Os demais vaqueiros notaram que Silvino tinha mesmo más intenções ao se aproximar de Badú naquelas condições e no meio da escuridão... Um deles se intrometeu e disse ao rapaz que o caso não era de briga porque no final das contas alguma razão o Francolim tinha.
Francolim corrigiu o companheiro ao salientar que tinha “razão por inteiro”, pois representava o Seu Major... E acrescentou que por ordem do patrão podia colocar seu revólver em ação ali mesmo.
Os comentários continuaram... Um sugeriu que Francolim devia lagar a “valentia boba”... Outro pediu “mais juízo” da parte de todos e salientou que o burro havia chegado.
(...)
Os
homens notaram o comportamento de Sete-de-Ouros... O burro respirou a aragem e
manteve as orelhas firmes e para o alto... Na sequência elas se mexeram para os
lados... Havia incerteza, perigo... Quem podia saber?
Pelo visto o animal
já processara as informações a respeito das dificuldades do ambiente... A
escuridão era mesmo espessa e ele não saiu do lugar. De acordo com o próprio
texto: “um burro não é gato e nem cobra, para querer enxergar no escuro. Ele
não espiava, não escutava. Esperava qualquer coisa”.
(...)
Foi
de repente que Sete-de-Ouros sentiu que era momento de avançar, pois ele se
movimentou de modo resoluto pelo aguaceiro. Depois disso os cavalos se dispuseram
a segui-lo.
Alguns passos foram
dados e o piado do joão-corta-pau voltou a preencher o ambiente... No mesmo
instante, João Manico freou seu cavalo e disse que não seguiria em frente.
Implicado com o passarinho que também era João, o Manico cismou que a avezinha
estava ali para lhe dar algum aviso ou para agourar a travessia que fariam.
De modo algum João
Manico avançaria... Para ele, os vários sinais da noite anunciavam maus agouros.
E foi isso o que disse aos companheiros.
Um dos homens disse
que o Manico devia parar com aquele medo... Será que ele não sabia que o
joão-corta-pau é dos passarinhos mais graciosos? Aquela criaturinha nada tinha
com agouros! O bichinho estava cantando daquele jeito por causa do aguaceiro!
Certamente havia se escondido em alguma moita e talvez passaria a noite toda
ali a dar os “seus gritinhos de gaita”.
Insistiram com o
Manico, mas foi em vão. Por fim ele argumentou que o poldro podia até tombá-lo
no meio do córrego. E ele nem sabia nadar!
No mesmo instante, Juca anunciou que ficaria com o Manico para lhe fazer
companhia. Perguntaram se ele também estava com medo e sua resposta foi a de
que estava um pouco resfriado.
Juca deixou claro que buscaria um lugar mais elevado onde ele e o Manico
pudessem esperar a água baixar e o dia clarear.
Assim os dois se apartaram do grupo... Os demais
vaqueiros cavalgaram para “dentro da escuridão”.
(...)
No começo os animais
avançaram por um piso plano e alagado... Passo a passo perceberam o aguaceiro
atingindo a altura do peito... Logo sentiram a correnteza e o murmurar violento
das águas.
Tudo inundado! É como se a Fome tivesse “umas mil torneiras”... Em vez
do “riacho ralo” da manhã, os homens se depararam com grande volume de águas que
havia se juntado espantosamente no correr do dia.
Mas
não havia retorno... Homens e cavalos se tornaram envolvidos pelo volume de
águas frias... O fato de lutarem contra o fluxo da correnteza fazia com que a
travessia se tornasse ainda mais complicada.
Sete-de-Ouros chegou
ao ponto onde seus cascos já não pisavam o fundo... Então ele pôs-se a nadar. E
que não se diga que o pobre animal fez movimentos desesperados e aleatórios
porque seguiu resoluto no rumo que escolhera.
(...)
Badú
manteve-se agarrado à sua montaria... Nada podia fazer, pois era o
Sete-de-Ouros que estava no comando das ações.
Francolim estava logo
atrás e gritou para que ele segurasse bem para não cair... Seu grito seguinte
foi um pedido para que o esperasse.
Depois
foi a vez de Silvino vociferar... Ele insistiu com Francolim para que o
deixasse passar. Evidentemente queria se aproximar de Badú para concretizar seu
plano diabólico.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/05/o-burrinho-pedres-conto-de-sagarana-de_7.html
Leia: O
Burrinho Pedrês – conto de Sagarana. Editora José Olympio.
Um abraço,
Prof.Gilberto