Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma_24.html antes
de ler esta postagem:
Estamos
na parte final das reflexões propostas por “A Invenção dos Direitos Humanos”. Como
vimos, as leituras nos proporcionaram o (longo) percurso pela História da luta
pelos direitos, seus entraves e avanços e retrocessos...
No início dos estudos, vimos o quanto alguns clássicos da literatura
contribuíram para o desenvolvimento da empatia e aos poucos a questão dos
direitos sensibilizou diversos pensadores e grupos que passaram a exigir
reformas judiciais e mudanças de costumes.
(...)
A exposição das necessidades
de se explicitar os direitos nas Declarações não foi suficiente para evitar que
as sociedades recaíssem em lamentáveis práticas que atentam contra a
razoabilidade das garantias mínimas de dignidade para todos... Os muitos
ataques aos direitos em nosso tempo nos levam a concluir que a causa dos
direitos humanos permanece atual e, como o livro reforça, “é mais fácil
endossar os direitos do que os impor”.
O caso é que tortura, limpeza étnica, atrocidades
cometidas durante conflitos bélicos (o estupro, por exemplo), e ainda “opressão
continuada das mulheres, o tráfico sexual de crianças e mulheres, mais a
prática do escravismo” têm sido praticados e em muitos casos como resultado de
um retrocesso, uma espécie de regressão das sociedades ao obscuro tempo em que
sustentava-se que o suplício do corpo era castigo exemplar que pagava a afronta
(o delito) ao Estado representado pela liderança política.
As questões que podemos levantar dizem respeito à eficácia dos direitos
em relação à árdua tarefa... Mostraram-se inadequados? O que ocorreu com a
capacidade de empatia que tornou possível o estabelecimento dos direitos ao
longo do tempo?
(...)
O desenvolvimento de habilidades que permitiram a
leitura, escrita e produção de gêneros diversos (“romances, jornais, rádio,
filmes, televisão e internet”) possibilitou que populações inteiras desenvolvessem
empatia por comunidades distantes em condições precárias (o livro cita a fome
em Bangladesh, relatos sobre o assassinato de adultos e crianças na Bósnia) e
se mobilizassem na arrecadação de dinheiro e recursos (alguns se voluntariaram
para atuar no local mesmo das tragédias) para socorrê-las...
Por outro lado, muitas vezes por questões relacionadas à intolerância de
fundo étnico, comunidades vizinhas se debatem ferozmente... As violências cometidas
por causa de fundamentalismos religiosos são praticadas desde muitos anos
atrás.
Vários estudos demonstram que mesmo os que não sustentam
fundamentalismos políticos ou religiosos podem ser levados, de acordo com as
circunstâncias, “a empreender o que sabem ser assassinato em massa em combates
corpo a corpo”. Neste ponto do texto, a autora afiança que os diversos
torturadores (da Argélia, Argentina ou Abu Ghraib), no início, eram apenas “soldados
comuns”. E para a nossa reflexão, lembra que tanto os torturadores quanto os
assassinos “são como nós e infligem dor a pessoas que estão bem diante deles”.
(...)
Então é isso. Temos modernos
mecanismos de comunicação que, de um modo geral, foram utilizados para difundir
o sentimento de empatia... No entanto as atrocidades persistem e vemos que
muitos a anulam para praticar o mal aos demais.
(...)
O livro dá destaque para a
questão da “ambivalência” que a própria disseminação da empatia pode provocar.
Isso ocorre desde o século XVIII...
Em “Teoria
dos sentimentos morais”, Adam Smith nos dá um exemplo acerca das reações do “homem
europeu humanitário na Europa” diante da notícia de um suposto terremoto
ocorrido na distante China e que vitimou “centena de milhões de pessoas”.
De acordo com Adam Smith, o “homem humanitário” em sua distante
realidade (de europeu humanitário como os demais europeus à sua volta) diria “todas
as coisas adequadas” a respeito da tragédia na China, logo retomaria seus
afazeres e pouco ou nada mais do evento o incomodaria... Mas, ainda de acordo
com o filósofo e economista britânico, se o “homem humanitário europeu” ficasse
sabendo que no dia seguinte “perderia o dedo mínimo”, passaria por uma agitação
que se prolongaria por toda a noite. A questão que Smith levanta é: “sacrificaria
a vida dos milhões de chineses em troca da integridade de seu dedo mínimo? A
resposta é negativa. E na sequência, somos levados a pensar: por que o
indivíduo se mostra capaz de agir e optar por escolhas que supostamente vão
contra o seu próprio interesse?
Adam Smith nos responde que
há uma força maior e mais forte do que a do interesse próprio... A consciência,
sobre a qual afirma:
“É
a razão, o princípio, a consciência, o habitante do peito, o homem interior, o
grande juiz e árbitro da nossa conduta”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma_30.html
Leia: A
Invenção dos Direitos Humanos. Companhia das Letras.
Um
abraço,
Prof.Gilberto