Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_75.html antes
de ler esta postagem:
O
chefe de polícia havia entendido a ameaça de Peachum de promover confusões durante
as festas de coroação da rainha com o “desfile de mendigos”. Por isso reuniu os
tiras para prendê-lo imediatamente. Ele não desconfiava, mas sabemos que os
maltrapilhos já estivam bem adiantados em seus preparativos.
Como vimos, depois de esconder o seu pessoal, o “rei dos mendigos” o
colocou numa situação delicada ao manifestar-se com intimidade à autoridade.
Fazendo-se de desentendido, Brown vociferou contra a petulância do velho,
ordenou que lhe tirassem o chapéu e gritou que não podia ser que o bandido
(referia-se ao próprio Peachum) estivesse ainda solto... Por sua vez, Peachum devolveu
os ataques que lhe eram dirigidos salientando que o pior dos bandidos de
Londres era seu amigo e estava à solta.
Numa tentativa de mostrar
aos seus homens que nada tinha a ver com aquela ofensa, o policial quis saber
quem era o tal pior bandido seu “amigo” a que o outro aludia. Peachum não
pestanejou e respondeu que era o Mac Navalha.
(...)
O “rei dos mendigos” falou de modo que todos os
policiais escutassem que Mac Navalha era o criminoso perigoso que contava com a
amizade de seu chefe... Sobre si mesmo, Peachum garantiu que se tratava de “um
homem pobre”, que não podia ser destratado por Brown, e falando diretamente a
ele cravou que o via “a um passo da pior hora de sua vida”. Então perguntou-lhe
se gostaria de um café...
O velho pediu às amigas de Jenny que oferecessem café ao chefe de
polícia... Ensinou que deviam ser educadas. Depois perguntou por que não podiam
todos viver em harmonia. Salientou que todos obedecem a lei e que ela é “feita
única e exclusivamente para explorar aqueles que não a entendem ou que, por
pura necessidade, não podem cumpri-la”.
Peachum disse ainda que, para receber a parte que cabe
a cada um na exploração, a pessoa tem de “agir rigorosamente dentro da lei”... Brown
entendeu que o outro estava querendo dizer que os (nossos) “juízes são
corruptos” e chamou-lhe a atenção. O velho o corrigiu e garantiu que de modo
algum pensava daquele modo. Disse que “nossos juízes são absolutamente
incorruptíveis” e que nenhum dinheiro do mundo pode corrompê-los “a ponto de
fazerem valer a justiça”.
(...)
Como se pode notar, Peachum usou de muita ironia em seus trocadilhos
propositais na resposta ao chefe de polícia.
Neste ponto todos ouviram o rufar de tambores desde as ruas... E essa foi
a segunda vez. Quando ocorreu a primeira, os mendigos dedicavam-se à produção
dos cartazes e um deles anunciou que a guarda da rainha se colocava em
formação...
Sobre o segundo rufar de
tambores, Peachum afirmou que era o anúncio de que a guarda saía para formar
alas. Acrescentou que “os mais pobres entre os pobres” siariam “meia hora
depois”.
Brown confirmou e ressaltou
que os mais pobres sairiam “meia hora depois diretamente para a prisão de Old
Bailey, onde permaneceriam durante todo o inverno”. Dirigindo-se aos policiais,
ordenou que começassem a “catar” o que encontrassem pela frente... Voltando-se
aos mendigos, perguntou-lhes se alguma vez já teriam ouvido falar de
Brown-o-tigre. E particularmente a Peachum, disse que havia encontrado “a
solução” e podia afirmar que salvara “um amigo da morte certa”.
(...)
Brown
estava convencido de que, enfim, “dava as cartas” e por isso disse que ia “dar
uma geral” no covil do mendigo... Prenderia todos... Mas nem sabia dizer por
qual motivo os tipos seriam presos, então improvisou que os prenderia “por
mendicância”, já que Peachum havia insinuado que aproveitaria a ocasião
especial daquele dia “para jogar os mendigos” contra ele, chefe de polícia, e
contra a rainha. Por isso os mendigos teriam de ir para a cadeia.
Peachum ouviu as frases arrogantes de Brown. Disse que “tudo bem”, mas
queria saber sobre a quais mendigos ele estava se referindo... O policial
respondeu que eram os estropiados que encontrasse na verificação que fariam.
Voltou-se ao Smith e gritou que “os senhores patriotas” (referindo-se aos
estropiados mendigos) deviam acompanhá-los.
Neste momento, Peachum
advertiu o chefe Brown dizendo que estava ali para impedi-lo de agir com
precipitação. E pelo visto era graças ao bom Deus que havia resolvido primeiro
falar-lhe diretamente... Está certo que podia prender aquela “meia dúzia de
coitados que estava vendo”... Mas ali todos eram inofensivos.
Como sabemos, essa era a senha para que a
Senhora Peachum liberasse a banda dos mendigos para iniciar “uma música
qualquer”. Por isso o velho repetiu a palavra separando bem as sílabas, “i-no-fen-si-vo”!
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_29.html
Leia: “A
ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um
abraço,
Prof.Gilberto