Seu enredo revela-nos um pouco sobre o maravilhoso trabalho da doutora Nise da Silveira, médica psiquiátrica que nasceu em Maceió (1905).
A obra não entra em detalhes, mas sabemos que ela estivera encarcerada após denúncia de envolvimento na Revolução de 1935 conduzida pelo pessoal da ANL, que tinha em Luís Carlos Prestes sua principal liderança (a “Intentona Comunista”).
(...)
O filme começa com a chegada de Nise (vivida por
Glória Pires) ao Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II em 1944. O local era um
verdadeiro depósito de pessoas tidas como “mentalmente alienadas”.
O manicômio localizava-se em Engenho de Dentro, área afastada do centro
da capital do país... Talvez para destacar a ideia de isolamento a que os
doentes estavam submetidos naquele lugar, o cineasta “enche a tela” com uma
grande parede de metal...
Nise chegou e teve de bater com insistência à porta
(também revestida de metal) para que pudesse entrar... Ela seguiu imediatamente
à sala onde ocorria uma conferência em que médicos faziam depoimentos e
apresentavam slides sobre os avanços da medicina no tratamento de pacientes com
distúrbios mentais.
Os profissionais eram todos homens... Quando Nise foi apresentada, não
demonstraram receptividade. Eles estavam atentos às palavras sobre a
importância de submeterem os doentes agressivos à lobotomia...
Na sequência outro médico falou sobre as vantagens da intervenção a
partir dos choques elétricos... Fez isso demonstrando a aplicação num paciente
que os enfermeiros conduziram até a sala. O interno estava muito agitado também
porque o haviam amarrado à maca.
A cena é das mais chocantes... Conforme aumentaram a intensidade dos
choques, o doente se agitou tentando se desvencilhar da maca... Aos poucos foi
prostrando enquanto espumava pela boca.
Evidentemente Nise não se sentiu bem ao ver aquilo... E apesar de ter
notado sua frágil condição num ambiente repleto de doutores machistas, não
escondeu sua indignação... Quis saber sobre até que ponto os médicos conheciam
aquele procedimento e sobre a intensidade de energia que devia ser aplicada...
A resposta que ouviu deixou-a convencida de que o tratamento não passava de
tortura física.
(...)
Depois desse primeiro
contato, Nise não teve dúvida ao admitir à chefia imediata que não teria
condições de submeter pacientes àqueles procedimentos... Simplesmente não
concordava com eles e recusava-se a aplicá-los. Como alternativa propôs
trabalhar no setor de terapia ocupacional, onde a verba destinada era bem
pequena. Nenhum médico dava importância a essa parte do hospital.
(...)
As cenas realizadas
para exibir a conversa com o marido a respeito da sua iniciativa nos mostram o “modo
de ser” de Nise... Muita simplicidade... Muito amor aos animais, notadamente
aos gatos... Muita dedicação aos estudos.
Naquela mesma noite, funcionários do hospital se divertiam com os
pacientes de modo repulsivo... Era comum juntarem vários deles num salão onde
eram colocados para lutar... Apostas eram feitas...
Lúcio (interpretado por
Roney Villela), um dos doentes de comportamento mais agressivo, era molestado
com provocações que o levavam ao estado de extrema irritação... Faziam isso
para vê-lo trocar socos, pontapés, mordidas e outras violências com outro
doente qualquer.
O resultado era sempre o
mesmo... O que mais apanhava ficava desfigurado e ensanguentado... No dia
seguinte arranjavam uma desculpa qualquer para explicar os hematomas e inchaços
espalhados por todo corpo... Ninguém questionava porque os doentes não podiam
se explicar e, além do mais, todos sabiam que eram dados a todo tipo de
extravagância.
Lúcio era trancafiado... Passava os dias como uma
perigosa fera que podia avançar sobre inocentes.
Indicação (12 anos)
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/05/filme-nise-o-coracao-da-loucura-segunda.html
Um abraço,
Prof.Gilberto