sábado, 8 de maio de 2021

“A Ópera de Três Vinténs” – peça de Bertold Brecht musicada por Kurt Weill – “Balada na qual Macheath pede desculpas a todos”


“Balada na qual Macheath pede desculpas a todos”


“Irmãos que vêm após a nossa morte,
Contenham-se do impiedoso insulto,
Também não riam da perversa sorte,
Atrás das barbas bobo riso oculto,
E não praguejem sobre os enforcados,
E não se mostrem, qual justiça, duros;
Pois todos nós deixamos de ser puros,
E todos afundamos nos pecados.
Queiram ouvir a nossa advertência,
Pedindo a Deus a graça e a clemência.
         As chuvas a nós todos purificam,
         Lavando a carne muito bem-nutrida;
         Os olhos, insaciáveis nesta vida,
         Para que não cobicem, corvos picam.
         Alto subimos, cheios de ganância,
         Pagando pela nossa arrogância,
         Deixando nossa existência amada,
         Igual a sujo esterco sobre a estrada.
         Queiram ouvir a nossa advertência,
         Pedindo a Deus a graça e a clemência.
Às moças, desnudando os seus seios
Para pescar fregueses sempre prontos,
Aos cavalheiros que não são alheios
Aos charmes das perdidas nos seus pontos,
Aos vagabundos, frescos, prostitutas,
Aos maltrapilhos, loucos e birutas,
Eu peço que perdoem meus pecados.
         Também aos tiras. Claro, não invejo
         A sina deles: cada tarde e dia
         Alimentar os presos sem sobejos
         E torturar na cela escura e fria.
         Eles merecem minha maldição,
         Porém prefiro ser condescendente,
         Que aprendam a magnânime lição:
         Lhes pedirei perdão, humildemente.
Que suas caras se desfaçam logo
Sob golpes de martelos mais pesados!
De resto, quero esquecer o rogo:
Desculpem, pois, todos os meus pecados!”

Leia: “A ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um abraço,
Prof.Gilberto

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