quinta-feira, 22 de abril de 2021

“A Ópera de Três Vinténs” – peça de Bertold Brecht musicada por Kurt Weill – retomando o texto da peça – Jenny é destratada por Célia Peachum e responde com ameaças; também o velho Peachum ouve poucas e boas; uma fala em defesa do “cavalheirismo” do Mac Navalha revela o segredo de seu paradeiro; terceira estrofe da “Balada da Servidão Sexual”


No final da última postagem sobre o texto da peça vimos que Filch anunciou a chegada de prostitutas de Turnbridge à reunião dos mendigos. Em tom de deboche, disse à Senhora Peachum que “uma dúzia de galinhas pernoitadas” afirmavam que vinham buscar dinheiro.
Jenny estava à frente e se aproximou da mãe de Polly... Tratou-a por “distinta senhora” iniciando sua petição, mas foi grosseiramente interrompida pela outra que já foi falando que as garotas estavam “com uma cara de galinha que caiu do poleiro”... Perguntou-lhes se estavam ali para receber a recompensa pela captura do Macheath. Se era isso, deviam saber que não receberiam absolutamente nada.
(...)
Por essa elas não esperavam... Jenny quis que a dona Célia se explicasse melhor. Esta lhe respondeu que as moças estavam invadindo o seu “ninho no meio da madrugada”. Como ousavam “entrar numa casa de família às três da madrugada”? Estavam “com cara de leite vomitado” e melhor fariam se descansassem da jornada que tiveram à noite.
A mulher não podia ter sido mais clara... Jenny entendeu que havia sido traída e que não receberiam o dinheiro prometido pela prisão do Mac Navalha. Dona Célia confirmou e emendou que elas estavam atrás do “salário de Judas” (pois traíram seu cliente predileto).
Jenny perguntou sobre o motivo de estarem sendo ludibriadas... A resposta foi curta e grossa: o “digníssimo Macheath” escapou da prisão! Então as “caras damas” deviam sair imediatamente de sua “requintada loja”.
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É claro que Jenny não aceitou a explicação. Disse que era um cúmulo serem tratadas daquele modo e aconselhou a mulher a não as tratar assim. Em tom de ameaça avisou que com elas não se podia falhar nos acordos firmados. Dona Célia não deu ouvidos e chamou Filch para “acompanhar as damas até a porta”.
Filch foi empurrado por Jenny assim que se colocou diante das moças. Depois ela vociferou que Dona Célia “fechasse a latrina”... Ia anunciar uma ameaça, mas foi interrompida pela entrada de Peachum. Este quis saber o que estava acontecendo e foi dizendo que esperava que nenhum dinheiro tivesse sido entregue às moças. Na sequência provocou-as perguntando se sabiam se Macheath estava na prisão ou não.
Jenny respondeu com agressividade e disse que o velho devia parar de “encher o saco com aquela ideia fixa no Macheath”. Será que não via que sequer chegava aos pés do Navalha? Na sequência confessou que teve de “dispensar um cliente” porque não conseguia parar de chorar só de pensar que o havia “vendido” para ele e à senhora Peachum.
Dirigindo-se às companheiras, Jenny confessou que depois de adormecer de tanto que havia chorado, ouviu o assobio do Macheath desde a calçada implorando que lhe jogasse a chave, pois queria fazê-la “esquecer a desgraça que lhe causara”. Isso já era suficiente para que todas entendessem que o Navalha se tratava do “último cavalheiro de Londres”...
Jenny acabou fazendo uma importante revelação que interessava ao velho Peachum. Ela perguntou às companheiras se sabiam o motivo de Suky Tawdry não se encontrar entre elas naquele momento e explicou que, após o Navalha deixá-la, dirigiu-se “à casa dela para consolá-la também”.
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O leitor pode até ficar em dúvida se a revelação “escapou sem querer” da boca de Jenny ou se ela quis mesmo entregar o paradeiro do Navalha... As próximas postagens esclarecerão mais essa questão.
No momento importa saber que ela finalizou sua narrativa voltando a provocar o velho Peachum, a quem chamou de “delator infame” que, após saber um pouco mais de Macheath, podia ter certeza de que não podia chegar aos seus pés.
Peachum conversou rapidamente com Filch, orientando-o a correr ao posto de polícia mais próximo para denunciar que Macheath podia ser encontrado “na casa da senhorita Suky Tawdry. Depois o velho voltou-se para as garotas de Turnbridge para tranquilizá-las... Por que brigar? Podiam ficar tranquilas que o dinheiro seria pago... À esposa disse que ela não devia ficar de insultos com as senhoras. Em vez disso, devia preparar-lhes um café.
(...)
A Senhora Peachum se retirou exclamando o nome de Suky Tawdry. Na sequência cantou “a terceira estrofe da ‘Balada da Servidão Sexual’”.

“Balada da Servidão Sexual” – Terceira Estrofe

“Para a forca corre a sua estrada,
Já a cal, para caiá-lo, está comprada!
Por um cabelo pende sua vida,
Mas continua a mente atrevida!
Perto do fim ainda ergue-se o animal:
É esta a servidão sexual.
         Um Judas feminino o despachou.
         Até que, finalmente, ele viu:
         Buraco da mulher se lhe tornou
         Em tal buraco que o coveiro abriu.
         Mas mesmo assim, com todo este azar,
         Seu esporte é trepar.”

Leia: “A ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um abraço,
Prof.Gilberto

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