quarta-feira, 27 de junho de 2018

“Mayombe”, de Pepetela – a emboscada; ofensiva tuga e retirada dos guerrilheiros; bazucada providencial de Milagre; Alvorada ferido; Muatiânvua está desaparecido; resgate difícil

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A visão perturbadora de Leli desapareceu assim que Sem Medo reconheceu os sinais que o “guarda do caminho” pretendia transmitir com os seus movimentos.
Ele entendeu que os inimigos vinham caminhando e que isso dificultaria a ação... Logo todos os camaradas ficaram sabendo do que teriam pela frente e se preparam. Os que estavam mais adiante não demoraram a ouvir a conversa dos homens que caminhavam despreocupadamente.
Os tugas estavam bem satisfeitos por retornarem ao quartel e com a certeza de que os guerrilheiros já estavam pelas bandas do Congo. O Comandante até conseguiu detectar a conversa gritada entre dois dos soldados... Um dizia coisas ofensivas a respeito dos modos da irmã de outro.
Sem Medo só conseguiu pensar que os inimigos não deixavam aqueles modos grosseiros... Depois ficou a conjecturar sobre qual deles tombaria primeiro após ser atingido por um de seus balaços.
(...)
O Comandante manteve-se atento na contagem dos soldados imperialistas... Eles foram entrando na área de emboscada sem se darem conta de qualquer perigo. Quando chegou ao septuagésimo soldado, Sem Medo interrompeu a somatória. Os demais guerrilheiros estavam apenas aguardando que ele iniciasse sua rajada para também entrarem em ação.
Em determinado momento toda a fileira de tugas colocou-se na área coberta pelos guerrilheiros. A situação era amplamente favorável aos comandados por Sem Medo, pois os soldados se encaminhavam como “inocentes patinhos” para a armadilha.
Ele esperou que os últimos homens ficassem a uma distância de uns quatro metros para dar início aos disparos... Assim que os demais guerrilheiros perceberam a rajada do Comandante, colocaram suas pépéchás em ação.
Depois foi o massacre... E eram só soldados caindo e rolando pelo chão. Muitos gemiam enquanto o barulho das explosões das granadas e dos tiros tomavam conta da atmosfera da floresta.
Demorou até que os primeiros tugas que se safaram do ataque iniciassem uma ofensiva. Mais do que atingir os inimigos, seu maior objetivo era dar condição para que os companheiros se retirassem para a mata fechada.
(...)
Houve uma situação em que Sem Medo teve de trocar o carregador e notou que bem perto estava um tuga caído e em dificuldade para desencravar a culatra de sua arma (uma G3). O tipo havia visto o guerrilheiro, mas sua metralha o deixara na mão no momento mesmo de dispará-la contra o inimigo.
Sem Medo preparou sua AKA e fitou os olhos do jovem soldado. Este insistia em manipular a culatra tentando livrá-la do cartucho imprestável. Seu destino estava selado. Um disparo certeiro abriu um pequeno orifício na testa do moço desconhecido.
A estrada tornou-se repleta de corpos... Alguns estavam feridos e outros “bem vivos” disparavam com fúria contra as árvores. Um assalto definitivo estava fora de cogitação. E é por isso que Sem Medo sinalizou para que seus camaradas se retirassem o quanto antes da área de emboscada.
(...)
A retirada era ação das mais difíceis porque os balaços inimigos chegavam de tudo quanto era lado e passava pouco acima das cabeças dos homens. Todo aquele fogo provocava os mais diversos danos às árvores enquanto os guerrilheiros escapavam milagrosamente.
Aliás, foi o guerrilheiro Milagre quem ousou arriscar-se ao expor-se para atirar com a basuka contra uma moita de onde partia um furioso ataque inimigo. De fato, após a explosão daquele local, os tiros cessaram e os guerrilheiros aceleraram a retirada.
Rastejaram por um bom tempo até que puderam se erguer um pouco. Protegidos pelos troncos, seguiram mais confiantes na direção do ponto de encontro. Mas é verdade que os tugas ainda mais aumentaram o poder de fogo... Desde o Sanga dispararam morteiros a esmo com o objetivo de “desmoralizar” os rebeldes.
(...)
Alvorada havia sido atingido e estava ferido no ombro. Pangu-A-Kitina dedicou-se aos curativos essenciais.
Aparentemente o maior problema era o sumiço de Muatiânvua. O Comissário Político disse que talvez o moço tivesse ficado para trás porque podia ter sido atingido. Sendo assim, era preciso resgatá-lo. No mesmo instante, Milagre respondeu que estivera ao lado do outro, que seguia ileso durante o recuo.
Sem Medo quis saber se Milagre o havia visto retornar à área de conflito. A resposta foi negativa. Por isso foi decidido que era mesmo preciso buscar o camarada.
Mas no momento de definir os voluntários para a operação houve hesitação por parte dos homens que voltavam seus ouvidos para os estrondos dos disparos inimigos.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

