Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/deus-lhe-pague-peca-de-joracy-camargo_8.html antes
de ler esta postagem:
A
sós com Péricles, Nancy demorou um pouco a dar-lhe atenção porque não conseguia
parar de pensar na revelação sobre a “outra existência” do marido... “Mendigo!
Falso mendigo!”
O rapaz perguntou-lhe se deviam aceitar a esmola... Ela respondeu que
não seria demais, já que vinha vivendo exatamente às custas da esmola do velho.
Péricles achou que estava em condições de “virar o jogo” a seu favor, então,
chamando-lhe a atenção, disse que “todo dinheiro é vil”. Observou que o
dinheiro dos dois pacotes que ousou surrupiar “foi roubado aos pouquinhos” pelo
outro. Emendou que ela não devia “continuar procurando a felicidade no
dinheiro”. “Se não é roubado é ganho. E quando é ganho, nem sempre poderá
dizer-se que não é roubado”.
O jovem pretendente
empolgou-se ao sentenciar que “o dinheiro honesto não vai além do estritamente
necessário para viver. O juro, o ágio, a percentagem, todo dinheiro ganho com
dinheiro, é vil. A felicidade está no amor, que é o que mais tenho para te
dar”.
A essa altura, Nancy o ouvia atentamente... Enquanto
refletia, deixou escapar a palavra “amor”, que era o que o rapaz queria dar a
entender que devotava a ela. Então Péricles observou que podia proporcionar-lhe
muito mais. Disse que, ao seu lado, ela alcançaria prestígio social e o “brilho
dos salões”... As pessoas mais finas a notariam. Sim. Afinal, “de que serve a
beleza longe do convívio social”? E aquele conforto da mansão do velho?
Distante de tudo!
O rapaz insistiu que havia muito mais que ela não vinha
experimentando... Disse que sua vaidade estava sendo sufocada pelo convívio com
o velho. Isso tinha de ser corrigido!
(...)
A mulher não suportou o falatório e protestou gritando
“chega!” Reclamou que estava com a cabeça “girando e girando”. Reclamou que no
momento era levada a entender que a mentalidade do velho lhe fora definitivamente
imposta...
Péricles não perdeu a oportunidade para reforçar que ela havia sido
sugestionada. Era só uma questão de pensar um pouco mais!
Visivelmente desorientada, Nancy reclamou que só conseguia refletir a
partir das orientações do velho. Por isso exclamou que precisava esquecê-lo... Mais
uma vez o moço sentiu-se em vantagem e sugeriu que poderiam viajar...
A sugestão para a “grande
guinada na vida” ainda mais a atormentou. Imediatamente, negou que viagens
pudessem resolver o seu caso... Lembrou que “há mendigos por toda parte”...
Eles sempre podem ser vistos em cada degrau das escadarias! Confessou que
estava pensando que nunca mais o esqueceria. Pelo visto, seria preferível
morrer. Concluiu que abominava a velhice, o dinheiro e a esmola. Mas
problematizou que se sentia terrivelmente atraída pela vida misteriosa do
velho.
(...)
Péricles aproximou-se
dela... Disse-lhe que estava nervosa e que precisava dedicar-se ao amor que ele
lhe oferecia. Só assim esqueceria tudo o que lhe fazia mal.
Em
resposta, ela deu de ombros e disse que o amor, prestígio e tudo o mais que o
rapaz lhe oferecia era efêmero. Cravou que apenas a inteligência é eterna:
“Amor, beleza, fortuna, nada resiste à força da inteligência”!
Essas últimas palavras pareceram demais para o rapaz... Sem esconder sua
indignação, perguntou se ela, “fascinada pela inteligência deste velho”,
preferia continuar vivendo “na companhia de um miserável mistificador, um
pedinte desprezível”, que alimentava sua vaidade e conforto “com os restos que
a humanidade despreza no seu chapéu”.
Nancy respondeu admitindo
aceitar a “condição paralela” do velho milionário. “um mendigo”; um homem
diferente de todos os que procuram ser iguais aos seus semelhantes”. Admitiu
que, de fato, tudo aquilo era bem novo em sua vida.
(...)
Péricles considerou que as palavras de Nancy sacramentavam
sua decisão. Então manifestou que tudo o que ouvira era extremamente
asqueroso...
Nancy parecia estar em outra sintonia e num suspiro deixou escapar um
“meu pobre velho!”... Depois, voltando-se para o rapaz, disse-lhe que se fosse,
e que levasse consigo “os últimos pedaços de ilusão” que sua mocidade viera lhe
trazer.
Apesar de decepcionado, Péricles alimentava um
fio de esperança e chamou-lhe pelo nome, todavia ela pediu para que se fosse...
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/deus-lhe-pague-peca-de-joracy-camargo_5.html
Leia: “Deus
lhe pague”. Ediouro.
Um
abraço,
Prof.Gilberto