssem do caminho senão quisessem conhecer “quem é Jenny-Espelunca”.
Peachum chegou dizendo que era sogro do sentenciado... Pediu licença e quis saber “qual dos cavalheiros” era o senhor Macheath... O Navalha adiantou-se para se apresentar, então o “rei dos mendigos” passou pela cela e posicionou-se à direita como os demais.
De peito estufado, Peachum pôs-se a discursar:

                   “Senhor Macheath, o destino determinou que o senhor, sem que eu o conhecesse, se tornasse meu genro. As circunstâncias, nas quais eu o vejo pela primeira vez, são bem tristes”.
                               “Senhor Macheath, outrora o senhor tinha luvas de pelica brancas, uma bengala com castão de marfim, uma cicatriz no pescoço e frequentava o Hotel do Polvo. Agora só lhe restou a cicatriz que, dentre todas as suas marcas é a de menor valor; e frequentar, só as gaiolas, para, como é de prever, logo, logo, lugar nenhum...”.

Leia: “A ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um abraço,
Prof.Gilberto

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