Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_11.html antes
de ler esta postagem:
Preso,
o Navalha pôde constatar que o camarada Brown não o protegeu como de outras
vezes e não teve coragem de encará-lo quando foi encaminhado para a cela...
Conhecendo o ambiente corrupto, e sabendo das vacilações do chefe de polícia, o
bandido tratou de obter algumas vantagens com o policial Smith.
Mas ele sabia que sua situação era das mais delicadas. E a tendência era
piorar, pois estava percebendo que o seu envolvimento com Lucy, filha de Brown,
viria à tona... Como veremos, a garota o visitará em Old Bailey para desmascará-lo.
Com tantos revezes, talvez devesse concluir que seu “tempo de fartura” havia
passado e que o momento só lhe reservava a execução, cada vez mais próxima.
O policial Smith, que mais
se comportava como serviçal do Navalha, sentenciou que “quem faz sua cama, nela
se deita”... O capitão estava colhendo o que havia semeado com tantos delitos,
mesmo assim ele continuava convencido de que “só na fartura é que se vive bem”
e que muito perde aquele que busca o despojamento.
(...)
Ele introduziu a próxima balada...
O texto da peça esclarece que essa composição e outras “contém algumas
linhas de François Villon” (poeta francês do período medieval; influenciador
dos “poetas malditos”) e sugere que o intérprete do Mac Navalha consulte
tradução de K.L. Ammer para conhecer a diferença entre a “balada para ser
cantada” e a que deve ser declamada.
(...)
Balada da Boa Vida
“Louvam a vida de uns ilustres seres,
Cuja barriga sempre está vazia,
Que moram em choupana pobre e fria.
Poupem-me, por favor, destes prazeres!
A vida assim, deixo pra quem quiser.
Eu não comungo desta fantasia:
Nenhuma ave disso viveria
Um dia só, vocês me podem crer!
E a liberdade – servirá a quem?
Só na fartura é que se vivem bem.
Aventureiros de arrojado
porte,
Conscientes da centelha
que os invade,
Ansiosos, correm a dizer
verdade
Pra que os burgueses leiam
algo forte.
No inverno, batem dentes
com a esposa,
Deitados numa cama fria e
dura,
Prevendo na evolução
futura,
O ano 5000 em nada rosa.
Eu me pergunto: isto é bom
pra quem?
Só na fartura é que se
vive bem.
Seja nobre minha
existência,
Se eu tivesse tais
conceitos antes;
Olhei de perto seres
semelhantes
E vi: não são da minha
preferência.
Pobreza é sábia, mas também
ingrata,
Coragem, fama – valem uma
figa!
É insensato quem para elas
liga.
Melhor é ter o sangue de
barata.
Felicidade é para quem tem,
Só na fartura é que se vive
bem!
(...)
De fato, Lucy compareceu à
cela do Navalha...
A
moça chegou chamando-o de “patife ordinário”. Vociferou que não entendia como
ele tinha coragem de olhar para ela depois de tudo o que lhe aprontara. O
bandido perguntou se ela não tinha coração... Onde já se viu, chegar
agressivamente e sem qualquer consideração pelo “seu homem” em situação tão dramática?
Lucy o chamou de monstro. Parecia que queria esganá-lo enquanto garantia
que sabia de seu caso com a senhorita Peachum... Ele procurou acalmá-la e
chamou-a de insensata por externar ciúme de Polly.
Sem conter a ira, a filha de Brown quis saber,
então, se ele não estava mesmo casado com a outra. Como veremos, ele negou peremptoriamente.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_13.html
Leia: “A
ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um
abraço,
Prof.Gilberto