terça-feira, 23 de março de 2021

“A Ópera de Três Vinténs” – peça de Bertold Brecht musicada por Kurt Weill – ainda o texto da peça; Célia Peachum não se conforma com a filha que insiste em permanecer casada com o Navalha; para uma extasiada, nem a ameaça de castigo a faz mudar de ideia; o “rei dos mendigos” achou boa a ideia de pedir o enforcamento do genro; as prostitutas de Turnbridge teriam de ser contatadas e convencidas a entregar o vilão; Polly revela a aproximação afetiva entre o Navalha e o chefe de polícia; dividindo tarefas para “fazer o que devia ser feito”


A Senhora Peachum não podia crer que mais uma vez Polly os desobedeceria... Quer dizer que amava a um criminoso e não aceitaria se divorciar? Será que não tinha vergonha?
A filha dos Peachum não aceitou aqueles termos... Começou a argumentar sobre o sentimento do amor, algo que provavelmente a mãe já teria experimentado na vida... Mas não conseguiu concluir porque a outra vociferou que aquelas ideias só podiam ser resultado da leitura de livros que “viraram a cabeça” da moça.
Polly insistiu que não se divorciaria... Seria uma exceção, já que se dizia que o processo estava cada vez mais comum e desejado pelas mulheres. Dona Célia não se conteve e disparou que lhe daria uma surra “pela exceção”. A jovem respondeu que toda mãe costuma agir daquela forma, mas isso não adianta “porque o amor é sempre maior do que a surra”. Sendo assim, não permitiria que ninguém lhe roubasse o sentimento.
E tanto Polly falou que a mãe a ameaçou novamente com um tapa... Mesmo assim ela conseguiu dizer o que pensava, que “o amor é a coisa mais sublime do mundo”.
(...)
Como se vê, Polly parecia emocionalmente extasiada... Sua mãe tentava trazê-la à realidade ao lembrar que o Mac Navalha era um sujeito que se envolvia com muitas mulheres e que, se fosse enforcado, logo apareceriam umas seis viúvas com filhos dele no colo.
No mesmo instante, o velho Peachum interveio... Achou muito interessante a ideia de um enforcamento. Então pediu para Polly se retirar, pois tinha assuntos a tratar unicamente com a Senhora Peachum.
A mulher entendeu no mesmo instante. Por quarenta libras o marido faria uma denúncia ao chefe de polícia. Peachum confirmou e, antevendo o sucesso de seu plano, disse que o bandido poderia ser enforcado sem qualquer custo. Precisavam apenas saber onde ele se escondia.
Isso não era problema, já que sua esposa tinha certeza de que o Navalha só podia estar “junto às suas vagabundas”. O velho balançou a cabeça e reconheceu que as mulheres não o entregariam.
A mãe de Polly disse saber lidar com aquele tipo de situação... Disse que “onde o ouro fala, tudo cala”... Era só uma questão de ir a Turnbridge e se entender com as garotas... Se o Navalha ousasse se encontrar com elas se daria mal...
(...)
Polly ouviu a conversa dos pais. Adiantou-se e disse à mãe que ela não precisava se dar ao trabalho, pois sabia que Mac preferiria dirigir-se direto ao cárcere de Old Bailey a encontrar-se com as mulheres de Turnbridge. Acrescentou que, de qualquer maneira, se fosse a Old Bailey, o chefe de polícia lhe ofereceria uma bebida, cigarros e um bom papo, pois ele até compareceu ao seu casamento. Para provocar o pai, Polly acrescentou que o tira e Mac talvez pudessem conversar a respeito dos negócios escusos que envolviam o agenciamento de mendigos.
Desconfiado, Peachum perguntou se ela sabia o nome do chefe de polícia... Polly respondeu que ele se chamava Brown... Mas, se era mesmo do interesse, devia saber que todos o conheciam por Brown-o-tigre, pois era temido pela comunidade... Mas era íntimo de Mac Navalha, que o chamava de Jackie.
Então o maior dos bandidos era amigo do maior responsável pelo policiamento? Peachum debochou e disse que deviam ser os únicos amigos na cidade... Polly relatou sobre a amizade que conservavam desde a juventude, e podia dizer mesmo que não havia nada na Scotland Yard que pudesse incriminar seu marido.
Peachum pôs-se a falar sobre o motivo que podia levar o Navalha à forca antes que a semana terminasse... Disse que certamente o tipo já era casado e que, mesmo assim, a havia induzido a deixar a casa dos pais “de terça à noite até a manhã de quinta”. Empolgado, Jonathan Peachum ensaiou um discurso em que improvisava uma sentença ao vilão:

                   “Senhor Macheath, outrora o senhor tinha luvas de pelica brancas, uma bengala com castão de marfim, uma cicatriz no pescoço e frequentava o Hotel do Polvo. Agora só lhe restou a cicatriz que, dentre todas as suas marcas é a de menor valor; e frequentar, só as gaiolas, para, como é de prever, logo, logo, lugar nenhum...”.

A Senhora Peachum não se mostrou empolgada... Será que o marido havia se esquecido que estava se referindo ao maior bandido de Londres? Com aquele tipo ninguém podia!
O velho Peachum não se deu por rogado. À Polly, disse que devia se arrumar, pois iriam ter com o “xerife”... À Célia, ordenou que fosse logo a Turnbridge... Certo! A mulher concordou e admitiu que tinha de conversar com as prostitutas o quanto antes...
Polly não se mostrou preocupada. Pelo contrário! Disse que teria o prazer de cumprimentar novamente o Chefe Brown.
(...)
Peachum deu por encerrada a reunião de família... Finalizou dizendo que fariam o que devia ser feito, “pois a maldade do mundo é grande e é preciso gastar as solas para que ninguém nos roube os sapatos”.
Leia: “A ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um abraço,
Prof.Gilberto

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