Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/o-estrangeiro-de-albert-camus-fim-do.html antes
de ler esta postagem:
Antes de se deitarem, Maria havia dito ao
Meursault que precisava visitar uma tia... Aconteceu que ela se retirou sem se
despedir e quando o rapaz despertou ficou bem desapontado por não a ver... E
aborreceu-se ainda mais ao se lembrar de que já era domingo. De fato, para ele,
os domingos eram os dias de que menos gostava.
Meursault resolveu
voltar para a cama, pois queria se acomodar e dormir inebriado pelo “cheiro de
sal que os cabelos de Maria” deixaram na almofada. Voltou a acordar às dez
horas e, ainda na cama, pôs-se a fumar por duas horas.
Lembrou-se de que precisava almoçar, mas achou melhor evitar o
restaurante do Celeste porque sabia que lhe fariam perguntas e, para ele, isso
era maçada. Meursault era taxativo quanto a isso e detestava que lhe fizessem
perguntas.
Para matar a fome, cozinhou alguns ovos e os comeu sem pão, pois também
não pretendia “descer para comprar”.
Depois
do parco almoço, andou de um lado para outro na casa e pensou que quando a mãe
vivia com ele o espaço era ideal. Morando só, o ambiente parecia-lhe excessivo,
tanto é que que resolvera tirar a mesa da sala de jantar e a colocou no próprio
quarto, que era o cômodo onde passava a maior parte do tempo... No quarto
estavam “as cadeiras de palha um pouco gastas, o armário cujo espelho está
amarelecido, a cômoda e a cama encerada”.
(...)
As horas passaram e
Meursault enfrentou o tédio com a leitura de um jornal de dias passados...
Enquanto folheava, encontrou um anúncio de “sais de Kruschen” que chamou sua
atenção por ser divertido, então recortou-o para colar num caderno onde
colecionava outros recortes do gênero.
Depois
de lavar as mãos, retirou-se para a varanda e ali passou várias horas a
contemplar a principal rua do bairro, que é a vista de que se podia dispor
desde o seu quarto... Notou que a tarde dera em bonita e que as poucas pessoas
andavam apressadamente.
Sem ter o que de mais
importante fazer, o rapaz pôs-se a acompanhar os passos dos transeuntes e a analisar-lhes
os tipos... Assim, notou famílias que dedicavam o domingo a passeios. Observou
detalhadamente as crianças, dois garotos que vestiam roupinhas que lembravam os
uniformes de marujos e “calções até os joelhos”, uma garotinha que usava vestido
com grande laço cor-de-rosa... Mais atrás seguia a mãe de porte avantajado e
seu “vestido de seda castanho”, já o pai era um tipo franzino que Meursault
conhecia “de vista”. Este, vinha de “chapéu de palha, um lacinho e uma bengala
na mão”. Ao notar a família “bem arranjada”, o entendeu o motivo de falarem
pelo bairro que aquele “era uma pessoa distinta”.
Mais tarde os mais
moços do bairro passaram pela rua... Iam bem penteados, com fixador nos cabelos
e trajavam “gravata vermelha, casaco muito cintado, com uma algibeira bordada e
sapatos de ponta quadrada”... Pelo visto seguiam para algum dos cinemas
localizados na parte mais baixa. Talvez por isso andavam divertida e apressadamente
até os bondes.
(...)
Depois a rua tornou-se esvaziada... A hora dos entretenimentos havia
chegado e os que se encaminharam para eles estavam ocupados. Numa e noutra
parte, Meursault podia ver algum comerciante ou gatos vadios.
Como que num “intermezzo”, pôs-se a notar o céu... Puro, todavia “sem
brilho”. Viu que o vendedor de tabaco se acomodava numa cadeira à frente de seu
estabelecimento, posicionando-se “a cavalo” e fazendo das costas do objeto um
encosto para os braços... O rapaz resolveu imitá-lo por achar que ficaria mais
confortavelmente instalado.
Os bondes que circularam carregados de
passageiros passaram a rodar “quase vazios”.
Ao voltar sua atenção
ao “Café Pierrot”, junto à tabacaria, Meursault observou os gestos do empregado
que varria o piso do estabelecimento. Uma maçada... Era realmente domingo.
Fumou dois cigarros e
buscou alguns chocolates numa das latas da cozinha para acomodar-se à janela...
O céu tornou-se escuro e podia-se apostar que despejaria uma chuva de verão,
mas isso não se confirmou. Apesar disso, a atmosfera tornou-se sombria como se
aguardasse a chuvarada.
(...)
Cinco
horas da tarde... Meursault continuava a “assistir a vida alheia passar”. Os
bondes voltaram a circular apinhados, e por um momento lotados de torcedores
que tinham ido ao futebol... Em um dos veículos vinham os jogadores que traziam
suas “malinhas” com os apetrechos. Os rapazes estavam alegres e berravam
cantorias sobre o quanto “o seu clube era o melhor”. Um dos tipos sinalizou
para Meursault gritando que haviam dado “cabo neles!” O espectador do “desfile
triunfal” apenas balançou a cabeça e respondeu com um “sim, sim”.
Leia: “O
Estrangeiro”. Editora Abril.
Um
abraço,
Prof.Gilberto