segunda-feira, 31 de maio de 2021

“O Estrangeiro”, de Albert Camus – muita tensão no reencontro com os dois árabes; luz e calor do sol, três notas de uma flauta artesanal e o ruído da fonte; Sintès esteve prestes a atirar no desafeto, mas foi desaconselhado pelo amigo; um improvisado plano e a arma passa às mãos de Meursault; ao retornarem à casa, Meursault resolveu caminhar solitariamente sob o sol escaldante

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/o-estrangeiro-de-albert-camus-passeio.html antes de ler esta postagem:

Depois do entrevero com os árabes, quando acabou ferido, e da visita ao médico para os curativos, Sintès ficou mal-humorado e quis sair à praia para outra caminhada em busca de ar... Meursault o acompanhou, embora o outro não desejasse companhia.
Apesar do intenso calor, andaram por um bom tempo. O rapaz imaginou que Sintès sabia aonde ia, mas ao mesmo tempo podia estar indeciso ou enganado. Já no fim da praia, chegaram “a uma pequena fonte que corria para a areia, em direção do mar, por detrás de um grande rochedo”. Neste local avistaram os dois árabes. Eles estavam deitados e ainda vestiam os “trajes azuis e sujos”. Pareciam bem calmos e tinham uma aparência “quase beatífica”.
(...)
Os tipos não se mostraram incomodados com a chegada dos dois. Aliás, o que havia lutado com Sintès e o ferira olhava-os sem nada dizer. Seu companheiro soprava numa rústica flauta, provavelmente feita por ele mesmo, as “três notas que conseguia obter do instrumento”. Este também os olhava pelo canto dos olhos sem manifestar qualquer incômodo.
Meursault lembra que a atmosfera estava tomada pelo calor do sol, o monótono barulho da nascente e pelas três notas da flauta. Sintès colocou a mão no bolso detrás da calça... Seu desafeto notou e, ainda sem esboçar qualquer movimento, continuou a fitá-lo.
A cena estava envolvida em tensão... Apesar disso, Meursault voltou sua atenção para os pés do que tocava flauta e notou que seus dedos eram bem afastados. O Sintès também encarava o adversário e sem desviar os olhos perguntou ao companheiro se devia atirar...
Meursault imaginou que se respondesse negativamente o amigo se excitaria e daria o disparo, então resolveu falar que “o tipo ainda não disse nada; disparar assim sem mais nem menos, não seria bonito”.
(...)
Obviamente a tensão aumentou... Envolvidos pelo estonteante calor, os personagens permaneceram em silêncio. Tudo o que se ouvia eram a música da flauta e o leve som da água.
Sintès deu atenção ao conselho do amigo e sugeriu que, então, poderia insultar o seu adversário para que ele reagisse. Desse modo passaria a ter um bom motivo para atirar. Meursault assentiu, mas advertiu que se o tipo não puxasse a navalha não seria correto atirar.
O caso é que essa resposta parece ter deixado o Sintès nervoso... Ele pretendia dar cabo do outro que, junto com o comparsa que se mantinha pacientemente tocando a flauta, o observava com atenção.
Os movimentos do Sintès não deixaram dúvidas... Ele estava prestes a atirar e no momento decisivo Meursault disse-lhe “não”, pediu a arma e o aconselhou a enfrentar o adversário “homem a homem”. Se o comparsa interferisse ou puxasse a navalha, então ele atiraria.
Sintès entregou sua arma ao amigo... Ela brilhou ao ser atingida pela luz do sol... Os dois mantiveram-se imóveis e tudo à sua volta eram mar, areia, a estupenda claridade, e os sons da água e da flauta.
(...)
A arma estava com Meursault que pensou mesmo que atirar ou não dava no mesmo... Mas foi de repente que os árabes iniciaram uma movimentação de recuo até “desaparecerem por detrás do rochedo”.
Sintès e o companheiro resolveram voltar para a casa do Masson... Depois que tomaram o ônibus, ele até se dispôs a falar. Pelo visto estava bem melhor. Ao chegarem, Meursault permaneceu ao pé da escada enquanto o outro subia. O que o maçava era o esforço que teria de fazer para a subida e ainda o ter de falar às mulheres.
Ele acabou entendendo que ficar parado ali sob a ardente luz do sol também lhe era aborrecido. Permanecer ou retirar-se eram-lhe indiferentes. Depois de algum tempo voltou a caminhar na direção da praia.
(...)
A caminhada solitária teve início... Nada de novo, o brilho avermelhado era o mesmo, as ondas quebravam uma após outra arrefecendo o intenso calor da areia...
Meursault sentiu o inchaço da testa sob o sol devastador. Não pensou muito ao escolher o caminho que levava aos rochedos.
Leia: “O Estrangeiro”. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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