domingo, 24 de junho de 2018

“Mayombe”, de Pepetela – o comandante percorreu as posições para animar os camaradas; a angústia da espera pelo combate e o “fantasma” que atormentava Sem Medo

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2018/06/mayombe-de-pepetela-ainda-narrativa.html antes de ler esta postagem:

Foi decidido que aguardariam até às cinco...
O Comissário propôs o recuo, mas as palavras do Chefe de Operações foram mais convincentes.
Os guerrilheiros se posicionaram ao longo da estrada.
(...)
Sem Medo percorreu com todo o cuidado as distâncias que os separavam... Os homens estavam sonolentos... Alguns adormeciam e ele tratou de lhes dirigir sussurros para despertá-los e mantê-los empolgados para o combate. Em resposta, os camaradas sorriam e davam piscadelas.
Sem Medo seguiu animado por concluir que, apesar das diferenças e até mesmo do desprezo de alguns em relação à sua pessoa, a “solidariedade do combate” fazia com que se tornassem mais amáveis.
O Ingratidão recebeu sua arma de volta para que pudesse participar ativamente da emboscada... Ekuikui foi incumbido de vigiá-lo. Sem Medo entendeu que os homens estavam preparados. Aproximou-se de Teoria, que percebeu o motivo de sua chegada e foi logo dizendo que seu “segundo eu” estava prevalecendo, sendo assim, não havia motivo para preocupações. O Comandante respondeu que sabia que não tinha razões para isso.
Faltava conferir a condição do camarada mais avançado, que fazia a guarda e sinalizaria a aparição dos inimigos. Sem Medo avançou até sua posição... O homem perguntou se a ação havia sido cancelada. O Comandante respondeu negativamente, pois estava convicto de que os tugas apareceriam a qualquer momento. O outro reclamou que sentia fome.
Sem Medo sabia da condição de seus comandados, então respondeu ao rapaz que também ele estava ansioso e que ainda nem tinha fumado durante todo aquele dia.
(...)
Sem Medo retornou à sua posição... Espantava a sonolência conferindo o relógio diversas vezes... Às quatro da tarde a escuridão baixou sobre o sítio da emboscada. Ele sabia que o maior problema era a espera, pois logo que ação se iniciasse “os fantasmas ficavam para trás”.
Ele mesmo tinha desses fantasmas... Nessas ocasiões de espera sempre lhe ocorriam as recordações dos tempos de juventude e dos camaradas mortos durante os longos anos de combate.
O rosto de Leli surgia em seus pensamentos... Fazia pelo menos meio ano que sua imagem não o atormentava. No entanto, durante a espera pelo início da emboscada, a fisionomia da amada retornou...
(...)
Neste ponto da narrativa vemos Sem Medo angustiado e tomado pela lembrança do dia em que atacaram o Posto de Miconje. A chuva era torrencial e o piso estava enlameado... Depois de uma longa jornada pela noite, conseguiram atingir o local às seis da manhã.
Certamente a tensa expectativa contribuiu para que a imagem de Leli viesse atormentá-lo naquela ocasião... É bem verdade que as condições de visibilidade eram as piores que se possam imaginar... A mata fechada e os grossos pingos da chuva eram de cegar! Mas isso não parecia preocupá-lo mais do que o seu pensamento persistente em Leli.
Essa angústia prevaleceu até o instante de gritar a ordem para atacar. Urrou tal como animal selvagem e o combate iminente o libertou da imagem de mulher que o perseguia.
(...)
Mas que tanto mal a visão de Leli lhe fazia?
Os olhos dela surgiam-lhe acusativos. Eram meigos, mas denunciavam um desejo de vingança. Aqueles olhos revelavam a condição dos que se sentem abandonados!
O Comandante não podia suportá-los e para afastar o sentimento de culpa que o invadia quis gritar.
Mas isso estava fora de cogitação... A tarde avançava... Já eram quatro e quinze! O inimigo custava a aparecer, então, por não ter como ordenar o avanço para o tiroteio, teve de fazer um exercício de paciência.
Todavia o caso era dos mais complicados e ele começou a sentir cólicas. Manteve o olhar fixo na estrada e as mãos cravadas em sua arma (a AKA) e sentiu que os cotovelos adormeciam... Os olhos de Leli prevaleciam com suas súplicas e acusações que ele conhecia de há muito tempo.
E em síntese os ofensivos olhos da mulher, a visão que mais o atormentava, cobravam vingança pelo modo como ele a tornou apaixonada mesmo sabendo que o relacionamento de ambos não tinha a menor condição de prosperar. Se ele sabia que o engajamento na guerrilha era o que mais desejava, por que a seduziu?
(...)
Por um instante ele a imaginou iluminada pela luz do luar, a correr nua numa praia repleta de coqueiros... Nessa visão os dois terminavam romanticamente abraçados na areia.
Isso foi demais. Sem Medo quis correr na direção onde os inimigos apareceriam e disparar todos os seus cartuchos só para fazer Leli sumir de uma vez por todas de seus pensamentos.
Estava para fazer uma loucura quando notou o guarda a fazer sinais na posição dianteira.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

