segunda-feira, 24 de maio de 2021

“A Invenção dos Direitos Humanos – uma história”, de Lynn Hunt – avanço da defesa dos direitos humanos entre partidos comunistas da Europa Ocidental; política de abertura às liberdades na União Soviética sob o governo de Gorbatchev; organizações não governamentais e atuação na defesa dos direitos com base na Declaração de 1948; desrespeito aos direitos de mulheres e crianças, práticas de tortura, perseguições e imposição de trabalho em condições análogas à do escravismo; Convenções aprovadas pela ONU; atos bárbaros que se repetiram (e se repetem), indicando que a defesa dos direitos humanos ainda é urgente

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma_20.html antes de ler esta postagem:

Aconteceu que os países comunistas, que mais apresentaram restrições durante as discussões sobre o compromisso que a ONU devia firmar a respeito dos direitos humanos, se tornaram os que proporcionaram o maior avanço em relação a eles.
De acordo com o livro, o início da década de 1970 assistiu a uma mudança sistemática dos diversos partidos comunistas de países da Europa Ocidental, que passaram a adotar uma proposta em “muito semelhante à que Jaurès defendia na França da virada do século” (ver https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma_80.html). Assim, em vez da defesa da “ditadura do proletariado”, salientaram a importância de garantir o pleno exercício dos direitos humanos. Como se sabe, ao final dos anos 1980 também a União Soviética passou pelas reformas defendidas por Mikhail Gorbatchev, então secretário-geral do Partido Comunista.
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Passou-se a entender mundo afora que o líder da Perestroika priorizava uma reforma que levaria o Estado a garantir “a máxima proteção para os direitos e a liberdade do indivíduo soviético”. E essa havia sido sua proposta por ocasião do Congresso do Partido em 1988. Apesar da oposição das alas mais tradicionalistas, houve grande apoio às iniciativas do líder da principal potência comunista e ainda em 1988 “foi criado pela primeira vez um departamento de direitos humanos numa escola de direito soviética”.
Não havia qualquer entrave em relação ao documento de 1948. Pelo contrário... A Declaração “incluía direitos sociais e econômicos – direito à segurança social, ao trabalho, à educação, e assim por diante” e, ainda de acordo com Lynn Hunt, “nos anos 1980 a maioria dos países socialistas e comunistas havia desistido de sua anterior hostilidade aos direitos políticos e civis”. Em síntese, a mudança programática dos partidos sinalizava a convergência com a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
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O livro destaca o envolvimento de organizações não governamentais que se formaram ao longo da segunda metade do século passado e se dedicaram a atuações em diversos países marcados pelo desrespeito aos direitos humanos, pela fome e catastrófica falta de assistência médica aos menos favorecidos.
Juntamente com a globalização, as ONGS exerceram “mais influência internacional no início da década de 1980”. Entre os muitos movimentos, destacavam-se “a Anistia Internacional (fundada em 1961), a Anti-Slavery (continuação da Sociedade Antiescravidão), a Human Rights Watch (fundada em 1978) e Médicos Sem Fronteiras (fundada em 1971)”...
Outras instituições não governamentais mantiveram atuação mais localizada e, apesar das muitas dificuldades, deram continuidade à luta em defesa dos direitos humanos com base na Declaração Universal de 1948. Salienta-se que em muitos casos elas “exerceram mais pressão sobre governos danosos e contribuíram para sanar a fome, a doença e o tratamento brutal de dissidentes e minorias do que as próprias Nações Unidas”.
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Temos de reconhecer que os direitos humanos são causa atual. As muitas matérias nos veículos de comunicação reportam afrontas cotidianas à dignidade humana.
Não é por acaso que o livro sentencia que “é mais fácil endossar os direitos humanos do que os impor”. Obviamente as ações que alertam os gravíssimos casos e as propostas de medidas por “conferências e convenções internacionais contra o genocídio, a escravidão, o uso da tortura e o racismo e a favor da proteção das mulheres, crianças e minorias mostram que os direitos humanos ainda precisam ser resgatados” são indicativos de que os direitos são cotidianamente desrespeitados e que há muito a se fazer.
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Em 1956 os delegados das Nações Unidas firmaram e fizeram anunciar “uma Convenção Suplementar sobre a Abolição da Escravatura, do Tráfico de Escravos e das Instituições e Práticas Análogas à Escravatura”. Apesar disso, estima-se que atualmente há cerca de 30 milhões de pessoas pelo mundo trabalhando em condições análogas à escravidão.
Em 1984 “aprovaram a Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes” exatamente porque há denúncias de que, apesar de o suplício do corpo e os tratamentos degradantes aplicados por processos judiciais terem sido anulados durante o século XVIII, a tortura ainda não foi eliminada e é praticada nos “quartos dos fundos da polícia e das forças militares secretas, e nem tão secretas, dos Estados modernos”.
“A Invenção dos Direitos Humanos” ressalta que os nazistas praticaram crimes bárbaros contra os judeus... Usaram de crueldade também “contra os comunistas, as testemunhas de Jeová, os sabotadores, os terroristas, os dissidentes, os ‘elementos antissociais’ e os ‘vagabundos poloneses ou soviéticos’”. Essa prática de perseguição e tortura contra os elementos considerados “inconvenientes” foi condenada, apesar disso, em muitos outros episódios da segunda metade do século passado, ela foi verificada e denunciada.
O livro cita os exemplos da África do Sul (Apartheid), dos franceses na Argélia (durante a Guerra de Independência), da Grécia, Argentina e Chile (podemos acrescentar outras ditaduras militares em países da América Latina). E mais o escândalo praticado por soldados americanos na prisão iraquiana de Abu Ghraib no início dos anos 2000.
Infelizmente, também de acordo com o livro, “a lista jamais termina. A esperança de acabar com os ‘atos bárbaros’ ainda não se tornou realidade”.
Leia: A Invenção dos Direitos Humanos. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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