Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/10/1984-de-george-orwell-ingsoc-e.html antes
de ler esta postagem:
O grupo que chegou ao poder com advento do
IngSoc, utilizou de todos os mecanismos para controlar os subordinados e não
mais deixar o topo. O “livro proibido” esclarecia que uma das principais
estratégias estava no próprio coletivismo que, bem trabalhado, havia se tornado
o principal fator da preponderância oligárquica.
O caso é que a “posse
conjunta” possibilitou a aceitação natural da riqueza dos privilegiados.
Experiências anteriores mostraram que a “abolição da propriedade privada”
resultara na “concentração da propriedade” nas mãos de um pequeno grupo... A
diferença estava no fato de, “em vez de massa de indivíduos”, os proprietários
formarem “um grupo”, um “time controlador”.
O livro ressaltava ainda que os filiados ao Partido não possuíam nada
além das “ninharias pessoais”, e explicava que “coletivamente, o Partido é dono
de tudo na Oceania, porque tudo controla, e dispõe dos seus produtos como bem
lhe parece”.
Aconteceu
que depois da “revolução” que sacramentou a vitória do Partido, praticamente
não houve oposição à acumulação de poder, já que as medidas impostas eram
anunciadas como “atos de coletivização”.
Dizia-se que era
necessário expropriar os capitalistas para que o socialismo se tornasse uma
realidade... De fato, ocorreram expropriações e absolutamente tudo (“fábricas,
minas, terras, casas, transporte”) o que outrora pertencia a particulares, e
era por eles controlado, passou a ser “propriedade pública”.
O
IngSoc se colocava como a síntese do processo de lutas socialistas do
passado... Uma vez instalado no poder, colocou em prática as reivindicações que
garantiam ser históricas... Na prática, o programa que passou a desenvolver
tornou pétrea a “desigualdade econômica”.
(...)
O “livro proibido” problematizava
a questão da “perpetuação da sociedade hierárquica” e a manutenção do poder
pelo grupo hegemônico... De acordo com o texto, haveria quatro possibilidades
de os dirigentes perderem o poder: ou seriam vencidos por oponentes; ou
sofreriam o ataque da população revoltada com a ineficiência do governo; ou,
por ineficácia política, permitiriam o advento “de um grupo médio forte e
descontente”; ou perderiam a confiança e consequentemente a “disposição de
governar”.
Caso um grupo
dominante lograsse êxito no combate às deficiências anteriormente apontadas,
teria plenas condições de permanecer “para sempre” no poder... Pelo visto, os
dirigentes do IngSoc souberam manter a coerência necessária ao exercício da
ditadura.
O grupo dominante contou com o principal fator para assegurar a
inabalável administração... Logo depois de assumir o governo, tratou de
aniquilar os oponentes, desse modo eliminaram a primeira das “potenciais
deficiências” que poderiam desencadear a crise de poder.
(...)
Isso à parte, aos poucos o panorama internacional passou a apresentar uma
conjuntura em que os três grandes impérios se estabeleceram. Basearam-se em
estruturas tão sólidas que não se podia prever que pudessem sofrer abalos...
Isso ocorreria caso suas populações passassem por mudanças que as levassem a
questionamentos contrários ao poder estabelecido. Todavia cada um dos governos
possuía os mecanismos que impediam a formação de consciências críticas.
Estava claro que em relação a referida
possibilidade de decadência do sistema através de uma revolta espontânea da
população era apenas teórica, pois as massas não se mobilizariam “apenas por
ser oprimidas”. Além do mais, sem terem qualquer possibilidade de comparar a
própria condição com outras realidades externas ou do passado, sequer percebiam
que sofriam opressões.
(...)
A população que teria
motivos para se revoltar não o fazia porque não conseguia perceber a condição a
que estava sujeita... Além disso, quando os desfavorecidos eventualmente se
sentiam desanimadas ou descontentes com a precariedade, não tinham meios de articular
qualquer sedição.
Um ou outro imprevisto econômico, notadamente em relação à produção de
grandes excedentes, poderia abalar a estabilidade política dos três grandes
impérios. Mas para isso recorria-se à guerra.
Neste
ponto, o texto sugeria consulta ao conteúdo do capítulo III (ler https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/10/1984-de-george-orwell-ainda-leitura-do_12.html), garantindo que o recurso da guerra era também um
modo de manter a população emocionalmente envolvida com os “destinos da nação”.
Seria
o caso de perguntarmos, então, qual poderia ser a maior ameaça à estabilidade
política dos governantes dos três impérios... Referindo-se especificamente à Oceania,
o “livro proibido” destacava que o perigo para os maiorais estaria na conjunção
de dois fatores: a formação de um grupo constituído por tipos ávidos pelo poder
e a vacilação de parte da equipe de governo quanto às incertezas a respeito da
condução política e/ou adepta a concessões à população.
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um
abraço,
Prof.Gilberto