Logo no início do século XIV apareceram os primeiros relatos de frades a respeito da localização africana do Preste João e seu reino...
O primeiro de que se tem notícia é do frei Odorico da Pordenone, que teria viajado em missão para longínquas terras durante 12 ou 14 anos (teria partido de Veneza em 1316 ou 1318) e retornado, passando pela Pérsia, em 1330...
As situações vivenciadas durante a longa viagem teriam sido ditadas por Pordenone ao confrade Solagna, um de seus colegas de mosteiro que as redigiu em latim. A respeito do Preste João, o missionário disse que “nem a centésima parte do que se disse sobre ele é verdade”...
O segundo foi o frade dominicano Jourdain de Séverac. Ele percorreu as mesmas regiões da África Oriental e da Ásia vencidas por Odorico da Pordenone. Também Séverac fez viagem missionária durante as primeiras décadas dos anos 1300 e produziu um relatório geográfico denominado “Mirabilia descripta” no qual garantiu que o Preste João era senhor soberano na “Terceira Índia”, ou seja, “na Etiópia” e sobre os seus vizinhos ao sul e a oeste”.
(...)
"Atlas Catalão"-google 31.05.20; 19:25 |
Em fins do século XIV
os registros que afiançavam a presença do Preste João em terras da África
sustentaram-se em bases mais científicas. Diferentemente dos relatos da época
das cruzadas, documentos produzidos por religiosos, comerciantes, navegadores e
cartógrafos demarcaram com maior precisão as localidades a que se referiam os
narradores e cronistas... Como se sabe, os antigos relatos eram envoltos em
lendas e limitações de ordem geográfica e circunscritas ao Mediterrâneo.
Tinhorão
faz referência ao primeiro dos mapas a trazer maiores detalhes, ilustrações e
informações a respeito de paragens situadas muito além do conhecido
Mediterrâneo... O “Atlas Catalão” foi produzido em 1375 (faz parte do acervo da
Biblioteca Nacional da França) e é de autoria do judeu maiorquino Abraão
Cresques. Além de um calendário, o Atlas traz mapa que apresenta a Europa e a
África do Norte com muitos pormenores, além de proporcionar um vislumbre do
Atlântico e contornos do continente Indiano... O Egito está devidamente
destacado e onde Cresques desenhou o Nilo Superior, fez questão de registrar: “Seyñoria
del emperador de Ethiopia dela terra del Preste Johã”.
(...)
Essas e outras informações
levaram os debatedores do século seguinte a cravarem a área de domínio do Preste
João nos “altos da Abissínia-Etiópia”. E cada vez mais na África, voltada ao “Mar
Vermelho e Golfo de Áden, no Índico, a olhar para a Arábia”.
O navegador Matias
Viladestes, também maiorquino, apontou em 1413 que o Preste João tinha suas
possessões em região “logo abaixo de onde se dá, no Nilo, a confluência dos
rios Azul e Branco, ou seja, exatamente na altura da Etiópia, a oeste”.
Guillaume de Fillastre (ou Filastro; cardeal francês) era um estudioso
da Geografia. Ele se destaca por ter desenhado um detalhado mapa da Europa em
que nas águas mais afastadas se nota o contorno do que seria a Groenlândia. Em
1418, Fillastre produziu um mapa-múndi que sugeria a existência de terras desconhecidas
tanto ao norte quanto ao sul... No mesmo trabalho, grafou um registro na costa
leste da África: “Ind. Prb. Jo”, que deve ser entendido como “Índia do Preste
João”.
(...)
O fato é que todas essas informações sobre o domínio de um rei cristão
em terras orientais, e mais exatamente na África, fizeram com que os europeus
continuassem a crer na existência do Preste João, todavia entenderam que não
deviam mais buscá-lo na Ásia.
Não foi por acaso que o Infante D. Henrique, que
obtivera muitas conquistas desde a ocupação de Ceuta e as expedições pelo
oceano Atlântico e águas abaixo do Cabo do Não, chegasse à conclusão de que devia
investir em incursões pelo continente africano na busca de um aliado cristão
que deviam encontrar no interior.
Mas
isso é assunto para as próximas postagens. Até lá.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/06/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore.html
Leia: Rei
do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto