quinta-feira, 13 de maio de 2021

“O Estrangeiro”, de Albert Camus – Maria se foi sem se despedir; encarando a maçada de mais um domingo; longo cochilo, cigarros e ovos para o almoço; na varanda a observar a movimentação dos que reservam o domingo para programas; famílias ajustadas, jovens a caminho do cinema, comerciantes; ameaça de chuva não confirmada; torcedores e jogadores do futebol lotam os bondes; cinco da tarde

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/o-estrangeiro-de-albert-camus-fim-do.html antes de ler esta postagem:

Antes de se deitarem, Maria havia dito ao Meursault que precisava visitar uma tia... Aconteceu que ela se retirou sem se despedir e quando o rapaz despertou ficou bem desapontado por não a ver... E aborreceu-se ainda mais ao se lembrar de que já era domingo. De fato, para ele, os domingos eram os dias de que menos gostava.
Meursault resolveu voltar para a cama, pois queria se acomodar e dormir inebriado pelo “cheiro de sal que os cabelos de Maria” deixaram na almofada. Voltou a acordar às dez horas e, ainda na cama, pôs-se a fumar por duas horas.
Lembrou-se de que precisava almoçar, mas achou melhor evitar o restaurante do Celeste porque sabia que lhe fariam perguntas e, para ele, isso era maçada. Meursault era taxativo quanto a isso e detestava que lhe fizessem perguntas.
Para matar a fome, cozinhou alguns ovos e os comeu sem pão, pois também não pretendia “descer para comprar”.
Depois do parco almoço, andou de um lado para outro na casa e pensou que quando a mãe vivia com ele o espaço era ideal. Morando só, o ambiente parecia-lhe excessivo, tanto é que que resolvera tirar a mesa da sala de jantar e a colocou no próprio quarto, que era o cômodo onde passava a maior parte do tempo... No quarto estavam “as cadeiras de palha um pouco gastas, o armário cujo espelho está amarelecido, a cômoda e a cama encerada”.
(...)
As horas passaram e Meursault enfrentou o tédio com a leitura de um jornal de dias passados... Enquanto folheava, encontrou um anúncio de “sais de Kruschen” que chamou sua atenção por ser divertido, então recortou-o para colar num caderno onde colecionava outros recortes do gênero.
Depois de lavar as mãos, retirou-se para a varanda e ali passou várias horas a contemplar a principal rua do bairro, que é a vista de que se podia dispor desde o seu quarto... Notou que a tarde dera em bonita e que as poucas pessoas andavam apressadamente.
Sem ter o que de mais importante fazer, o rapaz pôs-se a acompanhar os passos dos transeuntes e a analisar-lhes os tipos... Assim, notou famílias que dedicavam o domingo a passeios. Observou detalhadamente as crianças, dois garotos que vestiam roupinhas que lembravam os uniformes de marujos e “calções até os joelhos”, uma garotinha que usava vestido com grande laço cor-de-rosa... Mais atrás seguia a mãe de porte avantajado e seu “vestido de seda castanho”, já o pai era um tipo franzino que Meursault conhecia “de vista”. Este, vinha de “chapéu de palha, um lacinho e uma bengala na mão”. Ao notar a família “bem arranjada”, o entendeu o motivo de falarem pelo bairro que aquele “era uma pessoa distinta”.
Mais tarde os mais moços do bairro passaram pela rua... Iam bem penteados, com fixador nos cabelos e trajavam “gravata vermelha, casaco muito cintado, com uma algibeira bordada e sapatos de ponta quadrada”... Pelo visto seguiam para algum dos cinemas localizados na parte mais baixa. Talvez por isso andavam divertida e apressadamente até os bondes.
(...)
Depois a rua tornou-se esvaziada... A hora dos entretenimentos havia chegado e os que se encaminharam para eles estavam ocupados. Numa e noutra parte, Meursault podia ver algum comerciante ou gatos vadios.
Como que num “intermezzo”, pôs-se a notar o céu... Puro, todavia “sem brilho”. Viu que o vendedor de tabaco se acomodava numa cadeira à frente de seu estabelecimento, posicionando-se “a cavalo” e fazendo das costas do objeto um encosto para os braços... O rapaz resolveu imitá-lo por achar que ficaria mais confortavelmente instalado.
Os bondes que circularam carregados de passageiros passaram a rodar “quase vazios”.
Ao voltar sua atenção ao “Café Pierrot”, junto à tabacaria, Meursault observou os gestos do empregado que varria o piso do estabelecimento. Uma maçada... Era realmente domingo.
Fumou dois cigarros e buscou alguns chocolates numa das latas da cozinha para acomodar-se à janela... O céu tornou-se escuro e podia-se apostar que despejaria uma chuva de verão, mas isso não se confirmou. Apesar disso, a atmosfera tornou-se sombria como se aguardasse a chuvarada.
(...)
Cinco horas da tarde... Meursault continuava a “assistir a vida alheia passar”. Os bondes voltaram a circular apinhados, e por um momento lotados de torcedores que tinham ido ao futebol... Em um dos veículos vinham os jogadores que traziam suas “malinhas” com os apetrechos. Os rapazes estavam alegres e berravam cantorias sobre o quanto “o seu clube era o melhor”. Um dos tipos sinalizou para Meursault gritando que haviam dado “cabo neles!” O espectador do “desfile triunfal” apenas balançou a cabeça e respondeu com um “sim, sim”.
Leia: “O Estrangeiro”. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas