Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma.html antes
de ler esta postagem:
Como
salientamos ao final da última postagem, as ideias e “noções fantasiosas” de
Gobineau não empolgaram os pensadores franceses... Todavia, na Alemanha, as
teses do francês em torno da preeminência da raça ariana e dos prejuízos
causados pela miscigenação encontraram tantos entusiastas que Guilherme I
concedeu-lhe “cidadania honorária”.
Dois exemplos de alemães adeptos das ideias racistas de Gobineau foram o
compositor Richard Wagner e seu genro inglês, o escritor Houston Stewart
Chamberlain, que era germanófilo dos mais radicais. Aliás, a produção textual
de Chamberlain também serviu de base para a composição ideológica de Hitler.
(...)
O livro destaca que
Gobineau sistematizou ideias que já vinham sendo discutidas e difundidas no
Ocidente. Sua “contribuição” foi no sentido de torná-las elementos próprios do
estágio pelo qual a humanidade passava durante o século XIX, com tudo o que se
refere às conquistas científicas, tecnológicas e as relacionadas ao
Neocolonialismo.
A título de exemplo, temos a citação de Robert Knox,
anatomista escocês que, em 1850, publicou “The races of men”, em cujas páginas
cravou que “a raça, ou a descendência hereditária, é tudo: ela carimba o
homem”... Um ano depois foi a vez de John Campbell, dirigente “do sindicato dos
compositores tipográficos da Filadélfia”, tornar público seu livro
“Negro-mania: Being as Examination of the Falsely Assumed Equality os the
Various Races of Men”, no qual, como podemos depreender, argumentava contra a
ideia de “igualdade entre as raças”.
Campbell inspirou-se nos textos de Cuvier, um naturalista francês
considerado o “pai da Paleontologia”, e de Robert Knox... E foi assim que
buscou convencer seus leitores a respeito da “selvageria e barbárie” dos
negros. Dessa forma pretendia anular qualquer tentativa de “igualar brancos e
negros”.
(...)
Uma curiosidade em relação à divulgação dos textos de
Gobineau nos Estados Unidos, em 1856, é que os tradutores eliminaram trechos em
que o francês criticava o tratamento dispensado pelos americanos aos seus
escravos. De outro modo não conseguiriam atrair o público sulista adepto à
manutenção do escravismo.
Como podemos notar, as discussões em torno da possibilidade da abolição
da escravidão tornaram a “ciência racial” matéria de interesse dos escravagistas
e segregacionistas.
Os títulos dos livros de Gobineau e de John Campbell permitem afirmar
que a crítica à “igualdade entre as raças” era um dos principais motes dos
intelectuais racistas... Lynn Hunt destaca que o pensador francês chegou a
confessar a Tocqueville “o asco que lhe provocavam ‘os macacões sujos
(operários)’” que haviam atuado durante a revolução de 1848 na França. Já Campbell
não escondia sua aversão “a partilhar uma plataforma política com homens de
cor”.
A respeito dessas
manifestações preconceituosas, notamos escancarada “rejeição racial” que
contribuiu para o combate às ideias de “eliminação de diferença de classe”
defendida por agentes políticos que atuaram no meio das massas durante a
segunda metade do século XIX... Há que se destacar ainda que cada vez mais
buscou-se reforçar, além das noções de diferenças entre as “raças”, aquelas que
dizem respeito ao “sexo”.
(...)
Segundo a autora, o
“estabelecimento do sufrágio universal masculino”, a defesa da abolição dos escravos
e a “imigração em massa” tornaram a questão da igualdade mais concreta e uma ameaça
aos que reivindicavam a supremacia de uma parcela bem específica da sociedade.
(...)
Como
já salientado no começo da postagem, o período coincide com o do
Neocolonialismo marcado pelo imperialismo das potências europeias que
estabeleceram domínios na África e na Ásia... O livro destaca a conquista da
Argélia pelos franceses em 1830... O vasto território do norte africano foi
incorporado à França. Os ingleses já haviam conquistado Cingapura em 1819, mais
tarde (1840) anexaram a Nova Zelândia ao seu controle e reforçaram a submissão
da Índia.
A respeito da “partilha da África”, pode se dizer que praticamente não
restou território autônomo, já que o imenso continente foi dividido entre
França, Inglaterra, Alemanha, Itália, Bélgica, Espanha e Portugal. Sabe-se que
em diversos casos, as potências estrangeiras levaram “mais atraso” aos
africanos, já que destruíram “as indústrias locais em favor das importações do
centro imperial”.
Em “A Invenção dos Direitos
Humanos” lemos que os europeus acabaram tirando como lição de todas essas
conquistas a de que “tinham o direito – e o dever – de ‘civilizar’ os lugares
bárbaros e mais atrasados que governavam”.
Para problematizar a afirmação contida no
parágrafo anterior, sugerimos a leitura de https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2012/02/consideracoes-sobre-o-neocolonialismo.html.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma_18.html
Leia: A
Invenção dos Direitos Humanos. Companhia das Letras.
Um
abraço,
Prof.Gilberto