terça-feira, 19 de junho de 2018

“Mayombe”, de Pepetela – ainda a narrativa pessoal de Milagre e suas críticas ao predomínio dos “mais atrasados” na guerrilha; noite de chuva e prejuízos; tugas explodem nas minas armadas junto ao buldózer; posicionando-se para a emboscada

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2018/06/mayombe-de-pepetela-travessia-da.html antes de ler esta postagem:

Como vimos, a crítica de Milagre era das mais polêmicas.
Para ele, as tribos “mais avançadas deviam dirigir as demais”...
Não seria exagero dizer que ele reproduzia o mesmo discurso dos europeus imperialistas quando se referiam aos povos africanos.
(...)
Ele deu continuidade ao seu raciocínio destacando que no grupamento de guerrilheiros do qual fazia parte estava acontecendo que os “mais atrasados” eram os que queriam mandar... E o pior era saber que os de sua gente (como era o caso do Comissário Político) ajudava aos “mais atrasados”.
Com indignação, exclamou que o Comissário se deixava levar pelo Comandante sem perceber o que se passava na cúpula, além de colocar-se sempre contra o Chefe de Operações.
Para o rapaz, estava difícil admitir que um tipo tão inteligente como o Comissário, tão cheio das leituras, permitisse aquela situação. Estaria em conluio com os outros só para prejudicar os que tinham o mesmo sangue dele?
(...)
Milagre não se conformava... Em sua memória trazia o sofrimento que os imperialistas tugas haviam imposto ao seu povo. Assim, não podia aceitar que aqueles outros, que nada haviam sofrido, se tornassem líderes como se soubessem de todas as necessidades dos que comandados.
Por fim, o rapaz afirmou que os “verdadeiros filhos do povo” deviam tomar as rédeas do movimento. Sentia que era por isso que devia lutar.
(...)
A noite foi de intensa chuva...
Sem Medo e mais alguns poucos conseguiram dormir... Mas este não foi o caso da maioria que sequer cochilou por causa do aguaceiro e do intenso frio.
As fisionomias dos homens denunciava o cansaço da jornada... Estavam mal alimentados e, para piorar, haviam perdido boa parte dos mantimentos durante a chuvarada.
No dia seguinte retomaram o avanço na mata fechada que só podia ser vencida a golpes de facões... Por volta das dez horas voltaram a encontrar o rio Lombe. Uma patrulha foi destacada para alcançar uma elevação, onde faria o reconhecimento para a orientação do caminho que deveriam tomar.
