Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/03/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma_21.html antes
de ler esta postagem:
Os
defensores dos direitos entendiam que os preconceitos não tinham origens na
razão... Entre eles, prevalecia a tese de que as restrições cultivadas por
grande parte da sociedade deviam-se a antigos e funestos costumes.
Nesse sentido, pode se dizer que os defensores da abolição dos escravos argumentavam
que, em vez de “inferioridade” dos negros, era a ganância dos proprietários e “cultivadores
brancos” que mantinha o modelo escravagista de produção.
Como sabemos, judeus e
negros continuaram a sofrer intolerâncias mesmo após a Revolução Francesa e as definições
de legislações... Os inimigos dos
direitos de judeus e de negros passaram a apoiar doutrinas que sustentavam suas
posições. E isso tanto mais se acentuou conforme as legislações avançaram.
Fizeram isso recorrendo a (pré)conceitos tidos como científicos.
O final do século XVIII, que foi marcado uma série de
conquistas de cidadania, assistiu também a um endosso à “ciência da raça” que
tinha como uma de suas prerrogativas a “classificação dos povos”.
(...)
Para os defensores dessa “ciência da raça” a história dos povos
demonstrava que a humanidade tende ao desenvolvimento civilizatório, todavia ressaltavam
que os brancos sempre ocuparam a dianteira da evolução... No correr do século
XIX, essa tese que havia sido herdada do XVIII, foi reforçada por outra que, a
partir das “características antropológicas permanentes”, classificava os
indivíduos em raças específicas.
A conjunção da ideia de que os brancos são “superiores”
aos demais com a da classificação de raças definiu o embasamento do racismo
sustentado em “conceitos biológicos”... O juízo de muitos pensadores do século
XVIII a respeito de uma “trajetória para a civilização” que todos os povos
realizam enquanto se desenvolvem, foi colocado em xeque pelos teóricos racistas
do XIX, que sustentaram que apenas algumas raças lograriam alcançar tal
progresso.
A partir do afirmado anteriormente, para os “teóricos raciais”, as
qualidades biológicas é que possibilitariam o avanço civilizatório. Por outro
lado,a falta delas manteriam o povo em condição de “atraso”.
O texto cita Georges Cuvier, naturalista francês que, em 1817, escreveu
que negros e mongóis não poderiam se desenvolver devido a “certas causas
intrínsecas”. Por volta da metade do século XIX tais ideias foram mais
sistematicamente articuladas e aparecem nos argumentos contidos em “Essai sur l’inégalité
des races humaines” (1853-55), do diplomata francês Arthur Gobineau...
(...)
O autor de “Essai sur l’inégalité
des races humaines” fez uso de “uma miscelânia de argumentos derivados da
arqueologia, da etnologia e da história” para sustentar que há uma escala
hierárquica das raças que tem fundamentos na Biologia e que essa “hierarquia
das raças” determina o desenvolvimento da história dos povos.
Para Gobineau, a parte mais
baixa da escala estaria ocupada pelos “de pele escura, animalistas,
inintelectuais e intensamente sensuais”; pouco mais acima viriam “os amarelos,
apáticos e medíocres, mas práticos”; na parte superior só poderiam estar “os
povos brancos, perseverantes, intelectualmente enérgicos e aventurosos”. A
respeito desses, o francês argumentava ainda “que (os brancos) equilibravam ‘um
extraordinário instinto para a ordem’” e que manifestavam “um pronunciado gosto
pela liberdade”.
Gobineau
defendeu que entre os povos brancos, a raça ariana era das mais adiantadas e
que ela pode ser entendida como responsável por “tudo o que é grande, nobre e
proveitoso nas obras do homem sobre esta terra, na ciência e na civilização”.
Ainda a respeito da raça ariana, o autor francês afiançava que, partindo
da Ásia Central, levaram sua estirpe a outras civilizações: “indiana, egípcia,
chinesa, romana, europeia e, graças à colonização, asteca e inca”.
Como salientado
anteriormente, para Gobineau, “a questão étnica domina todos os outros
problemas da história e detém a sua chave”... Então, para ele, era de se
lamentar que as miscigenações com diversos outros grupos étnicos fez com que os
arianos perdessem muito de sua força
original. O francês lamentava ainda que igualitarismo e democracia se tornariam
modelos entre as sociedades, e isso significaria “o fim da própria civilização”.
(...)
A respeito da ideia em torno da “decadência
ariana”, o livro destaca que muitos dos seguidores de Gobineau discordaram dele.
Mas, se na França poucos se empolgaram com suas “noções fantasiosas”, Guilherme
I da Alemanha (1861-1888) mostrou-se tão convencido por elas que concedeu-lhe “cidadania
honorária”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma_7.html
Leia: A
Invenção dos Direitos Humanos. Companhia das Letras.
Um
abraço,
Prof.Gilberto