segunda-feira, 12 de abril de 2021

“A Ópera de Três Vinténs” – peça de Bertold Brecht musicada por Kurt Weill – retomando o texto da peça – breve síntese desde a chegada do Navalha a Old Bayle; uma nota sobre “linhas de François Villon” e sugestão aos intérpretes de Mac Navalha; a “Balada da Boa Vida”; Lucy visita o Navalha e o ataca verbalmente


Preso, o Navalha pôde constatar que o camarada Brown não o protegeu como de outras vezes e não teve coragem de encará-lo quando foi encaminhado para a cela... Conhecendo o ambiente corrupto, e sabendo das vacilações do chefe de polícia, o bandido tratou de obter algumas vantagens com o policial Smith.
Mas ele sabia que sua situação era das mais delicadas. E a tendência era piorar, pois estava percebendo que o seu envolvimento com Lucy, filha de Brown, viria à tona... Como veremos, a garota o visitará em Old Bailey para desmascará-lo. Com tantos revezes, talvez devesse concluir que seu “tempo de fartura” havia passado e que o momento só lhe reservava a execução, cada vez mais próxima.
O policial Smith, que mais se comportava como serviçal do Navalha, sentenciou que “quem faz sua cama, nela se deita”... O capitão estava colhendo o que havia semeado com tantos delitos, mesmo assim ele continuava convencido de que “só na fartura é que se vive bem” e que muito perde aquele que busca o despojamento.
(...)
Ele introduziu a próxima balada...
O texto da peça esclarece que essa composição e outras “contém algumas linhas de François Villon” (poeta francês do período medieval; influenciador dos “poetas malditos”) e sugere que o intérprete do Mac Navalha consulte tradução de K.L. Ammer para conhecer a diferença entre a “balada para ser cantada” e a que deve ser declamada.
(...)

Balada da Boa Vida

“Louvam a vida de uns ilustres seres,
Cuja barriga sempre está vazia,
Que moram em choupana pobre e fria.
Poupem-me, por favor, destes prazeres!
A vida assim, deixo pra quem quiser.
Eu não comungo desta fantasia:
Nenhuma ave disso viveria
Um dia só, vocês me podem crer!
E a liberdade – servirá a quem?
Só na fartura é que se vivem bem.
         Aventureiros de arrojado porte,
         Conscientes da centelha que os invade,
         Ansiosos, correm a dizer verdade
         Pra que os burgueses leiam algo forte.
         No inverno, batem dentes com a esposa,
         Deitados numa cama fria e dura,
         Prevendo na evolução futura,
         O ano 5000 em nada rosa.
         Eu me pergunto: isto é bom pra quem?
         Só na fartura é que se vive bem.
Seja nobre minha existência,
Se eu tivesse tais conceitos antes;
Olhei de perto seres semelhantes
E vi: não são da minha preferência.
Pobreza é sábia, mas também ingrata,
Coragem, fama – valem uma figa!
É insensato quem para elas liga.
Melhor é ter o sangue de barata.
Felicidade é para quem tem,
Só na fartura é que se vive bem!

(...)
De fato, Lucy compareceu à cela do Navalha...
A moça chegou chamando-o de “patife ordinário”. Vociferou que não entendia como ele tinha coragem de olhar para ela depois de tudo o que lhe aprontara. O bandido perguntou se ela não tinha coração... Onde já se viu, chegar agressivamente e sem qualquer consideração pelo “seu homem” em situação tão dramática?
Lucy o chamou de monstro. Parecia que queria esganá-lo enquanto garantia que sabia de seu caso com a senhorita Peachum... Ele procurou acalmá-la e chamou-a de insensata por externar ciúme de Polly.
Sem conter a ira, a filha de Brown quis saber, então, se ele não estava mesmo casado com a outra. Como veremos, ele negou peremptoriamente.
Leia: “A ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas