quarta-feira, 26 de maio de 2021

“O Estrangeiro”, de Albert Camus – o velho Salamano retorna aos seus aposentos depois de desabafar com Meursault; amanhecer do domingo da visita à casa de praia do amigo de Sintès; na véspera foi o depoimento de testemunha de defesa; Maria segue animada, mas se preocupa com a história dos árabes; um belo caminho

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/o-estrangeiro-de-albert-camus-jantando.html antes de ler esta postagem:

O velho Salamano havia ficado por alguns instantes no apartamento de Meursault... Via-se que ele precisava desabafar e ouvir algum consolo a respeito da perda de seu cão...
Talvez para mostrar que estava agradecido ao rapaz, resolveu dizer-lhe que as pessoas do bairro o criticavam por ter colocado a mãe no asilo. Isso gerou certo desconforto e foi sem jeito que, antes de se despedir, lhe disse que “no asilo, ao menos, arranjam-se amigos”.
Meursault queria dormir... Pensou no velho e em sua condição de não saber o que fazer após a mudança da vida provocada pelo desaparecimento do cão, mas não disse mais nada. Apertou a mão que Salamano lhe estendera e sentiu sua pele escamosa. Ouviu-o dizer que esperava que os cães não passassem a noite a latir porque ficava a imaginar que era o seu que estivesse por aí.
(...)
O domingo amanheceu e Meursault demorou-se a acordar. Maria o chamou e deu-lhe umas sacudidas para que se levantasse. Resolveram que não tomariam o café da manhã porque pretendiam aproveitar o mar o quanto antes. A casa do amigo do Sintès ficava na praia...
O rapaz sentiu o mal-estar por não ter se alimentado, a cabeça lhe doía e o cigarro lhe amargava a boca. Estava tão mal que a namorada lhe disse que sua fisionomia era de “cara de enterro”. Bem ao contrário, ela estava com os cabelos soltos, usava um gracioso vestido branco e foi elogiada por ele.
Chegaram à porta do Sintès e bateram... O tipo respondeu que logo sairia. A claridade do sol bateu em cheio, como uma bofetada, no rosto de Meursault assim que chegaram à rua. Ele era só protestos... Maria estava saltitante e não parava de elogiar o dia ensolarado.
O rapaz reclamou que estava com fome, então, para mostrar que não trazia nada para comer, Maria mostrou-lhe a sacola de praia com as roupas de banho e toalha. Esperaram o Sintès e ouviram quando sua porta se fechou...
O tipo apareceu vestindo “calças azuis e uma camisa branca, de mangas curtas”. Trazia um chapéu de palha na cabeça. Maria não segurou o riso que aquilo provocava. Já Meursault notou que “sob os pelos escuros”, Sintès tinha uma pele muito clara de “dar nojo”... Enquanto descia para a saída, assobiava e mostrava-se contente pelo dia de lazer que estava começando. Ao notar Maria, tratou-a por “Menina”.
(...)
Neste ponto, Meursault lembrou que na véspera tinha ido ao comissariado para apresentar o seu testemunho a respeito do espancamento que o Sintès impusera à amante... Lembrou de ter testemunhado que a mulher o havia enganado. E que o caso tinha dado em pouca coisa, “um aviso e uma reprimenda”. Sua informação de testemunha sequer foi verificada...
Falou com o Raimundo Sintès a este respeito à saída do prédio. Na sequência decidiram se dirigir ao ponto onde pegariam o ônibus que os levaria à praia. O tipo estava animado e entendeu que faziam bem de chegar mais cedo, pois isso agradaria ao amigo que os receberia.
Estavam mesmo para sair quando Sintès sinalizou ao camarada para que ele observasse à sua frente um grupo de árabes que estavam “encostados a um quiosque de tabacos”... Meursault percebeu que eles os olhavam, mas, à sua maneira, estavam quietos e não pareciam fazer caso de suas presenças... Para eles, os três eram como “árvores mortas ou simplesmente pedras”.
Sintès quis que Meursault prestasse atenção ao que, a partir da esquerda, era o segundo... Preocupado, disse que era o irmão de sua antiga amante. Depois emendou que o caso já tinha virado “história antiga”.
Quem não estava entendendo era Maria, que perguntou “o que se passava”. O namorado respondeu que se tratava de “uns árabes ressentidos com o Raimundo”. Ela sugeriu que partissem o quanto antes. Sintès deu risada.
(...)
Caminharam até um ponto de ônibus que ficava mais distante... Sintès disse que os árabes não os seguiram... Ao olhar para trás, Meursault pôde conferir que eles sequer se retiraram de onde estavam e continuavam a olhar na mesma direção de antes com a “mesma indiferença”.
Já no ônibus, Sintès fez vários gracejos para agradar a Maria... E isso até funcionou, mas ela pouco respondia ao outro. Às vezes voltava o seu olhar para Meursault e sorria.
Por fim, chegaram a uma área relativamente próxima de Argel... A praia era próxima, mas tiveram de passar por uma pequena elevação que depois “descia para as areias”. O caminho era repleto “de pedras amareladas e de abróteas brancas”. O céu estava bem azul e a garota se divertia esbarrando a sacola de praia nas flores que perdiam as pétalas.
A um e outro lado podiam ser notadas pequenas casas protegidas por “cercas verdes ou brancas”. Algumas das habitações tinham localização “entre os tamarizes”, estavam mais veladas pela vegetação e possuíam varandas graciosas... Outras eram “despojadas e se localizavam em meio às pedras”.
Leia: “O Estrangeiro”. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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