quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Prece, in "A Mensagem", de Fernando Pessoa; uma análise

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2010/11/prece-poema-de-fernando-pessoa.html antes de ler esta postagem:

Conforme o combinado, segue aqui uma análise que fiz há algum tempo sobre este Prece. Na ocasião li uma edição comentada de A Mensagem. Para quem não sabe, este é um texto dividido em vários poemas que Fernando Pessoa fez em homenagem a Portugal e a todos os feitos históricos daquele país. Essa obra foi inscrita em um concurso nacional de 1934. Acho que a maioria de nós escolheria A Mensagem, porém os árbitros não pensaram assim... Pessoa não foi o vencedor.
Meu texto:
Interpretar o poema Prece requer um esforço de contextualizações. É que o texto faz parte de uma obra maior, Mensagem, finalizada por Fernando Pessoa em 1934. A leitura de A Mensagem, acompanhada de notas que fazem referências à História de Portugal, leva-nos a essas contextualizações: o passado de lutas cristãs contra os árabes na Península Ibérica; o processo de independência em relação ao Reino de Castela; a construção do vasto império marítimo e a decadência após a morte de D. Sebastião; e a conseqüente União Ibérica, que submeteu os portugueses ao domínio espanhol. É claro que devemos levar em conta também a sensibilidade do poeta, a sua formação e aspirações ideológicas, que são analisados em volume da Coleção Poesia Comentada da Editora Núcleo.
Prece é o ultimo poema da segunda parte de A Mensagem. Podemos dizer que ele fecha uma série de textos em que o autor narrara a conquista do império português a partir dos mares. Não é por acaso que esta Segunda Parte de A Mensagem é intitulada Mar Português. Os poemas anteriores celebram a História Portuguesa e o modo como os monarcas, sobretudo da Dinastia de Avis, foram decisivos para esse poderio. Vários monarcas e membros da família real são enaltecidos, com destaque para o infante D. Henrique, o fundador da Escola de Sagres. A luta contra os sarracenos era de inspiração cristã e as intenções de D. Sebastião ao lutar no norte africano eram as de estabelecer o tempo glorioso. Sua morte é desaparecimento que se torna sagrado. Depois dela (1578) vem a conquista espanhola. O retorno de D. Sebastião é messianicamente aguardado, é ele quem pode redimir os portugueses e trazer de volta o império e o justo domínio luso sobre as terras ultramarinas.

A prece percebida em Prece é a da noite em que a escuridão chega e recorremos ao Senhor para que nos proteja. A noite veio para a História portuguesa de conquistas com a morte de D. Sebastião, os portugueses estão cabisbaixos. A noite revela uma situação escurecida (Restam-nos hoje, no silêncio hostil, O mar universal e a saudade). Mas não é só isso. Em Prece percebemos a altivez lusitana. Pessoa dá a entender que os heróis portugueses foram apenas os instrumentos das vontades do próprio Deus. É por isso que a noite escura ainda não é o fim, não é a derrota (Mas a chama, que a vida em nós criou, Se ainda há vida ainda não é finda). O orgulho que o passado lusitano dá aos portugueses traz a certeza de que novos ventos empurrarão suas caravelas e sua História para a frente (A mão do vento pode ergue-la ainda) ... (E outra vez conquistaremos a Distância – Do mar ou outra, mas que seja nossa!).

Um abraço,

Prof.Gilberto

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