O major ficou admirado ao avistar um dos vaqueiros fugindo a todo galope de um boi de porte avantajado. A cena era de estranhar... Então havia entre seus homens alguém que fugia de boi? Difícil entender também porque o resto dos animais prosseguia “em passo cheio”!
O homem ainda mais apressou o compadre João Manico... Para a sua surpresa o boi desgarrado foi para cima de Badú.
(...)
Badú ouviu o alvoroço que se iniciou por causa do inusitado evento e
voltou o seu olhar bem na direção da movimentação. Foi assim que ele pôde
entender que o cavaleiro que estava adiante na corrida era o seu desafeto.
Silvino
desviou-se de Badú quando este estava apenas a alguns passos... O animal, um
touro, vinha logo atrás e foi para cima dele.
Sua montaria, o
poldro que ainda era muito desconfiado, escapou para fora da área de choque...
Badú viu-se quase totalmente desamparado, já que conseguiu manter apenas a vara
em suas mãos firmes.
(...)
O
grande zebu parou diante do rapaz... Todos entenderam que a fera não daria a
menor chance a ele, pois começou a chacoalhar-se inteiro. Depois o animal
encolheu-se e seu enorme físico tornou-se um sistema de ataque (pescoço cabeça e
cocuruto) que se assemelhava a “torres superpostas”... Era evidente que estava
disposto e pronto para atacar.
Badú não teve tempo
para se posicionar devidamente... Sua mão esquerda agarrou a vara num ponto
próximo ao ferrão... A mão direita segurou o instrumento mais atrás.
O bicho saltou para cima
do pobre cavaleiro que, num primeiro momento, soltou uns impropérios... “Põe
p'ra lá, vaca velha!
A ponta metálica
resvalou a bochecha do touro... Foi por bem pouco que Badú conseguiu se desviar
para um dos lados e livrar-se da chifrada. Foi um raspão, mas pesou tanto
quanto um trompaço dos que os grandes elefantes podem desferir.
O rapaz desequilibrou-se
e quase caiu... Tomou nova posição enquanto o gigante soltava sopros violentos
pelas narinas e batia os cascos contra o chão. O Major Saulo e o compadre
Manico perceberam que Badú seria atingido bem no meio. Seu corpo podia ser
dividido em dois pelo novo ataque!
(...)
O que Badú podia fazer?
Resolveu não encarar a grande montanha que se precipitava contra ele... O
chão tremeu à sua volta enquanto o volume da “máquina de trem-de-ferro” carregada
de maldade aumentava.
Em vez de fitar os olhos da fera, Badú
concentrou o olhar na ponta da vara. Soltou um grito, “Põe p'ra lá, marrueiro!”,
e viu o aguilhão ferir a narina do touro. Depois apoiou-se na vara e usou a
própria força do animal para suspender-se o suficiente e lançar-se para a esquerda...
O touro passou e ele o
empurrou na lateral... Após um belo salto, o moço caiu de pés juntos... Soltou
um grito de vencedor de mais esse combate... “Passa, corisco! Aratanha!”.
O touro fugiu do golpe às carreiras.
O
dia estava sendo de fortes emoções para Badú.
(...)
Não foi sem uma ponta
de orgulho que o Major Saulo sentenciou que a topada havia sido correta...
Manobras perfeitas... A vara era boa e bom era o vaqueiro que trabalhava para
ele.
Mas
a contenda ainda não estava finalizada... A fera soltou forte mugido e voltou à
carga ainda mais furioso.
Badú golpeou-o
novamente com o ferro, que espetou a cara do bicho um pouco abaixo do “entre-olhos”.
Mesmo assim o marruaz continuou a avançar, e foi por isso que a vara envergou.
Como o vaqueiro não recuou, viu as patas dianteiras do musculoso animal
erguerem-se.
Mesmo golpeado, o
touro roncava e mostrava toda sua violência. Badú não permitiu a ofensiva e manteve-se
firme... Sem soltar a vara ou desprendê-la da fronte do bicho, recuou e depois
avançou em sua direção... O moço era mesmo experiente! Afinal já fazia dez anos
que lidava com gado “nos currais do sertão”.
(...)
O zebu perdeu o equilíbrio,
balançou-se e caiu como um cabrito.
Estava provado que
não é só com força que se topava gado marruaz... O vaqueiro precisa ter “jeito”.
A
boiada já ia longe... Badú deu ordem ao que o havia atacado: “Ei, rei! Vai-te
ajuntar com os outros!”
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/04/o-burrinho-pedres-conto-de-sagarana-de_21.html
Leia: O
Burrinho Pedrês – conto de Sagarana. Editora José Olympio.
Um abraço,
Prof.Gilberto