Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_25.html antes
de ler esta postagem:
Fernão de Melo, o capitão e governador de São
Tomé, que conhecemos por suas maldades contra os congoleses e o rei D. Afonso,
foi dos que mais demonstraram contrariedade em relação às restrições “do poder
real à liberdade geral do comércio”, notadamente ao que dizia respeito aos
negócios envolvendo a mão-de-obra escrava obtida na África.
(...)
A título de
recapitulação, vale lembrar que a ilha de São Tomé havia sido descoberta pelos
portugueses em 1470 e tornou-se capitania quinze anos depois por decisão de D.
João III... A Fernão de Melo coube governá-la a partir dos inícios de 1500.
(...)
As iniciativas do governador sobre a obtenção de escravos começaram logo
que São Tomé despontou como produtora de açúcar. A criação de uma feitoria no
Congo acabou favorecendo as transações que permitiam as transferências e
aquisição de escravos. Fernão de Melo não titubeou ao se acertar com os
“pombeiros”, traficantes que atuavam sorrateiramente no Congo e que provinham
do interior, do “mpombe”.
D.
Afonso logo percebeu a atuação dos traficantes em conluio com o governador de
São Tomé e reconheceu que os acertos com os monarcas portugueses (D. João II e
D. Manuel) visando o “pacto político-econômico” se inviabilizariam...
Em sua carta a D.
João III, de 6 de junho de 1526, D. Afonso do Congo apresenta seus protestos:
“Senhor, Vossa
Alteza saberá como nosso reino se vai a perder em tanta maneira que convém
provermos a isso com remédio necessário, o que causa a muita soltura que vossos
feitores e oficiais dão aos homens e mercadores se virem a este reino assentar
com lojas, mercadorias e coisas muito por nós defesas”.
O rei cristão do
Congo dava mostras de que pretendia que o monarca aliado de Portugal colocasse termo
à atuação de súditos que se instalavam no Congo favorecidos pelos feitores e
oficiais que deviam se submeter às orientações da Coroa...
Mas não havia
obediência dos portugueses que ocupavam cargos de confiança e tampouco daqueles
que se dedicavam ao comércio ilegal de escravos... E a respeito de sua atuação,
D. Afonso destacou ao rei português:
“E
não havemos este dano por tamanho como é que os ditos mercadores levam cada dia
nossos naturais filhos da terra e filhos de nossos fidalgos e vassalos e nossos
parentes porque os ladrões e homens de má consciência os furtam com desejo de
haver assim as coisas e mercadorias desse reino que são desejosos”. (...)
“em
tanto maneira Senhor é esta corrupção e devassidão que nossa terra se despovoa
toda, o que Vossa Alteza não deve haver por bem nem seu serviço”.
(...)
As denúncias contra a atuação de Fernão de Melo
eram antigas... D. Afonso do Congo havia enviado longa carta a D. Manuel em
1514 com uma série delas. Nenhuma providência foi tomada.
A referida
correspondência a D. João III, de 1526, foi respondida pelo rei português em
1529. Ele tratou de “acalmar a indignação” do aliado africano, mas sem dar
mostras de que atuaria contra a “escravização de naturais do Congo”.
Abaixo segue trecho da resposta:
“Dizeis em vossas cartas que
não quereis que em vosso reino haja resgate de escravos isto por que se vos
despovoa a terra; bem creio que com as paixões que vos dão (os) portugueses
dizeis isso, porque me dizem da grandeza do Congo e como é povoados que parece
que nunca dele saiu um escravo e assim (igualmente) me dizem que os mandais
comprar fora e que os casais os fazeis cristãos, pela qual terra é muito
povoada. O que me parece bem e assim agora com esta ordem que esta gente leva e
com a que lá tendes de mandar aos pumbos (feiras de escravos) parece que haverá
muitos escravos”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_19.html
Leia: Rei
do Congo. Editora 34.
Um
abraço,
Prof.Gilberto