Logo souberam que estavam próximos da estrada e isso os encheu de novo ânimo. Seguiram na direção da estrada que dava na área de exploração da madeira... Não demorou e ouviram três “explosões surdas”... Concluíram com satisfação que os tugas haviam caído na armadilha das minas que deixaram nas proximidades do trator.
Os guerrilheiros riram e agarraram com firmeza as armas que carregavam. O Chefe de Operações adiantou-se para certificar-se do melhor sítio para a emboscada. Ele retornou para o grupo e todos rumaram para o local. Sem Medo aprovou a escolha e pôs-se a indicar o lugar onde cada um devia se posicionar.
(...)
Cada um na posição onde o Comandante indicara, os guerrilheiros aguardaram o momento de atacar... Sabiam que deviam esperar até que os tugas passassem carregando os que haviam ficado feridos nas explosões das minas.
Mas duas horas se passaram sem que nada ocorresse... Sem Medo decidiu reunir-se com o Chefe de Operações e o Comissário Político. Ele foi logo dizendo que acreditava que os inimigos haviam levado os feridos para um outro quartel, mas adiantou que tinha certeza de que uma patrulha deveria avançar por ali. Então tinham de esperar.
O Comissário disse que os camaradas estavam esfomeados, pois já fazia muito tempo que não comiam... Na última madrugada haviam apenas sugado um pouco de leite das latas! Não seria melhor retirarem-se para preparar um cozido?
O homem manifestou suas preocupações e sugeriu que no dia seguinte retornassem àquele ponto para esperar os tugas.
O Chefe de Operações posicionou-se contrariamente. E manifestou que tinham de esperar porque certamente os inimigos enviariam “reforços do Sanga”. Disse ainda que os camaradas sabiam que aqueles homens não passavam a noite na mata, então em breve caminhariam por ali.
Ainda de acordo com ele, era inútil e improdutivo esperar mais um dia. Os guerrilheiros queriam ação! É claro que suportariam a fome! Cancelar comprometia ainda mais a quantidade de comida!
Sem Medo concordou com o oficial. Disse que esperariam até às cinco da tarde. Caso os inimigos não aparecessem, se retirariam para acampar e preparar o fogo.
O Comissário nada disse... Via-se que ficou contrariado muito mais pelos ares de satisfação de seu desafeto do que pela não aprovação de sua proposta.
Na sequência os três retomaram suas posições.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

terça-feira, 12 de junho de 2018

“Mayombe”, de Pepetela – travessia da montanha e noite encharcada; Milagre faz nova narrativa pessoal; críticas às decisões do Comandante; conceitos de “tribalismo justo” e “tribalismo injusto”; ideia de que os “mais avançados” devem liderar e governar os “mais atrasados”

