Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_33.html antes
de ler esta postagem:
Peachum
fez palanque de uma das mesas e discursou aos camaradas mendigos... Disse que
naquele mesmo momento 1432 homens e mulheres, seus colegas, estavam “marchando
para homenagear a rainha”. Convocou-os perguntando se, miseráveis que eram há
tantos anos perecendo nos esgotos, gostariam de se juntar a eles. Na sequência
justificou que sua parte havia sido bem-feita ao recolher alguns centavos de
cada um para mantê-los organizados.
O “rei dos mendigos” garantiu que “os ricos desse mundo” não têm
qualquer receio em causar a miséria, mas não suportam encará-la... Os ricos,
continuou ele, têm coração duro, mas são fracos os seus nervos. O que tinham a
fazer? Participar ativamente da grande “marcha em homenagem à rainha” sem
poupar os nervos dos ricaços. Somavam milhares e assim abalariam o sistema
nervoso dos poderosos, que logo saberiam que os farrapos que os cobriam não conseguem
esconder suas feridas.
(...)
Essas palavras inflamaram os
ânimos dos agregados do “escritório de Peachum”... O lugar estava lotado e junto
à porta alguns que mantinham os cartazes sobre as cabeças mostravam disposição
para a ação imediata. Peachum disse ainda que a rainha não permitiria que a
multidão de inválidos fosse atacada por baionetas. Por isso ninguém devia ter
medo de seguir em frente... “Em frente! Em frente!”, foi a palavra de ordem.
A empolgação foi geral... Quem os poderia barrar? Mas quando
o discurso estava terminando, a dona Célia apareceu com vários papéis e começou
a puxar o marido pelas pernas... Pediu-lhe que parasse imediatamente com a
falação e todos aqueles incentivos porque tinha descoberto que Macheath havia
se tornado “presidente de um banco”.
(...)
Sabemos que essa reviravolta no status do Mac Navalha havia sido obra de
Polly. Então vemos o velho Peachum lendo apressadamente a papelada em meio ao
barulho da movimentação dos mendigos para o grande protesto.
Seu semblante é o de quem não pode acreditar no que
lê. Dona Célia grita-lhe que o pessoal deve ser chamado de volta imediatamente.
(...)
A mulher explicou que Polly era “convidada de honra na tribuna”. Assim,
de um momento para outro, a situação mudou completamente. De modo algum ele
podia liderar uma manifestação agressiva às festividades e homenagens à rainha
coroada. Atabalhoadamente, o velho Peachum retirou-se da mesa dizendo que sabia
o que faria...
As ruas nas imediações do escritório estavam tomadas pelas colunas de
miseráveis que seguiam resolutamente com seus andrajos e cartazes de mensagens agressivas.
Ele correu para o meio do turbilhão exigindo que parassem. Deviam parar
imediatamente! Deviam retornar!
Mas ninguém parecia querer
ouvi-lo... Seus gritos e braços agitados não surtiam qualquer efeito sobre a
multidão. Podemos dizer que ele corria riscos ao pretender confrontar e barrar
a passagem da massa. Alguém desavisado diria que ele só podia ser um louco atentando
contra a própria vida. Ainda mais berrou ao perceber que não lograva êxito...
(...)
As cenas em preto e branco são
muito significativas, pois notamos a multidão silenciosa prosseguindo a passos
lentos e constantes. As mensagens dos cartazes são desabafos agressivos da
gente marginalizada e carente dos recursos mais básicos. No alto de uma mureta,
o descabelado Peachum berrava e pedia aos miseráveis que fossem sensatos. Ele
mesmo que os havia inflamado para as manifestações, agora os chamava “à razão”...
(...)
Novamente
a tela se escureceu... O narrador apareceu mais uma vez e falou diretamente a
quem assiste ao filme:
“então faça o seu
plano,
sim, seja uma
luz brilhante;
então faça um
segundo plano;
nenhum deles
dará certo;
entenda, nessa
existência
não há homem mau
o suficiente,
mas ainda é
bonito observá-los
tentando ser
valentes”.
Como podemos notar, as palavras cabem bem ao velho e ganancioso
Peachum...
A tela volta a escurecer e quando a luz retorna
o ambiente que vemos é o da grande sala do Banco dirigido por Polly.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_22.html
Leia: “A
ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um
abraço,
Prof.Gilberto