Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_43.html antes
de ler esta postagem:
Ainda
na primeira metade do século XIX, as festas públicas de coroação de rei e rainha
do Congo, bem como as danças, desfiles e encenações que lembravam as origens
africanas, tornaram-se mais escassas em Portugal. Em vez dos ambientes abertos,
as cerimônias de coroação passaram a ocorrer em locais fechados, “num ambiente
quase de clube social recreativo”.
Isso coincidiu com o declínio da importância do Congo para Portugal em
suas investidas na África... As novas oportunidades de exploração em Angola
levaram os portugueses a se dedicarem a traçar planos “políticos, econômicos e
missionários” para a localidade.
O livro destaca fragmento
satírico do “Folheto de Ambas Lisboa”, nº 7, do mês de setembro de 1730, no
qual, em “linguagem africana, um rei Angola convida um ‘rei Mina’” para uma
festividade que ocorreria no “adro da Igreja do Salvador”, na Alfama:
“Seoro
compadra Re Mina Zambiampum taté: sabe vozo, que nossos fessa sà Domingo, e que
vozo bade vir fazer os forgamenta”.
Sugere-se aí que também os angolanos levados para Lisboa se organizaram
em comunidades e criaram “seus reis simbólicos particulares”.
(...)
O surgimento de “novos reinados de reis africanos” em
Portugal não ofuscou totalmente a tradição dos cristãos congoleses da Confraria
de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos...
Em “A herança africana em Portugal”, Isabel Castro Henriques descreve um
“Baile do Congo” que ocorreu “na rua da Barroca, Lisboa” no ano de 1857. Sem
citar fonte específica, a professora destaca que a “rainha do Império do Congo”,
conhecida como “Mãe Joana” chegou ao evento acompanhada de suas damas numa
formosa caleche. Então:
“ao entrar na sala
cumprimentou os convidados, e dirigiu-se depois a um altar, convenientemente
preparado onde fez oração, e em seguida tomou assento no trono e aí deu
beija-mão aos seus fiéis súditos”.
Ainda segundo Isabel Castro
Henriques:
“o baile esteve animadíssimo, segundo conta um curioso
desses divertimentos, havia pretinhas vestidas com muita elegância, e algumas
gentis e engraçadas; polcou-se e valsou-se e tudo acabou com um ‘cotillon
batuque’”.
(...)
Em
1862, outra “rainha do Congo” em Portugal, “a preta Jacinta”, destacou-se por
conceder títulos nobiliárquicos a “vários súditos” e tornou-se conhecida por
atribuir o de “marquês” a Camilo Castelo Branco.
O próprio romancista registrou o fato em “Excelentíssimos senhores”,
crônica de 1874 que consta do “volume IV da série ‘Noites de insônia’”. Sua
redação ironizava as considerações “de um especialista em formas de tratamento
a detentores de títulos nobiliárquicos”. Para este, a condes e viscondes “bastava
‘senhoria’”, apesar de entender que, particularmente, até esse tratamento já se
configurava em exagerado.
O livro apresenta fragmento
da referida crônica de Camilo Castelo Branco:
“Mas
ele não sabia que eu, desde 1862, sou marquês, agraciado por sua majestade
negra D. Jacinta, rainha do Congo, muito minha senhora e ama. Que Deus conserve”.
(...)
Também sobre a movimentação social promovida por D. Jacinta, a
professora Isabel Castro Henriques destacou matéria do “Jornal do Comércio, de
Lisboa, de 11 de outubro de 1867”, a respeito da convocação para a “missa na
Igreja de Santa Joana” do dia 17 do mesmo mês (dia de Nossa Senhora do
Rosário), seguida por (a convocação):
“três
bailes do estilo, que hão de ser dados na casa sita na rua de São Marçal nº 78
nos dias 12, 13 e 14 do corrente mês – Paço na rua de Pedro Dias nº 17, em 11 de
outubro de 1867 – Rainha D. Jacinta I”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/06/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore.html
Leia: Rei
do Congo. Editora 34.
Um
abraço,
Prof.Gilberto