segunda-feira, 10 de maio de 2021

“A Ópera de Três Vinténs” – peça de Bertold Brecht musicada por Kurt Weill – comparações relevantes entre texto da peça e filme em seus trechos finais; personagens e eventos que envolveram a manifestação da gente miserável durante as festividades da coroação; sobre Polly, Lucy, Jenny e Suky Tawdry; retomando o filme – a banqueira Polly em seu esforço para pagar a fiança de dez mil ao chefe de polícia; Peachum encontra resistência silenciosa dos manifestantes que ele mesmo havia organizado


Depois das várias postagens sobre o texto da peça é momento de retornarmos à adaptação para o cinema em seus recortes derradeiros.
Antes, porém, deixaremos mais algumas considerações à guisa de comparação entre as duas obras.
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De acordo com o texto, o velho Peachum manteve seus agregados organizados até o fim. O caso é que, após a incursão de Brown e seus comandados à rouparia, eles foram encaminhados pelo patrão à prisão de Old Bailey, onde se daria o enforcamento...
No filme não é assim. Vimos que os mendigos se mantiveram firmes em sua manifestação apesar do esforço de Peachum em acabar com o movimento.
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Temos de lembrar que, no filme, estávamos no ponto em que, após as revelações bombásticas sobre o Navalha ter se tornado “presidente de um banco” e Polly ser “convidada de honra na tribuna” da coroação da rainha, o velho Peachum se desespera e tenta a todo custo evitar que seus mendigos realizem as aglomerações para tumultuar os desfiles em homenagem à rainha e à sua coroação.
Como sabemos, a manifestação da gente miserável complicaria a situação do chefe de polícia que, para o “rei dos mendigos”, acobertara a fuga do Navalha*. Mas como pudemos depreender, as informações trazidas por Dona Célia mudaram completamente o entendimento do marido**.
                   * Peachum não sabia que seu desafeto estava preso. No texto da peça é Lucy quem o ajuda a escapar do cárcere. Veremos que, no filme, ele foge da prisão graças ao auxílio de Jenny.
                   ** Essas informações podem ser conferidas em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_21.html.
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Depois o narrador fez breve aparição. Já havíamos adiantado que a próxima cena ocorre na grande sala do Banco dirigido por Polly...
Tudo isso é adaptação. O texto da peça deixa claro que Polly seguiu as orientações de Mac Navalha e enviou o dinheiro juntado com as atividades criminosas para um banco em Manchester. Além disso, no texto não há nenhuma referência sobre Polly ter se tornado proprietária e manager de instituição financeira. Desse modo, ela não teria mesmo como auxiliar o condenado. Veremos que, nesse sentido, o filme alterou consideravelmente o enredo original.
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Aqui temos de adiantar ainda que o encontro de Polly e Lucy não se repete no filme. Aliás a filha de Brown sequer é citada na fita... Outra personagem, Suky Tawdry, a prostituta com quem o Navalha decidiu passar a noite em vez de fugir, é mencionada apenas de passagem por Jenny. Aliás, como adiantamos anteriormente, a participação desta no desfecho do caso é bem diferente do verificado na peça, que a manteve na posição de traidora de Mac Navalha até o fim.
Cabe destacar ainda que, inevitavelmente, muitas das baladas interpretadas nos palcos (da servidão sexual; a canção da ineficácia do empenho humano; a canção de Salomão; o clamor da tumba; a balada do pedido de desculpas; o canto dos mais pobres deste mundo...) deixaram de ser contempladas no filme.
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Retomando o filme...
Na grande sala de seu Banco, Polly exigiu de seus diretores que conseguissem três mil em dinheiro o mais rápido que pudessem. Os homens se mostraram preocupados e começaram a andar de um lado para outro. Ela exigiu que obtivessem a quantia sem que cometessem erros.
Sem esconder a própria agitação, ela quis saber dos tipos se estavam nervosos. Depois disse a eles que o melhor amigo que tinham, o Tiger Brown, havia ordenado a prisão de Mac Navalha...
Aconteceu que um dos funcionários trouxe grande quantidade de dinheiro e Polly revelou que precisavam entregar dez mil libras para pagar uma fiança ao chefe de polícia e assim esperavam liberar o Navalha. Ao verem a pasta carregada de notas, os diretores, conhecidos capangas, avançaram para cumprir a missão alegando que as ruas estavam apinhadas de gente.
Visivelmente desconfiada, a mulher decidiu que um “fiel funcionário do banco” ficaria encarregado de levar o dinheiro ao Brown. Aos tipos vociferou que àquela hora deviam estar na Bolsa de Valores.
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Na cena seguinte, vemos Peachum em sua impossível missão de conter a marcha dos miseráveis. Ele seguia correndo o risco de ser pisoteado por todos enquanto avançava sobre eles... Aos berros avisava que erravam ao “usar a força”.
Estavam numa localidade em que havia certa organização policial, então os tiras começaram a se movimentar para dissipar os rebeldes.
Peachum começou a gritar que seriam atingidos pelos balaços das armas dos policiais... Mas não havia modo de contê-los.
Leia: “A ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um abraço,
Prof.Gilberto

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