Boas festas a todos.
Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/12/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_30.html antes de ler esta
postagem:
O velho teceu duras críticas ao Rabi da
Galileia... Em sua opinião, Ele não se manifestou contra os comerciantes ricos
porque esses podiam pagar as pesadas taxas! Sua atitude tirou o seu sustento...
Restava-lhe andar por
aí... E pensar que tinha uma filha viúva e adoentada e com os filhos pequenos e
famintos! O que ele não conseguia entender era por que sofrera tamanha
violência... Como podia aquilo ocorrer? Sempre fora humilde, cumpridor do Sabá
e frequentador da sinagoga em Naim! Acaso fazia algum mal vendendo nas
proximidades do templo? Ofendia o Senhor? Jamais estendera a esteira e
instalara suas pedras sem antes beijar as lajes e pedras!
Lágrimas escorreram pelas faces do pobre velho que por fim sentenciou
que “Jeová é grande” e que havia sido expulso pelo Rabi porque era pobre...
(...)
Teodorico
emocionou-se com o depoimento do velho... Em seus registros, explicou que ficou
angustiado porque entendia que Jesus não se dera conta do trauma causado ao
pobre “vendilhão”... Em síntese, o Raposo pensava que as mãos misericordiosas
de Jesus criaram involuntariamente essa situação assim “como a chuva benéfica
por vezes, fazendo nascer a sementeira, quebra e mata uma flor isolada”.
(...)
Sensibilizado com a
história do comerciante injustiçado, Teodorico resolveu dar-lhe várias de suas
moedas (“dracmas, crisos gregos de Filipe, áureos romanos de Augusto”...),
incluindo uma da Cirenaica que trazia como cunha “uma cabeça de Zeus Amon”.
Com
isso imaginava “pagar a dívida de Jesus” em Sua injustiça aos pobres que
vendiam no templo... Teodorico pensou nos próprios pecados... Talvez sua
iniciativa levasse “o Pai de Jesus” a perdoá-lo.
Também Topsius
resolveu entregar “um lepta de cobre” (valia “um grão de milho” na Judeia) ao
homem... Este acomodou o dinheiro junto ao peito, olhou para as nuvens e pediu
ao Pai dos céus que se lembrasse daquele que lhe dava para “o pão de longos
dias”.
(...)
O velho pedreiro de
Naim sumiu no meio da multidão...
No átrio as pessoas
se concentravam novamente à sombra do grande tecido romano sustentado por
mastros...
No centro das atenções estavam o escriba, que parecia ainda mais
ofegante por causa do calor, e o Rabi cercado por guardas do templo... Sareias
chegou com seu cajado e tomou sua posição.
Logo apareceram os lictores em meio ao brilho de armas... Evidentemente
antecediam o pretor... Este chegou com sua longa toga, subiu os degraus e
sentou-se na cadeira de costume.
O silêncio dominou o ambiente de tal forma que
foi possível ouvir as buzinas da longínqua Torre Mariana.
Sareias abriu o
pergaminho escuro e o colocou sobre a mesa onde já se encontravam os vários
livros de regras... O escriba traçou uma rubrica e cravou um selo no documento
apresentado pelo representante do Sanedrim, que condenava o Rabi da Galileia à
morte...
Na sequência, Pilatos ergueu o braço e confirmou a sentença da corte
judaica. Depois de colocar uma das pontas de seu manto sobre o turbante,
Sareias abriu as mãos e elevou-as ao céu para orar... Via-se que os fariseus
comemoravam... Alguns se beijavam triunfantes... Outros aclamavam “Bene et
belle! Non potest melius!" a se divertirem com as máximas proferidas após
os julgamentos presididos pelos romanos.
De
repente o intérprete tomou a palavra... Os que celebravam interromperam suas
manifestações e silenciaram. Foi uma surpresa porque todos ali tomavam o caso
por encerrado.
O fenício havia
falado discretamente com o escriba... Depois de um leve sorriso pronunciou em
alta voz, em caldaico, que na festa de Páscoa havia o costume (desde as
determinações do pretor Valério Grato) de o pretor conceder o perdão a um
criminoso.
O
silêncio tornou-se aterrador... O intérprete explicou que o pretor propunha o perdão ao
Rabi... E acrescentou que o povo local tinha o direito de escolher, entre os
condenados, quem seria beneficiado.
Leia: A
Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto