quarta-feira, 7 de abril de 2021

“A Invenção dos Direitos Humanos – uma história”, de Lynn Hunt – ideias de Gobineau aprovadas por alemães como Richard Wagner e germanófilos como Houston Stewart Chamberlain; ciência racial enquanto matéria de interesse dos racistas e segregacionistas; engajamentos de Robert Knox e John Campbell contra a ideia de “igualdade das raças”; defensores da supremacia de alguns observaram com atenção a universalização do sufrágio masculino, a abolição do escravismo e as imigrações em massa, vistas como motivos para recrudescimento de suas ideias; sobre o imperialismo das potências europeias com a partilha da África e Ásia; uma sugestão de leitura

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma.html antes de ler esta postagem:

Como salientamos ao final da última postagem, as ideias e “noções fantasiosas” de Gobineau não empolgaram os pensadores franceses... Todavia, na Alemanha, as teses do francês em torno da preeminência da raça ariana e dos prejuízos causados pela miscigenação encontraram tantos entusiastas que Guilherme I concedeu-lhe “cidadania honorária”.
Dois exemplos de alemães adeptos das ideias racistas de Gobineau foram o compositor Richard Wagner e seu genro inglês, o escritor Houston Stewart Chamberlain, que era germanófilo dos mais radicais. Aliás, a produção textual de Chamberlain também serviu de base para a composição ideológica de Hitler.
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O livro destaca que Gobineau sistematizou ideias que já vinham sendo discutidas e difundidas no Ocidente. Sua “contribuição” foi no sentido de torná-las elementos próprios do estágio pelo qual a humanidade passava durante o século XIX, com tudo o que se refere às conquistas científicas, tecnológicas e as relacionadas ao Neocolonialismo.
A título de exemplo, temos a citação de Robert Knox, anatomista escocês que, em 1850, publicou “The races of men”, em cujas páginas cravou que “a raça, ou a descendência hereditária, é tudo: ela carimba o homem”... Um ano depois foi a vez de John Campbell, dirigente “do sindicato dos compositores tipográficos da Filadélfia”, tornar público seu livro “Negro-mania: Being as Examination of the Falsely Assumed Equality os the Various Races of Men”, no qual, como podemos depreender, argumentava contra a ideia de “igualdade entre as raças”.
Campbell inspirou-se nos textos de Cuvier, um naturalista francês considerado o “pai da Paleontologia”, e de Robert Knox... E foi assim que buscou convencer seus leitores a respeito da “selvageria e barbárie” dos negros. Dessa forma pretendia anular qualquer tentativa de “igualar brancos e negros”.
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Uma curiosidade em relação à divulgação dos textos de Gobineau nos Estados Unidos, em 1856, é que os tradutores eliminaram trechos em que o francês criticava o tratamento dispensado pelos americanos aos seus escravos. De outro modo não conseguiriam atrair o público sulista adepto à manutenção do escravismo.
Como podemos notar, as discussões em torno da possibilidade da abolição da escravidão tornaram a “ciência racial” matéria de interesse dos escravagistas e segregacionistas.
Os títulos dos livros de Gobineau e de John Campbell permitem afirmar que a crítica à “igualdade entre as raças” era um dos principais motes dos intelectuais racistas... Lynn Hunt destaca que o pensador francês chegou a confessar a Tocqueville “o asco que lhe provocavam ‘os macacões sujos (operários)’” que haviam atuado durante a revolução de 1848 na França. Já Campbell não escondia sua aversão “a partilhar uma plataforma política com homens de cor”.
A respeito dessas manifestações preconceituosas, notamos escancarada “rejeição racial” que contribuiu para o combate às ideias de “eliminação de diferença de classe” defendida por agentes políticos que atuaram no meio das massas durante a segunda metade do século XIX... Há que se destacar ainda que cada vez mais buscou-se reforçar, além das noções de diferenças entre as “raças”, aquelas que dizem respeito ao “sexo”.
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Segundo a autora, o “estabelecimento do sufrágio universal masculino”, a defesa da abolição dos escravos e a “imigração em massa” tornaram a questão da igualdade mais concreta e uma ameaça aos que reivindicavam a supremacia de uma parcela bem específica da sociedade.
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Como já salientado no começo da postagem, o período coincide com o do Neocolonialismo marcado pelo imperialismo das potências europeias que estabeleceram domínios na África e na Ásia... O livro destaca a conquista da Argélia pelos franceses em 1830... O vasto território do norte africano foi incorporado à França. Os ingleses já haviam conquistado Cingapura em 1819, mais tarde (1840) anexaram a Nova Zelândia ao seu controle e reforçaram a submissão da Índia.
A respeito da “partilha da África”, pode se dizer que praticamente não restou território autônomo, já que o imenso continente foi dividido entre França, Inglaterra, Alemanha, Itália, Bélgica, Espanha e Portugal. Sabe-se que em diversos casos, as potências estrangeiras levaram “mais atraso” aos africanos, já que destruíram “as indústrias locais em favor das importações do centro imperial”.
Em “A Invenção dos Direitos Humanos” lemos que os europeus acabaram tirando como lição de todas essas conquistas a de que “tinham o direito – e o dever – de ‘civilizar’ os lugares bárbaros e mais atrasados que governavam”.
Para problematizar a afirmação contida no parágrafo anterior, sugerimos a leitura de https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2012/02/consideracoes-sobre-o-neocolonialismo.html.
Leia: A Invenção dos Direitos Humanos. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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