Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_20.html antes
de ler esta postagem:
De
início, os africanos capturados e levados para Portugal eram imediatamente
colocados nos serviços mais pesados e degradantes de cidades como Lisboa... Era
dessa forma, e chamando a atenção por sua cor de pele, que eram “incorporados
ao meio social”.
Quando praticantes do Islamismo, logo eram considerados “infiéis pelos
cristãos... Assim, “não tinham como se integrar espiritual e culturalmente à
vida comum”. Ocorria ainda de serem associados ao paganismo por trazerem da
África suas crenças tribais.
O anteriormente exposto fez
com que por mais de meio século a gente transferida compulsoriamente da África
vivesse “numa espécie de limbo social-religioso”, pois além de serem impedidos
de praticar os rituais de “suas crenças originais”, sofriam a rejeição dos
meios religiosos cristãos.
(...)
Uma vez que os cativos africanos eram introduzidos “no
mercado de trabalho urbano” para prestar árduos serviços sem qualquer garantia
de sua integridade, não sentiam qualquer motivação para se aproximarem da
Igreja.
Como se viam impedidos de realizar seus rituais religiosos originais “preferiam
entregar-se a todas as oportunidades de gozo da vida comum oferecida a seu
limitado alcance”.
Amargurados, os negros superavam essa e outras
frustrações em bebedeiras e delinquências diversas. O livro esclarece que na
metade do século XV a Câmara de Vereação de Lisboa aprovou leis para regular a “boa
ordem e bons costumes”... A legislação pode ser entendida como uma reação às
reclamações dos “procuradores dos mésteres” a respeito de:
“muitos furtos que
fazem os negros da qual coisa (causa) a principal é beberem tanto vinho pelas
tavernas que é ocasião de furtarem seus senhores do que ganham como de outras
quaisquer coisas que podem haver”.
Em nota, o livro esclarece que o fragmento acima, “Postura pela qual se
proíbe a venda de vinhos a negros e servos brancos” (que data de 27 de novembro
de 1469), aparece como “documento nº 215 no índice de documentos do ‘Livro das
posturas antigas’, Lisboa, Câmara Municipal, 1974”.
Como se vê, muitos negros
acabavam se afastando dos princípios que manteriam se se continuassem
praticantes da fé religiosa que traziam da África. Para conter a degeneração
cada vez mais intensa, os mesteirais procuraram pressionar os que faturavam com
o fornecimento da bebida alcoólica aos que acabavam praticando delitos e
arruaças. A mesma “Postura de 27/11/1469” determinava que:
“Daqui em diante não seja pessoa alguma tão ousada de
qualquer condição que seja que venda nem vinho a negro ou negra nem a branco ou
branca que sejam servos”.
(...)
A
medida legislativa não surtiu o efeito desejado, já que vários comerciantes
portugueses se mantiveram firmes no propósito da “liberdade comercial” e não
deixaram de vender as bebidas proibidas aos negros... Além disso, os “dependentes
químicos” citados na “Postura” continuaram a se apropriar “de tudo o que lhes
caísse nas mãos para comprar aos brancos o vinho com que se regalar”.
Também do citado “Livro das posturas antigas” há o fragmento do “Acordo
da Relação sobre os furtos que os escravos fazem” que destaca:
“É Acordo da Relação por que foi geralmente defeso
(proibido) que nenhuma pessoa não compre coisa alguma a escravo sob pena de
pagar quarenta coroas pelos muitos furtos que continuadamente eles fazem (...).
Mandam (os do ‘desembargo del-rei’) que qualquer que algumas coisas comprar de
escravos, se for pessoa de tal condição que possa e deva ser presa que o seja.
E da cadeia pague em tresdobro o valor da coisa que assim comprou”.
(...)
Como se vê, os africanos e seus descendentes
sofreram muitas dificuldades em Portugal também em relação ao entrave
social-religioso. Todavia esse quadro começou a mudar a partir do início do
século XVI.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_24.html
Leia: Rei
do Congo. Editora 34.
Um
abraço,
Prof.Gilberto