quarta-feira, 12 de maio de 2021

“A Ópera de Três Vinténs” – peça de Bertold Brecht musicada por Kurt Weill – um pouco sobre a versão para o filme da “canção dos canhões”; o fim; Peachum aparece para uma conciliação; o narrador e a canção que conclui o final feliz dos abastados e a trágica condição dos miseráveis


A versão da “Canção dos Canhões” para o filme é das mais interessantes...
Obviamente os recrutados para o Exército estavam a serviço da ampliação do império britânico, e nas várias campanhas que se engajavam enfrentavam as mais diversas dificuldades em terras da África e da Ásia... Tornavam-se camaradas e compartilhavam bons e maus momentos independentemente de serem ou não reconhecidos pelo rei, governo ou comandantes das forças armadas.
Enquanto soldados, incorporavam a ideia de que os povos conquistados eram “inferiores” e que deviam ser submetidos aos interesses britânicos... É sugestivo o trecho que diz: “se chover uma noite e eles (os soldados britânicos) avistarem uma raça desconhecida – seja branca ou negra – eles podem picá-los para fazer sua carne moída”.
Nos tempos em que foram soldados, Navalha e Brown presenciaram a queda de companheiros sem que se abalasse a convicção de que tinham de levar a vida “sob o estrondo dos canhões”...
“O sangue ainda é vermelho”... Soldados tombavam e o Exército não parava de recrutar outros para que a expansão imperialista tivesse prosseguimento.
Tipos como eles se formaram naquelas fileiras... Assim, ambos se tornaram resultado da política exterior de seu país.
Como o próprio Navalha afirmou, seguiram caminhos diferentes, um acabou chefe da polícia e o outro seguiu uma existência criminosa, mas jamais se esqueceram do que vivenciaram e permaneceram fiéis um ao outro...

(...)

A cantoria foi das mais animadas... Polly e os “diretores capangas” também participaram cantando, fumando e bebendo alegremente...
Mas calaram-se de repente ao verem que o velho Peachum tinha acabado de passar pela porta grande sala. Silenciosamente, ele assistia à animação do grupo em festa.
A respeito do pai de Polly, podemos dizer que ele também havia perdido muito de sua condição... Vivia da exploração dos mendigos, no entanto os miseráveis mantiveram a manifestação contra a sua vontade. No momento percorriam as ruas de Londres enquanto ele buscava uma conciliação com o genro.
(...)
Suas primeiras palavras foram “O homem mais pobre de Londres e o abastado Navalha”... Acaso não deviam se alistar no Exército?
O Navalha respondeu que “o homem mais pobre de Londres” estava falido e não passava de mais um “pobre coitado”...
Peachum não discordou... Em vez disso, afirmou que naquele dia havia testemunhado “o poder que os pobres têm”. Depois se dirigiu à Polly e a abraçou dizendo que podiam aliar sua experiência ao dinheiro de seu marido. Assim poderiam “fazer mais negócios” do que imaginavam.
O velho dizia essas coisas enquanto entregava papéis referentes às arrecadações obtidas graças à exploração dos miseráveis... O banqueiro Navalha pegou parte dos papéis (Brown, que também recebeu alguns, admirava-se com o que via) e perguntou por que os pobres precisavam da gente abastada, dos banqueiros, se eram tão poderosos como o outro dizia.
O pai de Polly explicou que eles não sabiam que “a gente abastada” precisava deles...
(...)
Ao fundo ouvimos o “narrador” a cantar:

*Neste primeiro trecho, Mac Navalha, Polly, o velho Peachum e Brown-o-tigre festejam as cifras contidas nos papéis.

“Reúnam-se
para o final feliz.
Quando o dinheiro necessário
está acessível
geralmente tudo
dá certo.
Embora um homem
lute com o seu rival
para pescar nas
profundezas lamacentas,
no final
eles sempre jantam juntos
e consomem
o pão do pobre".

*Neste trecho final acompanhamos a multidão de miseráveis caminhando silenciosamente pelas desoladas ruas de Londres... Logo eles desaparecem na escuridão.

"Alguns homens
vivem na escuridão
enquanto outros
vivem à luz.
Nós enxergamos
aqueles à luz
enquanto os outros
somem de vista.”

Fim.
Leia: “A ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um abraço,
Prof.Gilberto

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