quinta-feira, 1 de abril de 2021

“A Invenção dos Direitos Humanos – uma história”, de Lynn Hunt – inimigos dos direitos das minorias e fundamentações “científicas”; “ciência das raças” e ideia de que algumas são inferiores aos que “conduzem a história”; argumentos do naturalista Georges Cuvier a respeito de “causas intrínsecas” que impedem o desenvolvimento de algumas raças; Arthur de Gobineau e a miscelânia em “Essai sur l’inégalité des races humaines” para defender a preservação da “raça superior”; uma “classificação” das escalas raciais; enaltecendo dos arianos

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/03/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma_21.html antes de ler esta postagem:

Os defensores dos direitos entendiam que os preconceitos não tinham origens na razão... Entre eles, prevalecia a tese de que as restrições cultivadas por grande parte da sociedade deviam-se a antigos e funestos costumes.
Nesse sentido, pode se dizer que os defensores da abolição dos escravos argumentavam que, em vez de “inferioridade” dos negros, era a ganância dos proprietários e “cultivadores brancos” que mantinha o modelo escravagista de produção.
Como sabemos, judeus e negros continuaram a sofrer intolerâncias mesmo após a Revolução Francesa e as definições de legislações...  Os inimigos dos direitos de judeus e de negros passaram a apoiar doutrinas que sustentavam suas posições. E isso tanto mais se acentuou conforme as legislações avançaram. Fizeram isso recorrendo a (pré)conceitos tidos como científicos.
O final do século XVIII, que foi marcado uma série de conquistas de cidadania, assistiu também a um endosso à “ciência da raça” que tinha como uma de suas prerrogativas a “classificação dos povos”.
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Para os defensores dessa “ciência da raça” a história dos povos demonstrava que a humanidade tende ao desenvolvimento civilizatório, todavia ressaltavam que os brancos sempre ocuparam a dianteira da evolução... No correr do século XIX, essa tese que havia sido herdada do XVIII, foi reforçada por outra que, a partir das “características antropológicas permanentes”, classificava os indivíduos em raças específicas.
A conjunção da ideia de que os brancos são “superiores” aos demais com a da classificação de raças definiu o embasamento do racismo sustentado em “conceitos biológicos”... O juízo de muitos pensadores do século XVIII a respeito de uma “trajetória para a civilização” que todos os povos realizam enquanto se desenvolvem, foi colocado em xeque pelos teóricos racistas do XIX, que sustentaram que apenas algumas raças lograriam alcançar tal progresso.
A partir do afirmado anteriormente, para os “teóricos raciais”, as qualidades biológicas é que possibilitariam o avanço civilizatório. Por outro lado,a falta delas manteriam o povo em condição de “atraso”.
O texto cita Georges Cuvier, naturalista francês que, em 1817, escreveu que negros e mongóis não poderiam se desenvolver devido a “certas causas intrínsecas”. Por volta da metade do século XIX tais ideias foram mais sistematicamente articuladas e aparecem nos argumentos contidos em “Essai sur l’inégalité des races humaines” (1853-55), do diplomata francês Arthur Gobineau...
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O autor de “Essai sur l’inégalité des races humaines” fez uso de “uma miscelânia de argumentos derivados da arqueologia, da etnologia e da história” para sustentar que há uma escala hierárquica das raças que tem fundamentos na Biologia e que essa “hierarquia das raças” determina o desenvolvimento da história dos povos.
Para Gobineau, a parte mais baixa da escala estaria ocupada pelos “de pele escura, animalistas, inintelectuais e intensamente sensuais”; pouco mais acima viriam “os amarelos, apáticos e medíocres, mas práticos”; na parte superior só poderiam estar “os povos brancos, perseverantes, intelectualmente enérgicos e aventurosos”. A respeito desses, o francês argumentava ainda “que (os brancos) equilibravam ‘um extraordinário instinto para a ordem’” e que manifestavam “um pronunciado gosto pela liberdade”.
Gobineau defendeu que entre os povos brancos, a raça ariana era das mais adiantadas e que ela pode ser entendida como responsável por “tudo o que é grande, nobre e proveitoso nas obras do homem sobre esta terra, na ciência e na civilização”.
Ainda a respeito da raça ariana, o autor francês afiançava que, partindo da Ásia Central, levaram sua estirpe a outras civilizações: “indiana, egípcia, chinesa, romana, europeia e, graças à colonização, asteca e inca”.
Como salientado anteriormente, para Gobineau, “a questão étnica domina todos os outros problemas da história e detém a sua chave”... Então, para ele, era de se lamentar que as miscigenações com diversos outros grupos étnicos fez com que os arianos  perdessem muito de sua força original. O francês lamentava ainda que igualitarismo e democracia se tornariam modelos entre as sociedades, e isso significaria “o fim da própria civilização”.
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A respeito da ideia em torno da “decadência ariana”, o livro destaca que muitos dos seguidores de Gobineau discordaram dele. Mas, se na França poucos se empolgaram com suas “noções fantasiosas”, Guilherme I da Alemanha (1861-1888) mostrou-se tão convencido por elas que concedeu-lhe “cidadania honorária”.
Leia: A Invenção dos Direitos Humanos. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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