segunda-feira, 24 de maio de 2021

“O Estrangeiro”, de Albert Camus – o chefe tem um projeto para a ampliação das atividades do escritório em Paris; Meursault e sua visão pouco ortodoxa em relação à carreira; Maria buscou o namorado no trabalho e o questionou a respeito de casarem-se; um moço estranho, sincero e pouco romântico

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/o-estrangeiro-de-albert-camus-tarde-com.html antes de ler esta postagem:

Meursault atendeu ao telefonema do amigo Sintès durante o expediente... Vimos que o tipo o convidava para passar o domingo na casa de um conhecido seu. Depois alertou-o a respeito de uns árabes, entre eles o irmão de sua antiga amante, que o seguiam. Ficou combinado que, caso percebesse qualquer movimentação suspeita nas proximidades do prédio onde moravam, o rapaz avisaria.
Logo depois o chefe do escritório mandou chamar o Meursault, que imaginou que seria advertido a respeito de ter deixado suas tarefas para se ocupar de telefonemas... Mas o assunto que pretendia tratar era bem outro.
(...)
O chefe começou a falar a respeito de um projeto e gostaria de saber a opinião de Meursault. A ideia era instalar escritório em Paris para “tratar diretamente com as grandes companhias”.
O chefe entendia que Meursault, por ser jovem, talvez gostasse de viajar à capital francesa “durante parte do ano”... Perguntou-lhe a respeito e a resposta foi um tanto conservadora, pois ao mesmo tempo que admitia que sim, parecia algo agradável, acrescentou que era indiferente.
Será que não gostava “de uma mudança de vida”? O chefe quis saber... Meursault respondeu que “nunca se muda de vida” e que “as vidas se equivalem”... Emendou que o trabalho em Argel não o desagradava. O outro ouviu com certo espanto e no mesmo instante rebateu que o funcionário “respondia sempre à margem das questões” e que não demonstrava ambição... Isso era “algo desastroso” para os negócios.
Meursault retornou para seus afazeres com a sensação de que não gostaria de descontentar o chefe, mas também com a convicção de que não tinha razão para modificar a vida.
Pensou sobre o caso e concluiu que não se tratava de um tipo infeliz... Lembrou-se do tempo de estudante, quando “alimentara muitas ambições desse gênero”. Depois de ter deixado os estudos passou a entender que “essas coisas não tinham verdadeira importância”.
(...)
Maria aguardou sua saída do trabalho... No início da noite perguntou-lhe se gostaria de se casar com ela... Meursault respondeu que “tanto fazia” e emendou que se ela quisesse, “estava bem”. Novamente a moça perguntou-lhe se gostava dela, e assim como da primeira vez, o rapaz adiantou que aquilo não queria dizer nada e que sinceramente julgava que não a amava.
Se era assim, então por que aceitava casar-se? Maria quis saber e ele respondeu que “isso não tinha importância”. Para ele, o caso era simples, se ela quisesse poderiam se casar. Ela perguntava e ele se contentava em responder que sim.
Ela gostava do moço, mas o devia achar confuso... Lembrou-lhe que o casamento é “coisa muito séria”, mas Meursault adiantou que não pensava do mesmo modo. Ela se calou e permaneceu a olhá-lo até problematizar a respeito da proposta de casamento: se tivesse sido feita por outra com quem se relacionasse “do mesmo modo”, teria aceitado?
Meursault respondeu que “possivelmente” aceitaria... Seria o caso de ela cravar se gostava mesmo dele... Obviamente ele não tinha a menor condição de dizer qualquer coisa a respeito. Algum tempo se passou até que ela dissesse que o namorado “era uma pessoa estranha”. Admitiu que, talvez por causa disso mesmo, gostasse dele e que, também pelo mesmo motivo, poderia “passar aos sentimentos contrários”.
O rapaz manteve-se calado exatamente “por não ter nada a acrescentar”. Ela tomou-lhe o braço, sorriu e declarou que queria casar-se com ele.
(...)
Meursault disse à Maria que sim... Podiam se casar quando ela quisesse. Depois falou sobre a ideia do chefe, instalação de escritório em Paris e viagens rotineiras... A garota mostrou animação e desejo de conhecer a capital da França, então ele lhe disse que já vivera em Paris durante certa época... E como era a cidade? “Suja. Há pombas e pátios escuros. As pessoas têm a pele muito branca”.
Depois dessa conversa, o casal fez um passeio pelas maiores e mais movimentadas avenidas... Ele viu que as mulheres do caminho eram bonitas e perguntou à companheira se ela achava o mesmo. Maria concordou e emendou que o compreendia.
Prosseguiram calados e Meursault decidiu que queria jantar com ela no restaurante do Celeste. A moça respondeu que gostaria, mas tinha alguns afazeres... Como estavam já próximos ao prédio onde ele morava, “disse-lhe adeus”. Maria perguntou-lhe se não pretendia saber o que ela tinha a fazer.
Ele queria, mas não atinava o que perguntar... Então assumia ares de censura e de embaraço que provocaram risos na Maria, que lhe deu um beijo de “boas noites”.
Leia: “O Estrangeiro”. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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