Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_10.html antes
de ler esta postagem:
No
texto da peça lemos que o chefe Brown estava extremamente preocupado na prisão
de Old Bailey... Numa de suas falas fica claro que ele não gostaria que os policiais
de sua equipe capturassem o Navalha. Sua torcida era para que o velho amigo já tivesse
atravessado o pântano de Highgate.
O que podia fazer senão se desesperar? Sabia que Jackie era mesmo
descuidado... Aliás, entendia que isso era bem próprio dos “grandes homens”.
Não aguentaria fitar os olhos do amigo aprisionado, pois pensava que seus “olhos
de cão fiel” o deixariam deveras angustiado.
Mas pelo menos restava a
noite iluminada pela boa lua. E Brown alimentou a esperança de que a fuga pelo
pântano fosse segura, assim o amigo não se perderia. Suas elocubrações foram
interrompidas por um ruído que parecia anunciar a chegada de um novo preso. Meu
Deus! Será que já o teriam capturado?
(...)
De fato, seis policiais traziam o Navalha amarrado com
cordas grossas... Nenhum desespero em seus gestos. Em vez disso, a arrogância
de sempre. Ofendeu os tiras chamando-os de “bundas-moles” e reconheceu que
retornava à “velha mansão”...
Dizia essas coisas ao mesmo tempo em que notava que o Brown se escondia
a um canto da cela.
Sem ter como se esquivar, o chefe de polícia foi logo
se justificando ao amigo... Disse-lhe que não tinha nada a ver com sua captura
e que, pelo contrário, fizera de tudo para evitá-la... Brown mal conseguia
falar ou terminar suas frases, já que não suportava sequer encarar seu velho
camarada de frente, ainda mais naquela condição humilhante. Suplicou-lhe que
não o fitasse, pois não aguentava... Também seu silêncio o angustiava...
Visivelmente desnorteado, gritou chamando a atenção de um dos tiras... Chamou-o
de porco e vociferou que não precisava “arrastá-lo”, e ainda mais com uma corda.
Voltando-se ao Navalha, implorou que lhe dissesse algo. O pobre “Jackie”
precisava ouvi-lo. Mas sem obter qualquer murmúrio de Mackie Navalha, Brown
encostou a cabeça na parede e chorou, pois entendia que o outro não o achava “digno
sequer de uma palavra”.
(...)
Brown retirou-se amargurado...
O Navalha então pôs-se a
dizer o que pensava... Falou que o Brown era um tipo asqueroso, a “má consciência
em pessoa”... E pensar que aquele tipo era o “supremo chefe de polícia”! Era
demais!
A favor de si mesmo, o
bandido considerou que fez muito bem em não gritar com ele. Seu “olhar profundo
e punidor” bastaram. Tanto é que o outro se “desmanchou em lágrimas”. Pelo menos
isso aprendera com suas leituras da Bíblia.
(...)
O
policial Smith chegou com as algemas... Mac Navalha observou que eram bem
pesadas e protestou. Depois disse que preferia algo mais leve e retirou o talão
de cheques. O tira adiantou que tinha algemas de vários preços, de um a dez
guinéus. Dependia do quanto o detento pretendia gastar.
O Navalha não pretendia nenhuma algema e foi isso o que disse ao tira.
Smith respondeu que “nenhuma algema” custava cinquenta guinéus. No mesmo
momento o cheque foi preenchido.
(...)
Neste ponto ficamos sabendo
de uma revelação surpreendente... Algo que não foi reproduzido pelo filme.
O texto da peça mostra o Navalha preocupado... Ao
preencher o cheque para se libertar de algemas, disse que o pior era saber que
em breve todos ficariam sabendo de sua “história com a Lucy”. Se a contassem
para o Brown estaria mesmo perdido.
É que essa Lucy era simplesmente a filha do chefe de polícia. Ao saber
que aprontara com ela, Brown se tornaria um “tigre de verdade” contra Mackie
Navalha.
Smith que a tudo ouvira, sentenciou que “quem faz sua
cama, nela se deita”... Mac Navalha introduziu uma nova canção dizendo que
certamente “aquela vagabunda” já estaria esperando lá fora. Voltando-se para o
público, declama a introdução que segue:
“Que belos dias até
a execução!
Julgai,
senhores, isso lá é vida?
Não acho graça
onde não a tem.
Já cedo aprendi
a lição devida:
Só na fartura é
que se vive bem.”
(...)
Do alto alguns refletores iluminam uma barra que
apresenta um letreiro: “Balada da Boa Vida”... Mas isso fica para a próxima
postagem sobre o filme.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_12.html
Leia: “A
ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um
abraço,
Prof.Gilberto