segunda-feira, 19 de abril de 2021

“A Ópera de Três Vinténs” – peça de Bertold Brecht musicada por Kurt Weill – ameaça velada na narrativa sobre a coroação da lendária Semíramis; o apavorado Brown convoca reunião extraordinária; anunciando a canção “Pois de que vive o Homem?” como abertura de um segundo final para a peça; retomando o filme e a organização dos mendigos de Peachum para a grande marcha; reconhecendo o perigo iminente ao amanhecer


Brown perdeu a tranquilidade ao ouvir as palavras ameaçadoras de Peachum... O que o velho pretendia dizer com “tirar da cabeça as coisas horríveis que virão”?
Peachum disse ainda que a reação do chefe de polícia estava perfeita e que em seu lugar iria tomar um chá, descansar numa boa cama e aceitaria de bom grado uma mão amiga para o amparo consolador.
Mas que culpa ele tinha? Brown vociferou que ele e a polícia não podiam fazer nada... O bandido simplesmente fugiu! Peachum acabara de ouvir um disparate... Como é que a polícia não podia fazer nada? O outro estava querendo dizer que Macheath não retornaria à prisão?
O chefe de polícia simplesmente deu de ombros... O pai de Polly o ameaçou dizendo que, já que o tira se esquivava da responsabilidade de recapturar o criminoso, seria “vítima de uma terrível injustiça”. Todos se revoltariam e protestariam com a polícia, que não devia deixar o bandido escapar... Ainda mais quando todos aguardavam o “brilhante cortejo da coroação”.
Essas últimas palavras fizeram Brown arregalar os olhos... E mais uma vez perguntou o que ele queria dizer.
(...)
Peachum fez uma narrativa lendária a respeito de uma “manifestação que ocorreu no antigo Egito”. De modo indireto o ameaçou e adiantou o que o outro devia esperar:

                   “Permita-me lembrar-lhe um incidente histórico que, embora na sua época, isto é, no ano 1400 antes de Cristo, tenha causado grande sensação, hoje em dia o grande público desconhece. Quando o faraó egípcio Ramsés II morreu, o chefe de polícia de Nínive, quer dizer, do Cairo, cometeu umas pequenas arbitrariedades contra as camadas mais baixas da população. Já naquela época, as consequências foram terríveis. De acordo com os manuais de história, o cortejo da coroação da sucessora do trono, Semíramis, acabou se transformando numa ‘sequência de catástrofes por causa da participação um tanto animada das camadas mais baixas da população’. Os historiadores falam com horror da maneira terrível como Semíramis tratou seu chefe de polícia. Eu não me lembro dos detalhes, mas mencionaram-se as cobras que ela o fez amamentar.”

(...)
É claro que o vacilante Brown só poderia ter ficado chocado com a história... Para mais assustá-lo, Peachum despediu-se com um “O Senhor esteja convosco”.
Ao ficar só, o chefe de polícia meditou a respeito de sua condição e concluiu que “apenas um golpe de força” poderia ajudá-lo a sair da delicada situação. Desesperado gritou pelos sargentos, convocando-os para uma reunião extraordinária... Alarme!
(...)
A cortina se fecha neste momento... À frente dela se posicionam o Mac Navalha e a Jenny-Espelunca para mais uma canção.
Vale destacar aqui que o diálogo entre Peachum e Brown e a narrativa sobre as manifestações por ocasião da coroação de Semíramis que foram destacados anteriormente não ocorrem no filme.
Podemos dizer também que essa última cena pode perfeitamente encerrar a “Ópera de Três Vinténs”, já que o texto da peça abre o “Segundo Final de Três Vinténs” exatamente com a canção “Pois de que vive o Homem?”, interpretada pelo Navalha e Jenny.
No momento interessa-nos voltar ao filme para verificarmos o desenrolar dos acontecimentos desde a organização dos mendigos de Peachum para as agitações da “grande marcha de maltrapilhos” durante as comemorações de coroação da rainha...
(...)
Vemos que a organização dos mendigos era impecável... Disciplinados, obedeciam a todas as orientações sem pestanejar. Filch era dos mais animados e cumpria com rigor suas funções. Peachum prosseguia orientando: “Os mais feios devem marchar do lado de fora!”... Assim seriam mais facilmente vistos pela população.
O objetivo era provocar grande indignação sobretudo aos mais ricos... Eventualmente podemos ler o enunciado de algumas faixas e cartazes... Um dos mendigos carrega um em que se lê “vítima do despotismo militar”.
Um dos homens aparece anunciando que, com o amanhecer, a guarda real iniciava a apresentação de armas. Peachum alertou que certamente a marcha dos mendigos seria atacada, e quis saber se eles carregavam estilingues... O tipo que acabara de chegar questionou sobre a possibilidade serem atacados por tiros da guarda, então o “rei dos mendigos” decidiu fazer um pronunciamento aos companheiros.
Leia: “A ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um abraço,
Prof.Gilberto

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