Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_7.html antes
de ler esta postagem:
“Rei
do Congo” destaca ainda três registros de estrangeiros que de algum modo se
admiraram com a presença de negros e suas atividades na Lisboa de fins do
século XVIII.
(...)
Duc du Châtelet (provavelmente um pseudônimo) chegou à cidade em 1777, à
véspera da coroação de D. Maria I... De acordo com seus relatos, os dias eram
festivos e o que mais chamava a atenção do estrangeiro eram as manifestações
populares.
Em suas anotações, o
francês cravou que “a cidade vivia uma agitação que nem consigo descrever”.
Certamente a “fofa”, uma dança popular da qual o contingente negro participava
calorosamente, despertou sua curiosidade.
A respeito da “fofa”, Tinhorão sugere, de sua autoria,
a leitura de “Os sons dos negros no Brasil – Cantos, danças, folguedos:
origens”, de 2012, e mais precisamente o capítulo intitulado “A razão das
umbigadas: o lundu, a fofa e o fado”.
Duc du Châtelet escreveu sobre o que via pelas ruas, notadamente grupos
de negros em animadas cantigas. Interessava-se sobretudo por achá-las “très
licencieuses” (livres de convenções) e, acompanhadas por violas, “sempre vivas
e alegres:
“Os
negros, que são numerosos em Portugal, carregam relíquias ou pequenas imagens
do Menino Jesus” (...)
“fazem-se
acompanhar normalmente de tambores, violas e cornetas” (...)
“às
vezes, voltando para casa pela meia-noite, encontrava grupos de homens e
mulheres passando a noite nessa dança (a “fofa”).
(...)
Já a respeito do aristocrata inglês, William Beckford, o livro destaca
sua experiência como aluno de Mozart e seu gosto pela produção literária, dado
que chegou a adquirir na Suíça a biblioteca do também britânico, historiador,
Edward Gibbon.
Os registros de Beckford datam de 1787... Por tratar-se de um
milionário, os ambientes por ele descritos destoam dos destacados por Duc du
Châtelet... Enquanto o francês focalizava os eventos das ruas da capital de
Portugal, o inglês frequentava locais refinados, como ricos salões de nobres
aburguesados e teatros...
Aliás, foi nos camarotes do
“teatro popularesco do Salitre” que Beckford presenciou situações que julgou
surpreendentes. Uma delas foi a presença “de uma negra protegida da rainha” e
de algumas crianças negras irrequietas que faziam roda à “imponente senhora de
Pombeiro, dama de honor de D. Maria I:
“No camarote do proscênio vi a afetada condessa de
Pombeiro, que com os seus cheios louros e a alvura da sua cútis fazia um
primoroso contraste com a cor de ébano de suas criadinhas pretas, que a
ladeavam. O grande tom agora na corte, é andar rodeado de favoritos africanos,
tanto mais estimados quanto mais feios, e enfeitá-los o mais ricamente
possível” (...)
“Foi a rainha que deu o exemplo, e na Família Real
andam à competência em presentear e festejar D. Rosa, a negra beiçuda e de
nariz achatado válida de Sua Majestade”. (...)
“(...) aqueles alegres e fuscos inocentes
estiveram sempre a falar na sua algaravia, apontando para o homem do compasso
preto com um modo tão completamente africano, que para mim as suas contorções
foram a melhor parte do divertimento”.
Conforme
nota que consta em “Rei do Congo”:
* Os dois primeiros fragmentos são da “Carta XXVI” (3 de novembro de
1787) que consta em “A corte da rainha D. Maria I: correspondência de W.
Beckford”, Ed. Tavares Cardoso & Irmãos, 1901. Nota do livro esclarece que “A
negra Rosa, preferida da rainha de Portugal, seria citada ainda três anos
depois em Sintra, em 1790, pelo arquiteto inglês James Murphy, sentada ao lado
da rainha, com que por vezes fala e pousa a mão sobre o seu colo”;
* O terceiro fragmento é da
“Carta XXV” (9 de novembro de 1787).
Em https://archive.org/details/crtedarainhadmar00beck/page/n3/mode/2up
temos acesso ao arquivo citado. Disponível para a leitura, permite conferir as informações e eventuais
equívocos citados no livro.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_17.html
Leia: Rei
do Congo. Editora 34.
Um
abraço,
Prof.Gilberto