Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/o-estrangeiro-de-albert-camus-chegada.html antes
de ler esta postagem:
Meursault,
Masson e Sintès saíram para uma caminhada enquanto as duas mulheres
permaneceram na casa para cuidar da louça do almoço.
O sol castigava a atmosfera da praia e o brilho que provocava nas águas
do mar cegava os que ousassem fitá-las. O calor era tão intenso que os
banhistas haviam se retirado. Desde as casas de veraneio “ouvia-se o barulho de
pratos e de talheres”.
O ar estava tão pesado que
até para respirar sentia-se sufocamento... Masson e Sintès caminharam
conversando sobre assuntos e tipos que Meursault não tinha a menor ideia. Pelo
visto se conheciam há um bom tempo e até tinham vivido juntos em algum momento.
Os três seguiram até a beirada do mar e eventualmente
tinham os sapatos de borracha atingidos pelas ondas. O rapaz não se dedicava a
qualquer pensamento porque, além de não conhecer os assuntos sobre os quais os
companheiros falavam, sentia-se adormecido também em decorrência do forte
calor.
Foi de repente que, embora não estivesse plenamente, se voltou para
Sintès que havia dito algo que lhe chamava a atenção. Deu para perceber que era
algo sobre “dois árabes vestidos de azul” que caminhavam na direção contrária à
deles.
Sintès sentenciou que um dos tipos era o que o vinha perseguindo...
Masson não pôde entender como que podiam segui-lo até aquela paragem. Meursault
pensou que os desafetos só podiam ter concluído por notarem que estavam com uma
sacola de praia e que haviam tomado um ônibus. Mas não disse nada aos dois.
(...)
Conforme caminharam se aproximaram ainda mais dos árabes, que também não
retrocederam. A certo ponto, Sintès disse que poderia haver pancadaria e, se
isso ocorresse, ele mesmo se encarregaria do que o perseguia... Disse que Masson
lutaria com o que o acompanhava e que Meursault ficaria na espera e avançaria
sobre algum outro que aparecesse.
O rapaz concordou. Masson também, e já foi enfiando as mãos na
algibeira. A areia estava bem quente e os três mantiveram a mesma passada na
direção dos desafetos. Só quando chegaram a poucos passos é que os árabes
pararam. Enquanto Masson e Meursault passaram a caminhar mais lentamente,
Sintès avançou contra o seu adversário, que disse alguma coisa e partiu para
cima na tentativa de acertar uma cabeçada no oponente... Sintès revidou com um
soco e chamou o Masson, que logo saltou sobre o outro árabe.
Masson tinha físico
avantajado e fez prevalecer sua força... Desferiu dois potentes socos que
fizeram o tipo cair “de barriga para baixo” e com a cabeça imersa na água.
Via-se que o árabe estava numa situação bem difícil, pois não estava
conseguindo respirar...
Sintès desferia tantos
golpes contra o seu adversário que este ficou ensanguentado. Contou vantagem,
olhou para Meursault e disse que ele estava para conferir uma bela surra. O
rapaz notou que o árabe havia puxado uma navalha, então avisou o amigo o mais
rápido que pôde. Aconteceu que a agilidade e rapidez do outro provocaram ferimentos
na boca e no braço do Sintès antes que ele pudesse imobilizá-lo.
Masson
tentou intervir para socorrer o companheiro, mas o que ele havia golpeado levantou-se
e colocou-se atrás do tipo que estava com a lâmina. Ao que tudo indica, os
árabes tomaram a vantagem na luta porque os três amigos não ousaram qualquer
movimento. Todavia seus oponentes puseram-se a recuar apesar de continuarem a lançar
ameaças com a navalha e com frases agressivas.
Os dois fugiram assim que se viram mais protegidos pela distância...
Sintès só tinha atenção para o braço que tinha sido perfurado e sangrava muito.
O calor escaldante parecia imobilizá-los, mas Masson notou a gravidade do
ferimento e sugeriu que fossem à casa de um médico que costumava passar “os
domingos no pequeno planalto”.
Sintès parecia assustado...
Quanto mais falava, mais sangrava pela boca, então quis se tratar o mais
depressa possível. Meursault e Masson o ajudaram na caminhada de volta para a casa.
(...)
Ao chegarem, Sintès comentou que os ferimentos eram
superficiais e que tinha condições de seguir à casa do médico. Masson o
conduziu, enquanto Meursault permaneceu “para explicar às mulheres o que se
tinha passado. Maria tornou-se pálida, enquanto a mulher do Masson pôs-se a
chorar.
O rapaz avaliou que explicar-lhes era maçante demais, então calou-se, acendeu
um cigarro e voltou sua atenção para o mar. Por volta de uma e meia Sintès e
Masson retornaram do médico... O ferido trazia um curativo na boca e outro no
braço, que estava como que imobilizado por umas ataduras. De acordo com o
médico, os ferimentos não eram dos mais graves, mas o tipo tinha ares de mau
humor e nem mesmo o alegre dono da casa conseguiu distraí-lo.
Depois de permanecer calado por algum tempo,
Sintès anunciou que queria ir à praia para “tomar ar”. Tanto Masson quanto
Meursault se dispuseram a acompanhá-lo, mas ele se irritou. Seu velho conhecido
admitiu que não deviam contrariá-lo, mesmo assim o rapaz decidiu ir com ele.
Leia: “O
Estrangeiro”. Editora Abril.
Um
abraço,
Prof.Gilberto