sábado, 22 de maio de 2021

“O Estrangeiro”, de Albert Camus – à tarde com o Sintès, aguardente e bilhar; Salamano perdeu seu cão nojento; confusão de sentimentos e tristeza do velho pelo sumiço do animal; de repente a lembrança da mãe; telefonema do Sintès, convite para visita a um amigo e aviso sobre um grupo de árabes, entre eles o irmão da antiga amante, que o persegue

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/o-estrangeiro-de-albert-camus-sintes.html antes de ler esta postagem:

Meursault e Sintès saíram... Tarde do domingo e nenhuma obrigação. Tomaram aguardente e jogaram sinuca. Na sequência, o vizinho sugeriu irem a um bordel... Mas o rapaz não topou alegando “falta de vontade”.
Voltaram para casa. Sintès lembrou que estava contente “por ter conseguido castigar a amante”. Meursault o achou simpático e pensou que o momento era bem agradável.
Enquanto seguiam pelo prédio, notaram o velho Salamano diante de sua porta com ares de agitação. Ele estava sem o cão, algo raro de se ver, e era por isso que olhava para os lados dando voltas em torno de si. O corredor estava bem escuro e tudo o que se podia ouvir eram as “palavras sem nexo” que o homem resmungava.
O velho queria olhar também para a rua... Sintès foi logo perguntando o que se passava, mas Salamano nada respondeu. Em vez disso, continuava a resmungar algo como “Bandido, cão nojento”. Meursault arriscou perguntar sobre o cão. Onde estava?
Nervosamente o outro respondeu que o animal tinha ido embora. E pôs-se a falar que havia levado o cão ao “Campo das Manobras”. Fazia isso costumeiramente... Disse que havia muita gente junto às barracas da feira, então ele decidiu parar e olhar “o Rei da Evasão”... Acontece que quando decidiu voltar, viu que o animal não estava mais ao seu lado.
O homem lamentou que já fazia algum tempo que pretendia comprar uma coleira menor, mas não imaginava que o “cão nojento fugisse dessa maneira”. O Sintès quis acalmá-lo dizendo que era provável que o cão tivesse se perdido... Haveria de voltar, pois conhecia muitos casos em que os animais percorriam “dezenas de quilômetros para encontrar os donos”.
Salamano não se acalmou... Vaticinou que certamente o apanhariam... Talvez o recolhessem, mas com as feridas todas era muito difícil isso ocorrer. Era um cão que dava nojo, então, em sua opinião seria levado pela carrocinha. Meursault explicou que, caso isso ocorresse, era só ir à Câmara que lhe devolveriam o animal... Teria de pagar uma taxa.
O velho quis saber se o valor era alto, mas o rapaz não sabia dizer-lhe. No mesmo instante o outro vociferou: “Dar dinheiro por aquele cão nojento?! Ele que rebente por aí!” A seguir proferiu vários insultos.
(...)
Sintès despediu-se. Meursault também se retirou para o quarto, mas logo o Salamano bateu à sua porta.
Meursault o convidou a entrar, mas o velho não quis. Via-se que estava trêmulo... Pediu desculpa enquanto olhava para o corredor. Assustado, perguntou a opinião do rapaz... Pegariam o cachorro para criar? Será que lhe trariam de volta?
Em tom de desespero, Salamano perguntou ainda o que seria dele sem o animal... Notando o triste estado do velho, Meursault explicou “que os cães ficavam durante três dias na Câmara à disposição dos donos e que, depois disso, lhes davam o destino que melhor lhes parecia”.
Salamano o olhou, mas não disse nada a respeito da informação... Cumprimentou com um “Boas noites” e fechou a porta. Desde a cama, Meursault pôde ouvir seus passos pelo corredor. E depois de algum tempo ouviu também a cama do velho ranger... Os estranhos barulhos que podiam ser detectados “através da parede” davam a entender que o homem chorava.
Sem compreender o motivo, o rapaz pensou na mãe...
No dia seguinte teria de levantar-se cedo. Sem fome, dispensou a janta e decidiu dormir.
(...)
Meursault teve de atender a um telefonema no escritório... Era o Sintès que queria dizer que havia comentado a seu respeito com um de seus amigos e este o “convidava para passar o domingo numa casa que tinha perto de Argel”.
O rapaz respondeu que “gostaria de ir”, mas avisou que já tinha combinado que passaria “o domingo com uma amiga”. No mesmo instante, Sintès acrescentou que ela também estava convidada, pois a mulher de seu amigo ficaria contente, assim não seria “a única no meio de um grupo de homens”.
Meursault queria finalizar o quanto antes a ligação porque sabia que seu chefe não gostava que deixassem o trabalho por causa de telefonemas que nada tinham a ver com o serviço. Mas acontece que o Sintès justificou que podia mesmo falar-lhe à noite, porém precisava avisar-lhe que durante o dia havia sido seguido “por um grupo de árabes entre os quais estava o irmão de sua antiga amante”. Então pedia-lhe que o avisasse se os visse perto do prédio durante a noite.
“Está combinado”. Foi o que Meursault respondeu.
Leia: “O Estrangeiro”. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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