Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_28.html antes
de ler esta postagem:
Como
vimos na última postagem, a rainha do Congo D. Jacinta I mereceu destaque por
conceder títulos nobiliárquicos, inclusive a Camilo Castelo Branco, e por
promover eventos sociais anunciados com pompa...
O “Jornal do Comércio de 11 de outubro de 1867”, por exemplo, anunciou a
convocação da rainha para a missa da Igreja de Santa Joana que ocorreria no dia
de Nossa Senhora do Rosário (17 de outubro), além dos três bailes que a
antecederiam (dos dias 12, 13 e 14 de outubro) na rua de São Marçal.
(...)
Depois dessa festividade,
D. Jacinta não teve muito mais tempo como rainha... O texto destaca que em fins
da década de 1860, o marquês de Revivento, da Confraria do Rosário do Convento
de Santa Joana, declarou ao jornalista Ribeiro Guimarães, na condição de
procurador geral do Reinado, que a rainha do “Império do Congo” (já) era Dona
Joana Inácia da Conceição, “que dividia a coroa com um príncipe regente Antonio
Joaquim”.
Aliás, para o referido marquês, no caso de Dona Joana
Inácia da Conceição, a condição de rainha não estava sendo plenamente aceita. É
que, com base nos “papéis constitutivos do reinado do Congo, havia uma
“condição essencialíssima”, que se exigia para que rei e rainha cingissem “a
coroa do império”: “ser natural de uma das nações daquele reino africano”. E,
de acordo com o procurador do reinado, não parecia ser o caso de D. Joana.
(...)
Polêmicas à parte, o fato é que houve um declínio das manifestações
relacionadas a “reinados do Congo” em Portugal. Apesar disso, em Lisboa elas
não desapareceram completamente.
O texto destaca um fragmento de “Superstições
portuguesas no século XVI”, de Pedro de Resende, que saiu na edição de 1899 da
“Revista Lusitana”. O pesquisador esclarece que, apesar dos reveses sofridos,
as associações dos negros reacendiam conforme novos eventos eram organizados.
De acordo com o autor:
“dissolvidos por
vezes, ainda os pretos conseguiram renovar debaixo do tipo de irmandades, ou
confrarias”... E mais:
“Há poucos anos, numa procissão que se verificou
em Lisboa, ia uma irmandade composta de negros, com os seus santos e oragos de
cor, e existe ainda na mesma cidade (Lisboa) uma rainha do Congo com a sua
corte”.
(...)
O último capítulo do livro
começa esclarecendo que “em pelo menos 36 igrejas e 27 cidades” portuguesas
formaram-se confrarias de Nossa senhora do Rosário dos Homens Pretos.
Em
nota, o autor cita templos e localidades, além de destacar que, no país
ibérico, as confrarias foram associações determinantes para a atuação dos
negros nos eventos planejados para a “coroação dos reis do Congo”. Já para os
atos públicos e bailes, elas recorriam a “clubes cívicos-recreativos”.
No Brasil, “a memória africana em Reinados do Congo” passou por
transformações desde o final do século XVII e foi marcada por danças e
cantigas. O livro esclarece que as festividades relacionadas à coroação dos “reis
negros” lembravam as que ocorriam em Portugal.
(...)
Desde 1654, ano que
coincide com a expulsão dos holandeses do Nordeste, havia uma irmandade dos
homens pretos no Recife.
Entre 1662 e 1667, a associação dedicou-se à
construção da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos do Recife,
onde realizaram-se cerimônias e festividades de coroação... Pelo menos entre 1674
e 1708 ocorreram coroações de “reis de Angola” e vez de “do Congo.
A este respeito, o autor destaca fragmentos de “Os sons dos negros no
Brasil”, de sua autoria:
“O fato
de os documentos de 1674 da Irmandade do Rosário referirem-se a reis dos
Angolas e não a reis do Congo tem uma explicação: durante a ocupação holandesa
na África, o reino do Congo afastou-se dos portugueses, chegando a declarar-lhes
guerra duas vezes: a primeira em 1656, quando o rei D. Antonio Manimuzula foi
derrotado por Diogo Gomes de Morales; a segunda em 1665, quando o mesmo rei do
Congo, além de ser derrotado pela superioridade das armas dos portugueses, em Ambuíla,
foi capturado e degolado*. Após essa vitória, os portugueses passaram a
englobar sob o nome de Angola o antigo reino do Congo, o que era uma forma de
apagar a importância do manicongo. Assim, é claro que, no Brasil, os negros não
pudessem mais, ao menos durante algum tempo, sagrar orgulhosamente reis do
Congo, e sim, como exceção forçada, apenas reis de Angola”.
* a este respeito ver https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/02/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_27.html.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/06/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_5.html
Leia: Rei
do Congo. Editora 34.
Um
abraço,
Prof.Gilberto