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O comandante e o professor ajudaram no preparo do almoço...
Depois que os guerrilheiros se alimentaram retomaram a caminhada pela floresta. Por volta das duas da tarde iniciaram a subida de uma montanha. A grande quantidade de xikuangas complicou demais o avanço do grupo.
Como a subida era íngreme, o homens tinham de parar com certa frequência e tomar fôlego... Demorou, mas a folhagem foi vencida. Mais a frente tiveram de encarar uma mata tão fechada que só a golpes de catana podiam progredir. Para ainda mais complicar, às quatro horas começou uma intensa chuva.
As mochilas passaram a representar um estorvo extra e as botas se tornaram enlameadas e muito mais pesadas. A certa altura, Pangu-A-Kitina, que fazia as vezes de enfermeiro, escorregou, e sua arma (a pépéchá) caiu numa ribanceira de uns vinte metros. Apesar dos esforços para recuperar a arma, às cinco horas os guerrilheiros chegaram ao topo... Obviamente estavam exaustos.
(...)
Depois de um curto período de descanso deram prosseguimento à descida. Simplesmente não tinham como passar a noite ali porque o frio era dos mais agressivos.
A descida também era perigosa... Escorregões aconteciam a todo instante. Os homens mal conseguiam controlar suas trêmulas pernas. A chuva não dava trégua e o peso dos sacadores parecia acelerar os passos.
Depois de uma hora atingiram a margem do rio... Não havia como procurar um local mais adequado para levantarem acampamento, por isso lançaram-se a uma clareira e acomodaram-se para tomar leite frio, pois as condições impossibilitavam qualquer fogueira.
Teoria mereceu a atenção de Pangu-A-Kitina, já que numa de suas quedas machucara novamente o joelho... Não havia o que fazer, pois as ataduras estavam ensopadas... O enfermeiro banhou as feridas com álcool.
A maior parte dos homens decidiu deitar-se diretamente no chão molhado... O Comandante “aconselhou” o Comissário a mexer os membros de vez em quando... Fez um gracejo ao dizer que a terra ali era tão fértil que podia ser que braços e pernas criassem raízes da noite para o dia.
O sério Comissário Político. Quis saber como era que o outro ainda tinha condições de brincar naquela precária condição.
(...)
Na sequência temos uma nova narrativa pessoal do guerrilheiro Milagre, o da bazuca.
Ele provoca o leitor a refletir a respeito da preocupação do Comandante ao insistir em devolver os cem escudos do “traidor de Cabinda”. Em sua opinião, aquilo valia uma nota indignada.
Milagre esclarece que Sem Medo era um kikongo... Sabia-se que, ainda pequeno, tinha se transferido para Luanda... Sua família era proveniente do Uíje... Sabendo-se que kikongos e fiotes são “parentes”, podiam ser considerados “um mesmo povo”!
Então, para o rapaz, a fúria do Comandante justificava-se apenas pelo fato de ele entender que “um de seus primos” havia sido roubado. Não era por acaso que o homem protegia Lutamos... Este também um traidor!
O guerrilheiro Milagre nos remete à punição que o Comandante reservou ao Ingratidão do Tuga... Para ele, a explicação também era simples: Ingratidão era kimbundo!
(...)
Como se vê, o discurso de Milagre tem viés tribalista.
Ele mesmo cita que os intelectuais que estavam na guerrilha viviam dizendo que os combatentes oriundos do campo eram tribalistas... Mas, ainda segundo ele, era preciso reconhecer que os dirigentes não escondiam seu tribalismo.
Em sua opinião isso não deveria ter importância... Mas todos deveriam considerar que havia um “tribalismo justo” e um “tribalismo injusto”.
Sua explicação: Quando se defendia uma tribo “que merece”, praticava-se o “tribalismo justo”... O “tribalismo injusto” acontecia quando queriam “impor a tribo que não merece ter direitos”.
(...)
Como vemos, é algo bem complexo. O próprio Milagre tentou esclarecer o que queria afirmar... Citou Lenin, que falava de “guerras justas e injustas”... Então havia também o “tribalismo justo e o injusto”! Não era caso de se ficar a falar à toa!
O rapaz extravasou ao afirmar que todos são iguais e devem ter os mesmo direitos, porém nem todos estão no “mesmo nível”... Sendo assim, os mais avançados devem se sobrepor e governar os demais. As tribos mais avançadas deveriam “dirigir as demais” e fazer com que elas avancem. Chegaria um momento em que as subalternas atingiriam maturidade adequada para se governarem sozinhas.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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