Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/o-estrangeiro-de-albert-camus-tarde-com.html antes
de ler esta postagem:
Meursault
atendeu ao telefonema do amigo Sintès durante o expediente... Vimos que o tipo
o convidava para passar o domingo na casa de um conhecido seu. Depois alertou-o
a respeito de uns árabes, entre eles o irmão de sua antiga amante, que o
seguiam. Ficou combinado que, caso percebesse qualquer movimentação suspeita
nas proximidades do prédio onde moravam, o rapaz avisaria.
Logo depois o chefe do escritório mandou chamar o Meursault, que
imaginou que seria advertido a respeito de ter deixado suas tarefas para se
ocupar de telefonemas... Mas o assunto que pretendia tratar era bem outro.
(...)
O chefe começou a falar a
respeito de um projeto e gostaria de saber a opinião de Meursault. A ideia era
instalar escritório em Paris para “tratar diretamente com as grandes companhias”.
O chefe entendia que Meursault, por ser jovem, talvez gostasse
de viajar à capital francesa “durante parte do ano”... Perguntou-lhe a respeito
e a resposta foi um tanto conservadora, pois ao mesmo tempo que admitia que sim,
parecia algo agradável, acrescentou que era indiferente.
Será que não gostava “de uma mudança de vida”? O chefe quis saber...
Meursault respondeu que “nunca se muda de vida” e que “as vidas se equivalem”...
Emendou que o trabalho em Argel não o desagradava. O outro ouviu com certo
espanto e no mesmo instante rebateu que o funcionário “respondia sempre à
margem das questões” e que não demonstrava ambição... Isso era “algo desastroso”
para os negócios.
Meursault retornou para seus afazeres com a sensação
de que não gostaria de descontentar o chefe, mas também com a convicção de que
não tinha razão para modificar a vida.
Pensou sobre o caso e concluiu que não se tratava de um tipo infeliz...
Lembrou-se do tempo de estudante, quando “alimentara muitas ambições desse
gênero”. Depois de ter deixado os estudos passou a entender que “essas coisas
não tinham verdadeira importância”.
(...)
Maria aguardou sua saída do
trabalho... No início da noite perguntou-lhe se gostaria de se casar com ela...
Meursault respondeu que “tanto fazia” e emendou que se ela quisesse, “estava
bem”. Novamente a moça perguntou-lhe se gostava dela, e assim como da primeira
vez, o rapaz adiantou que aquilo não queria dizer nada e que sinceramente
julgava que não a amava.
Se era assim, então por que
aceitava casar-se? Maria quis saber e ele respondeu que “isso não tinha
importância”. Para ele, o caso era simples, se ela quisesse poderiam se casar.
Ela perguntava e ele se contentava em responder que sim.
Ela
gostava do moço, mas o devia achar confuso... Lembrou-lhe que o casamento é “coisa
muito séria”, mas Meursault adiantou que não pensava do mesmo modo. Ela se
calou e permaneceu a olhá-lo até problematizar a respeito da proposta de
casamento: se tivesse sido feita por outra com quem se relacionasse “do mesmo
modo”, teria aceitado?
Meursault respondeu que “possivelmente” aceitaria... Seria o caso de ela
cravar se gostava mesmo dele... Obviamente ele não tinha a menor condição de
dizer qualquer coisa a respeito. Algum tempo se passou até que ela dissesse que
o namorado “era uma pessoa estranha”. Admitiu que, talvez por causa disso
mesmo, gostasse dele e que, também pelo mesmo motivo, poderia “passar aos
sentimentos contrários”.
O rapaz manteve-se calado
exatamente “por não ter nada a acrescentar”. Ela tomou-lhe o braço, sorriu e
declarou que queria casar-se com ele.
(...)
Meursault disse à Maria que sim... Podiam se casar quando
ela quisesse. Depois falou sobre a ideia do chefe, instalação de escritório em
Paris e viagens rotineiras... A garota mostrou animação e desejo de conhecer a
capital da França, então ele lhe disse que já vivera em Paris durante certa
época... E como era a cidade? “Suja. Há pombas e pátios escuros. As pessoas têm
a pele muito branca”.
Depois dessa conversa, o casal fez um passeio pelas maiores e mais
movimentadas avenidas... Ele viu que as mulheres do caminho eram bonitas e perguntou
à companheira se ela achava o mesmo. Maria concordou e emendou que o
compreendia.
Prosseguiram calados e Meursault decidiu que queria
jantar com ela no restaurante do Celeste. A moça respondeu que gostaria, mas
tinha alguns afazeres... Como estavam já próximos ao prédio onde ele morava, “disse-lhe
adeus”. Maria perguntou-lhe se não pretendia saber o que ela tinha a fazer.
Ele queria, mas não atinava o que perguntar...
Então assumia ares de censura e de embaraço que provocaram risos na Maria, que lhe
deu um beijo de “boas noites”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/o-estrangeiro-de-albert-camus-jantando.html
Leia: “O
Estrangeiro”. Editora Abril.
Um
abraço,
Prof.Gilberto