segunda-feira, 29 de outubro de 2012

"Os Mandarins", de Simone de Beauvoir – uma reunião na casa de Claudie; Anne conhece novos tipos e ouve Lucie Belhomme falar sobre Paule; entende que Marie-Ange sugere-lhe diversões para uma noite mais prolongada

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/10/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_23.html antes de ler esta postagem:

Anne ainda não havia falado sobre a carta de Romieux com Nadine... Ela andava refletindo sobre a viagem aos Estados Unidos... De certa forma, a garota percebia ares de mudança na mãe. Alguns dias depois do encontro com Paule, Anne teve uma conversa daquelas em que a filha sempre fazia questão de ferir sua autoestima... Sem se importar com o que a mãe pudesse estar passando, Nadine revelou que havia encontrado “o homem de sua vida”... O “verdadeiro”... Amigo de Lachaume, um autêntico militante chamado Joly. A garota estava fascinada e contou a Anne que o rapaz se mostrava surpreso por ela ainda não ter ingressado no Partido... Anne disse que concordava que filha devia mesmo passar por experiências daquele tipo... Acabou ouvindo que não se tratava bem disso... Para Nadine (e Joly), “experiências” como a mãe e os especialistas diziam ao se referirem aos engajamentos juvenis eram meras classificações, perdas de tempo. Para eles o que contava era a atuação. Por alguns dias Anne viu Nadine entre empolgada e frustrada diante de volumes de Química e de O Capital... Os gestos de Anne passaram a ser analisados pela filha “à luz do materialismo histórico”.
(...)
Claudie era um tipo rico que, durante a guerra, teve condições de enviar algum auxílio aos amigos menos favorecidos e aos engajados na Resistência. No pós-guerra as coisas iam se ajeitando e a moça realizava encontros para coquetéis em sua mansão às quintas-feiras... Normalmente o encontro contava com diversas de suas amigas para conversas e “bebericagens”. Conforme havia indicado a Paule, Anne decidiu comparecer a uma dessas reuniões... E aconteceu numa “tarde de neve no mês de maio”.
Anne chegou de bicicleta e foi recepcionada por Laure Marva, que foi logo esclarecendo que todas as presentes ficaram encantadas com sua chegada... Um milagre! Laure disse que nem ousavam convidá-la porque Anne estava sempre muito ocupada... De fato, aquele tipo de reunião dizia bem pouco a Anne e Robert... O casal considerava aquilo muito entediante... Os que ali se encontravam viam o casal Dubreuilh como orgulhoso...
Claudie perguntou por Robert e elogiou seu artigo em Vigilance... Perlène, pintor amante de Claudie, participou dizendo que a publicação da revista era um feito considerável... Outra que quis falar sobre Robert foi Guite Ventadour (segundo a própria Anne, essa aí era uma “escritora de romances inteligentes”), que se referiu a ele como amante da arte pura, mas mesmo assim apaixonado pelas mazelas humanas do “mundo atual”... Claudie quis saber se Anne escrevia um diário sobre as atividades do marido... Obviamente ela respondeu que não tinha tempo para isso. Huguette Volange comentou com admiração que, mesmo vivendo com um homem do porte de Robert, Anne ainda se envolvia em afazeres profissionais... Algo que para ela seria impossível, pois seu marido demandava seu tempo integralmente...
Anne sentia que olhavam para ela e a enchiam de questões como se o marido já houvesse morrido... Ela pensou e levou em conta o quanto Robert era disputado por essas pessoas, mas não gostaria que a enxergassem como testemunha ou herdeira dele.
Foi Guite quem, talvez percebendo o mal-estar de Anne, retirou-a do meio das convivas para servir-lhe algo. Então comentou que não havia ali outra mulher inteligente além delas duas. Sugeriu que um dia Anne e Robert a visitassem para conversar e jantar... Ponderou que apenas homens seriam convidados, declarando que a companhia de mulheres não rendia boas conversas. Anne observou que se entendia muito bem com as mulheres... Guite não compartilhava dessa opinião e perguntou se aquilo era normal... Anne respondeu que quase todas as mulheres preferiam a companhia masculina... Guite voltou-se para Huguette, com quem passou a conversar...
