Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_34.html antes
de ler esta postagem:
De
fato, Smith comandava os homens na preparação do cadafalso... Tanto é que ao
longe foi possível ouvi-lo dizer aos demais que “assim, agora está firme”.
Na cela, Mac Navalha exigia que o chefe Brown apresentasse “as contas”...
O policial rendeu-se à tarefa, uma vez que o outro estava insistindo. Então
falou sobre certa “quantia referente à captura de assassinos” que haviam sido
denunciados pelo próprio Navalha ou pelos seus capangas. Em relação a esse
item, o bandido havia recebido do Governo...
Brown não chegou a terminar
a frase porque o próprio Navalha emendou que haviam sido três casos, “a
quarenta libras cada”, portanto 120 libras... Do total, o chefe da polícia
teria direito a vinte e cinco por cento, ou seja, o bando lhe devia trinta
libras.
O tira mostrou-se desconfortável com a conversa, falou
qualquer coisa em tom de aprovação sobre os cálculos e ia dizendo que não sabia
a respeito dos últimos instantes... Novamente o Navalho o interrompeu, pediu
para “deixar de baboseiras”... Eram trinta libras e fim de conversa. Depois
acrescentou que lhe deviam mais oito libras por certo caso da região portuária
de Dover.
A respeito deste item, Brown iniciou um protesto garantindo que oito
libras eram pouco pelo que haviam combinado... Mac Navalha perguntou-lhe se não
confiava nele. Se sim, devia aceitar que pelo último semestre receberia 38
libras.
Brown deixou escapar soluços de pranto e disse
amarguradamente que se devotara “a vida inteira... realizando”. Os dois
completaram: “todos os desejos”.
(...)
O Navalha começou a recitar algo sobre campanhas militares que ambos
conheceram bem: “Três anos na Índia – John estava lá e Jim também -, cinco anos
em Londres, e esta é a paga”. Essa última frase foi dita enquanto mostrava o
aspecto que teria após ser enforcado:
“Mackie jamais a um piolho ofendeu
E pende por obra de um ser traiçoeiro.
No seu pescoço, que a corda torceu,
Sente o peso do próprio traseiro.”
O chefe Brown não gostou
das palavras que lhe pareceram agressivas demais. Disse que se o outrora amigo
apelava e o acusava, atacando sua honra, o agredia injustamente. Por isso começou
a se retirar nervosamente da cela.
O Navalha ainda tentou
falar algo a respeito da honra do policial, mas este já estava a falar com Smith
e não lhe deu atenção.
(...)
Ao
policial Smith, Brown deixou claro que sua honra havia sido atingida, e que
naquele momento estava ordenando o início da execução, permitindo a
entrada de algumas pessoas. Em tom desaforado voltou-se ao condenado a quem
disse “com licença, por favor”.
Smith movimentou-se rapidamente e se aproximou do Navalha dizendo que
ainda poderia tirá-lo da enrascada, mas o caso é que devia ser naquele momento
mesmo porque em um minuto já não seria possível. Tinha de saber se conseguira o
dinheiro.
Mac Navalha respondeu que
sim, teria o dinheiro assim que Matthias e Jakob voltassem. Smith olhou para
todos os cantos como a conferir se alguma boa novidade se confirmava. Logo arrematou
que não via “nem sinal deles; portanto: fim de papo”.
As pessoas referidas pelo chefe Brown autorizadas a
entrar eram Peachum e esposa, Polly, Lucy, as garotas de Turnbridge, o
reverendo e, para a nossa surpresa, Matthias e Jakob...
Jenny, que liderava as prostitutas reclamou que a princípio não queriam
que elas entrassem, e só foram autorizadas depois que ela gritou com os “cabeças
de merda” para que saíssem do caminho senão quisessem conhecer “quem é
Jenny-Espelunca”.
Peachum chegou dizendo que era sogro do sentenciado...
Pediu licença e quis saber “qual dos cavalheiros” era o senhor Macheath... O
Navalha adiantou-se para se apresentar, então o “rei dos mendigos” passou pela
cela e posicionou-se à direita como os demais.
De peito estufado, Peachum pôs-se a discursar:
“Senhor Macheath, o
destino determinou que o senhor, sem que eu o conhecesse, se tornasse meu
genro. As circunstâncias, nas quais eu o vejo pela primeira vez, são bem
tristes”.
E continuou tal como havia
ensaiado (vimos em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/03/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_23.html):
“Senhor Macheath, outrora o
senhor tinha luvas de pelica brancas, uma bengala com castão de marfim, uma
cicatriz no pescoço e frequentava o Hotel do Polvo. Agora só lhe restou a
cicatriz que, dentre todas as suas marcas é a de menor valor; e frequentar, só as
gaiolas, para, como é de prever, logo, logo, lugar nenhum...”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_8.html
Leia: “A
ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um
abraço,
Prof.Gilberto