domingo, 11 de abril de 2021

“A Ópera de Três Vinténs” – peça de Bertold Brecht musicada por Kurt Weill – retomando o texto da peça – Brown é todo lamentação em Old Bailey e torce para que o Navalha consiga escapar a salvo; o bandido é levado à cela e o inesperado reencontro revela um chefe de polícia traumatizado pela prisão; desabafo do Navalha sobre a covardia de Brown; comprando “nenhuma algema”; revelação bombástica sobre crime envolvendo a filha do chefe de polícia; introdução à “Balada da Boa Vida”


No texto da peça lemos que o chefe Brown estava extremamente preocupado na prisão de Old Bailey... Numa de suas falas fica claro que ele não gostaria que os policiais de sua equipe capturassem o Navalha. Sua torcida era para que o velho amigo já tivesse atravessado o pântano de Highgate.
O que podia fazer senão se desesperar? Sabia que Jackie era mesmo descuidado... Aliás, entendia que isso era bem próprio dos “grandes homens”. Não aguentaria fitar os olhos do amigo aprisionado, pois pensava que seus “olhos de cão fiel” o deixariam deveras angustiado.
Mas pelo menos restava a noite iluminada pela boa lua. E Brown alimentou a esperança de que a fuga pelo pântano fosse segura, assim o amigo não se perderia. Suas elocubrações foram interrompidas por um ruído que parecia anunciar a chegada de um novo preso. Meu Deus! Será que já o teriam capturado?
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De fato, seis policiais traziam o Navalha amarrado com cordas grossas... Nenhum desespero em seus gestos. Em vez disso, a arrogância de sempre. Ofendeu os tiras chamando-os de “bundas-moles” e reconheceu que retornava à “velha mansão”...
Dizia essas coisas ao mesmo tempo em que notava que o Brown se escondia a um canto da cela.
Sem ter como se esquivar, o chefe de polícia foi logo se justificando ao amigo... Disse-lhe que não tinha nada a ver com sua captura e que, pelo contrário, fizera de tudo para evitá-la... Brown mal conseguia falar ou terminar suas frases, já que não suportava sequer encarar seu velho camarada de frente, ainda mais naquela condição humilhante. Suplicou-lhe que não o fitasse, pois não aguentava... Também seu silêncio o angustiava...
Visivelmente desnorteado, gritou chamando a atenção de um dos tiras... Chamou-o de porco e vociferou que não precisava “arrastá-lo”, e ainda mais com uma corda. Voltando-se ao Navalha, implorou que lhe dissesse algo. O pobre “Jackie” precisava ouvi-lo. Mas sem obter qualquer murmúrio de Mackie Navalha, Brown encostou a cabeça na parede e chorou, pois entendia que o outro não o achava “digno sequer de uma palavra”.
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Brown retirou-se amargurado...
O Navalha então pôs-se a dizer o que pensava... Falou que o Brown era um tipo asqueroso, a “má consciência em pessoa”... E pensar que aquele tipo era o “supremo chefe de polícia”! Era demais!
A favor de si mesmo, o bandido considerou que fez muito bem em não gritar com ele. Seu “olhar profundo e punidor” bastaram. Tanto é que o outro se “desmanchou em lágrimas”. Pelo menos isso aprendera com suas leituras da Bíblia.
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O policial Smith chegou com as algemas... Mac Navalha observou que eram bem pesadas e protestou. Depois disse que preferia algo mais leve e retirou o talão de cheques. O tira adiantou que tinha algemas de vários preços, de um a dez guinéus. Dependia do quanto o detento pretendia gastar.
O Navalha não pretendia nenhuma algema e foi isso o que disse ao tira. Smith respondeu que “nenhuma algema” custava cinquenta guinéus. No mesmo momento o cheque foi preenchido.
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Neste ponto ficamos sabendo de uma revelação surpreendente... Algo que não foi reproduzido pelo filme.
O texto da peça mostra o Navalha preocupado... Ao preencher o cheque para se libertar de algemas, disse que o pior era saber que em breve todos ficariam sabendo de sua “história com a Lucy”. Se a contassem para o Brown estaria mesmo perdido.
É que essa Lucy era simplesmente a filha do chefe de polícia. Ao saber que aprontara com ela, Brown se tornaria um “tigre de verdade” contra Mackie Navalha.
Smith que a tudo ouvira, sentenciou que “quem faz sua cama, nela se deita”... Mac Navalha introduziu uma nova canção dizendo que certamente “aquela vagabunda” já estaria esperando lá fora. Voltando-se para o público, declama a introdução que segue:

                   “Que belos dias até a execução!
                   Julgai, senhores, isso lá é vida?
                   Não acho graça onde não a tem.
                   Já cedo aprendi a lição devida:
                   Só na fartura é que se vive bem.”

(...)
Do alto alguns refletores iluminam uma barra que apresenta um letreiro: “Balada da Boa Vida”... Mas isso fica para a próxima postagem sobre o filme.
Leia: “A ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um abraço,
Prof.Gilberto

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