Novamente Claudie se aproximou de Anne e apresentou-lhe Lucie Belhomme, uma estilista morena e alta que também conhecia Paule... Sobre ela, Lucie foi dizendo que não possuía estilo, ou ainda não havia encontrado o seu próprio (como Anne queria fazer crer). A moça também disse que ”vestiu” Paule gratuitamente para gerar publicidade para a sua Casa Amaryllis. Comentou também que, em sua opinião, Paule nunca soube tirar bom proveito de suas atribuições... Nem mesmo de sua bela voz... Falou sobre a oportunidade que a outra teve de cantar no Brasil e sobre como passou a se devotar a uma paixão (sabia do “caso” sem conhecer Henri)... Lucie quis saber de Anne se era verdade que Paule estava sendo abandonada... Anne desmentiu com veemência...
Novamente sozinha, Anne passou a refletir sobre o ódio que Lucie expressou em relação a Paule, que considerava uma “prostituta cantora” preguiçosa que vivia a aguardar alguém que a protegesse... Anne pensou sobre isso e sobre o fato de a amiga nunca ter falado sobre seus primeiros anos em Paris... Algo intrigante... De repente quem chega perto dela é ninguém menos que Marie-Ange, a repórter que se fez passar por doméstica. Iniciaram conversa amistosa e Anne dizia que a desculpava, pois "era a mais velha de seis irmãos"... A outra revelou em tom de brincadeira que havia mentido também sobre isso, pois tinha apenas um irmão... Anne quis saber o que fazia ali e Marie-Ange disse que apreciava coquetéis e gostava de ser vista... Acabava ouvindo as novidades... Anne perguntou sobre o que ela poderia informar a respeito de Guite Ventadour, mas Marie nada sabia da escritora, "que não falava de si"... Mas em relação à Lucie Belhomme descarregou que já era um tipo de idade considerável, que possuía três amantes... Antes da guerra ganhou muito dinheiro... Agora estava numa fase de recuperação dos negócios, embora manifestasse certo enjoo e por isso se revelava má...
Marie-Ange disse que os “tipos chatos” tinham se retirado da casa e, então podiam se divertir... Anne deu a desculpa de que tinha coisas a resolver... Claudie insistiu para que ficasse para a ceia, que seria servida em mesas separadas... Queria apresentá-la a pessoas ricas e importantes, que pagariam bem pelas consultas em seu consultório... Anne respondeu que já possuía muitos pacientes, mas ouviu de Claudie que nem todos pagavam adequadamente, sendo assim, um só novo cliente poderia economizar-lhe o tempo que dispensava a dez... Anne respondeu que poderiam voltar a falar sobre o assunto, mas notou que Claudie só entendia o trabalho como meio de prosperar e se enriquecer... Definitivamente Anne não via o trabalho da mesma forma...
Depois as mulheres se acomodaram e iniciaram um “jogo da verdade”... Anne quis mostrar que não gostava do jogo em que as pessoas só diziam mentiras sem revelar “o mistério que habita” dentro delas... Huguette perguntou a Guite qual a sua flor preferida... Para Claudie, perguntou quantos amantes ela já teve... A anfitriã ficou sem saber se 25 ou 26 e, “para dizer a verdade”, foi até o banheiro onde mantinha uma lista... Ao retornar, gritou em triunfo que eram 27.
Então Huguette perguntou a Anne em quê pensava naquele momento... Ela respondeu que deveria estar em outra parte porque tinha serviço urgente... Sob protestos foi se retirando... Marie-Ange a seguiu e lamentou profundamente que Anne tivesse de ir, pois poderiam jantar juntas... Mas não teve jeito, Anne pegou sua bicicleta e saiu... Seguiu pensando sobre esse tipinho que bem provavelmente pretendia oferecer seu coração e corpinho a ela...
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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