Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/03/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_22.html antes
de ler esta postagem:
A
Senhora Peachum não podia crer que mais uma vez Polly os desobedeceria... Quer
dizer que amava a um criminoso e não aceitaria se divorciar? Será que não tinha
vergonha?
A filha dos Peachum não aceitou aqueles termos... Começou a argumentar sobre
o sentimento do amor, algo que provavelmente a mãe já teria experimentado na
vida... Mas não conseguiu concluir porque a outra vociferou que aquelas ideias
só podiam ser resultado da leitura de livros que “viraram a cabeça” da moça.
Polly insistiu que não se
divorciaria... Seria uma exceção, já que se dizia que o processo estava cada
vez mais comum e desejado pelas mulheres. Dona Célia não se conteve e disparou
que lhe daria uma surra “pela exceção”. A jovem respondeu que toda mãe costuma
agir daquela forma, mas isso não adianta “porque o amor é sempre maior do que a
surra”. Sendo assim, não permitiria que ninguém lhe roubasse o sentimento.
E tanto Polly falou que a mãe a ameaçou novamente com
um tapa... Mesmo assim ela conseguiu dizer o que pensava, que “o amor é a coisa
mais sublime do mundo”.
(...)
Como se vê, Polly parecia emocionalmente extasiada... Sua mãe tentava
trazê-la à realidade ao lembrar que o Mac Navalha era um sujeito que se
envolvia com muitas mulheres e que, se fosse enforcado, logo apareceriam umas
seis viúvas com filhos dele no colo.
No mesmo instante, o velho Peachum interveio... Achou
muito interessante a ideia de um enforcamento. Então pediu para Polly se
retirar, pois tinha assuntos a tratar unicamente com a Senhora Peachum.
A mulher entendeu no mesmo instante. Por quarenta libras o marido faria
uma denúncia ao chefe de polícia. Peachum confirmou e, antevendo o sucesso de
seu plano, disse que o bandido poderia ser enforcado sem qualquer custo. Precisavam
apenas saber onde ele se escondia.
Isso não era problema, já que sua esposa tinha certeza de que o Navalha
só podia estar “junto às suas vagabundas”. O velho balançou a cabeça e
reconheceu que as mulheres não o entregariam.
A mãe de Polly disse saber
lidar com aquele tipo de situação... Disse que “onde o ouro fala, tudo cala”...
Era só uma questão de ir a Turnbridge e se entender com as garotas... Se o
Navalha ousasse se encontrar com elas se daria mal...
(...)
Polly ouviu a conversa dos
pais. Adiantou-se e disse à mãe que ela não precisava se dar ao trabalho, pois
sabia que Mac preferiria dirigir-se direto ao cárcere de Old Bailey a encontrar-se
com as mulheres de Turnbridge. Acrescentou que, de qualquer maneira, se fosse a
Old Bailey, o chefe de polícia lhe ofereceria uma bebida, cigarros e um bom
papo, pois ele até compareceu ao seu casamento. Para provocar o pai, Polly
acrescentou que o tira e Mac talvez pudessem conversar a respeito dos negócios
escusos que envolviam o agenciamento de mendigos.
Desconfiado,
Peachum perguntou se ela sabia o nome do chefe de polícia... Polly respondeu
que ele se chamava Brown... Mas, se era mesmo do interesse, devia saber que
todos o conheciam por Brown-o-tigre, pois era temido pela comunidade... Mas era
íntimo de Mac Navalha, que o chamava de Jackie.
Então o maior dos bandidos era amigo do maior responsável pelo
policiamento? Peachum debochou e disse que deviam ser os únicos amigos na
cidade... Polly relatou sobre a amizade que conservavam desde a juventude, e
podia dizer mesmo que não havia nada na Scotland Yard que pudesse incriminar
seu marido.
Peachum pôs-se a falar sobre
o motivo que podia levar o Navalha à forca antes que a semana terminasse...
Disse que certamente o tipo já era casado e que, mesmo assim, a havia induzido
a deixar a casa dos pais “de terça à noite até a manhã de quinta”. Empolgado,
Jonathan Peachum ensaiou um discurso em que improvisava uma sentença ao
vilão:
“Senhor
Macheath, outrora o senhor tinha luvas de pelica brancas, uma bengala com
castão de marfim, uma cicatriz no pescoço e frequentava o Hotel do Polvo. Agora
só lhe restou a cicatriz que, dentre todas as suas marcas é a de menor valor; e
frequentar, só as gaiolas, para, como é de prever, logo, logo, lugar nenhum...”.
A Senhora Peachum não se mostrou empolgada... Será que o marido havia se
esquecido que estava se referindo ao maior bandido de Londres? Com aquele tipo
ninguém podia!
O velho Peachum não se deu por rogado. À Polly, disse
que devia se arrumar, pois iriam ter com o “xerife”... À Célia, ordenou que
fosse logo a Turnbridge... Certo! A mulher concordou e admitiu que tinha de
conversar com as prostitutas o quanto antes...
Polly não se mostrou preocupada. Pelo contrário! Disse que teria o
prazer de cumprimentar novamente o Chefe Brown.
(...)
Peachum deu por encerrada a reunião de família...
Finalizou dizendo que fariam o que devia ser feito, “pois a maldade do mundo é
grande e é preciso gastar as solas para que ninguém nos roube os sapatos”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/03/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_24.html
Leia: “A
ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um abraço,
Prof.Gilberto