sábado, 30 de outubro de 2010

Filme: A partida

A partida
Indicação (livre)
Tenho de escrever sobre este filme hoje. É... Porque gostei dele e, já que o assisti ontem à noite, o seu enredo está bem claro para mim. Posso dizer que, mais uma vez, aprovei um filme feito pelos japoneses. A partida é dirigido por Yojiro Takita.

A partida trata da trajetória de Daigo Kobayashi e de sua jovem esposa Mika. Ele tocava violoncelo em uma orquestra em Tóquio, onde viviam. Como as apresentações não atraíam publico, o patrocinador decide dissolver a filarmônica.

Daigo vê-se arrasado, já que ainda devia muito dinheiro para quitar o seu instrumento. Então ele se desfaz do violoncelo.

Percebe que as coisas não estão dando certo... Mas encontra o apoio de Mika que, sem pestanejar, topa mudar-se para a cidade natal do marido, onde há uma casa deixada pela mãe.

O casal pretende reiniciar a vida no interior. Percebemos que Mika está vislumbrada com os novos ares... Daigo vai atrás de uma entrevista para um emprego que vê num anúncio. Ele supõe tratar-se de algo em alguma agência de turismo, mas é surpreendido ao saber que o trabalho da agência é o de preparar os defuntos para a sua “última viagem”. Nota-se que o chefe tem um apreço especial por Daigo, já que o instiga a aceitar o trabalho. Ele nem apreciou o currículo que o candidato trouxe e já foi logo oferecendo uma quantia em forma de adiantamento.
Foi tudo muito rápido. Graças ao dinheiro recebido, o seu retorno para casa não foi de mãos vazias, Mika o recebeu feliz e quis saber do trabalho... O marido não teve coragem de entrar em detalhes.

O filme permite alguns momentos hilários... Um deles é quando Daigo serve de modelo para o chefe em um filme sobre o ofício...

No começo, Daigo era apenas assistente do chefe. De modo didático, temos algumas noções sobre os mais tradicionais rituais fúnebres daquele país. Os agentes fazem o último banho, colocam a última vestimenta e maquilam os defuntos perante os familiares na maior reverência. É mesmo muito emocionante.

Daigo se vê em maus lençóis ao perceber que o seu trabalho sofre preconceitos. Inicialmente nota que um conhecido da época da adolescência o despreza. Este é de uma família proprietária de uma casa de banho utilizada por Daigo... O moço não se entende com a mãe, viúva, que insiste em manter o estabelecimento... Há uma cena em que ele aconselha Daigo a “arranjar um trabalho decente”. Depois Mika também descobre, assistindo ao filme em que o marido serviu de modelo, pede que ele mude a situação, pois ela não aceita o trabalho do marido... Ela decide voltar para a casa dos pais... Daigo entra em crise... O chefe, por sua vez, pede o empenho de seu funcionário... Ao seu modo, serenamente, faz Daigo perceber a sua importância nas “partidas”. Mas em um dos cerimoniais, Daigo ouve algo que o machuca demais... Segue para a agência com a intenção de demitir-se... Depois de uma conversa com o chefe (o diálogo interessante gira em torno da morte, é claro) desiste da demissão.

Daigo tinha lá seus outros traumas... Sequer lembra-se da fisionomia do próprio pai, que abandonou a família quando ele era ainda uma criança; não compareceu ao enterro da mãe, pois estava no exterior... Conforme os cerimoniais se sucedem percebemos como as famílias ficam felizes, aliviadas, satisfeitas com o trabalho de Daigo... Impossível não percebermos o quanto o ser humano despreza o próprio semelhante e, muitas vezes, apenas no momento derradeiro reconhece suas falhas em relação ao próximo. Tragédias também aproximam as pessoas... Aquele que desprezava Daigo e seu trabalho sentiu sua mediocridade quando participou do cerimonial fúnebre da própria mãe.

A essa altura Mika havia retornado... Ela trazia notícias de seu "estado interessante", mas pedia que o marido abandonasse aquele trabalho... A fase final do filme é de “redenção”... Podemos dizer que o enredo todo trata de “partidas”... Elas não são necessariamente marcadas pela morte.


Um abraço,
Prof.Gilberto

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