Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold.html antes
de ler esta postagem:
O
velho quis mostrar que as pessoas correm atrás de “soluções fáceis” e de
lideranças que garantem manter contato direto com o Ser Supremo... Falou de
Maomé garantindo que ele havia sido analfabeto e que ainda assim “embrulhou os
mais letrados de seu tempo”. Disse que no tempo presente também podem ser
notadas excentricidades parecidas, e falou de “pretos velhos, ignorantes” que
ganharam fama como macumbeiros e exercem influência sobre a “vida dos homens
mais ilustres”. Luxuosos automóveis podem ser vistos à porta de broncas
cartomantes!
Por que essas coisas acontecem? Sua resposta foi direta: “a infelicidade
anula tudo”... Os infelizes recorrem muitas vezes à superstição... O
supersticioso até poderia ser um sábio, mas a prática faz dele um dos maiores
ignorantes. Assim, temos uma realidade das mais incoerentes vivenciadas pelos
infelizes: esses “não creem em nada do que já sabem, para crer em tudo o que os
outros dizem saber”.
(...)
Barato ouviu as palavras do
companheiro a respeito da infelicidade alheia e observou que ele também era um “grande
infeliz”, já que vivia com uma mulher que manifestava insatisfações apesar de
ter tudo o que uma vida abastada pode oferecer. O velho disse que o amigo
estava enganado já que, para ele, naquela história, sua mulher era a infeliz.
Mas então ela não havia encontrado a felicidade na
companhia do rapaz? Barata estava mesmo curioso e queria logo conhecer o
desfecho da narrativa anterior... O velho respondeu que a mulher só podia
encontrar a felicidade com ele mesmo... Vivendo com ele, ela se convencia de
que só o dinheiro podia proporcionar-lhe felicidade. Emendou que tudo o que
Nancy desejava, ele concretizava, pois era um tipo endinheirado... Disse isso e
quis mostrar que a máxima valia para outros homens em condições opostas à dele.
Exemplificou com o caso do “poeta miserável e faminto” que experimenta uma vida
feliz com sua esposa convencida por ele de que “a suprema felicidade está na
miséria”.
Enfim, tudo o que a mulher deseja é o que o seu companheiro lhe sugere...
Para Barata importava saber se o colega havia chegado a bons resultados com
aquele princípio... O velho entendeu que o amigo esperava que ele voltasse a
falar da história do jovem Péricles em sua trama para fugir com Nancy.
(...)
Neste ponto, o texto da peça esclarece que novamente o
cenário da igreja deve se escurecer ao mesmo tempo que o cenário da sala da
mansão volta a se iluminar...
Ali, Péricles entra empolgado e começa a chamar Nancy.
(...)
Ela veio ao seu encontro querendo saber das horas... Sete e meia da
noite. Muito cedo... Sendo assim, o velho ainda não tinha retornado à casa. Péricles
mostrou-se satisfeito e disse que era momento propício para fugirem.
Nancy não concordou, pois
não queria fugir sem se despedir. O rapaz observou que “quem foge não se
despede”. Ela garantiu que precisava ouvi-lo uma vez mais, assim levaria
consigo “mais alguns ensinamentos”.
Péricles mostrou-se
ansioso... Será que ela não percebia que o velho era perigoso? Ele podia sugestioná-la!
Nancy respondeu que podia ficar tranquilo, pois a mocidade é bem mais “sugestionadora”.
No momento importava saber se ele trouxera o dinheiro.
Sim!
O dinheiro estava com ele. “Cem contos para comprar a felicidade do mundo!” Nancy
se alegrou e o abraçou... Poderiam viajar, conhecer novos lugares, novas
vidas... Que vontade tremenda de experimentar uma nova vida! Onde está o
dinheiro?
O rapaz retirou os pacotes dos bolsos do sobretudo e pediu-lhe que
guardasse consigo. Ela pegou o dinheiro e, exultante, exclamou que se tratava
de verdadeira fortuna; “cem contos, amor e mocidade”. Tudo dela! Faltava apenas
fugir na companhia de quem a faria remoçar.
Novamente Péricles insistiu
que deviam partir imediatamente... Novamente ela discordou e explicou que
precisava mostrar-se independente ao velho. Queria dizer-lhe umas frases cheias
de sentido assim como aquelas que ele vivia a pronunciar. Era muito bom o
sentimento de posse (de dinheiro) e de autonomia.
O moço impacientou-se e implorou para partirem o quanto antes. Nancy
negou mais uma vez e sugeriu que ele retornasse mais tarde, quando a
encontraria pronta para partir rumo à felicidade. Enfim ele aceitou e garantiu
que logo estaria de volta...
Assim que Péricles saiu, Nancy colocou os volumosos
pacotes de dinheiro num grande jarro. Ela estava definitivamente satisfeita.
(...)
No momento em que se encaminhava para o quarto,
o velho chegou.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/deus-lhe-pague-peca-de-joracy-camargo-o.html
Leia: “Deus
lhe pague”. Ediouro.
Um
abraço,
Prof.Gilberto